14.08.2015 Views

COSMOS

cosmos_de_carl_sagan

cosmos_de_carl_sagan

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

A Harmonia dos Mundos - 65pais objeções à idéia de que a Terra girava era o fato das pessoasnão sentirem o movimento. No Somnium ele tentou mostrar arotação da Terra como plausível, dramática e compreensível."Enquanto a multidão não errar... eu estarei ao lado deles.Portanto, tenho vários problemas para explicar a tantas pessoasquanto possível." (Em outra ocasião, escreveu em uma carta: "Nãome condenem totalmente à roda do moinho dos cálculosmatemáticos — dêem-me tempo para especulações filosóficas,meu único deleite."*)Com a invenção do telescópio, aquilo que Kepler chamoude "geografia lunar" estava se tornando possível. No Somnium,descreveu a Lua como repleta de montanhas e vales, e como"porosa, como se cavada com buracos e cavernas contínuas", umareferência às crateras lunares que Galileo tinha descobertorecentemente com o primeiro telescópio astronômico. Tambémimaginou que a Lua tinha habitantes, bem adaptados àsinclemências do ambiente local. Descreveu a lenta rotação daTerra vista da superfície lunar e imaginou os continentes e oceanosdo nosso planeta produzindo alguma imagem associativa como oHomem na Lua. Visualizou a proximidade do Sul da Espanha como Norte da África, no estreito de Gibraltar, como uma jovem mulherem um vestido encorpado esperando o seu amor para ser beijada— embora me pareça mais como narizes se roçando.Por causa da duração do dia e da noite lunares, Keplerdescreveu "as grandes imoderações de clima e alterações maisviolentas de calor e frio extremos na Lua" que estavam inteiramentecorretas. Mas nem tudo estava certo. Ele acreditou, porexemplo, que havia uma atmosfera lunar substancial, e oceanos ehabitantes. O mais curioso na sua visão da origem das crateraslunares que formavam a Lua, ele disse, era que "não pareciadiferente do rosto de um menino desfigurado pela varíola".Sustentou, com correção, que as crateras seriam depressões e nãomontículos. Pelas suas próprias observações notou as muralhascircundando muitas crateras e a existência de picos centrais, maspensou que suas formas circulares regulares implicavam em umgrau de ordem que somente a vida inteligente poderia explicá-las.Não compreendeu que as grandes rochasrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr*Brahe, como Kepler, não hostilizava a astrologia, embora cuidadosamentedistinguisse sua única versão secreta de astrologia das variações mais comuns dasua época, que ele tinha como condutoras à superstição. Em seu livro, AstronomiaeInstauratae Mechanica, publicado em 1598, sustentou que a astrologia é "realmentemais digna de confiança do que se pensa", se o mapeamento da posição dasestrelas fosse apropriadamente ampliado. Brahe escreveu: "Ocupei-me com aalquimia, assim como com minhas pesquisas celestes, desde meu 23.° ano". Massentiu que ambas estas pseudociências encerravam segredos muito perigosos parao povo em geral (embora inteiramente seguro nas mãos de príncipes e reis asquais ele recorria). Brahe continuou a longa e verdadeiramente perigosa tradiçãode alguns cientistas que acreditavam que somente eles e os poderes temporais eeclesiásticos podiam ser confiados pelo conhecimento misterioso. "Não serve anenhum propósito útil e é intolerável tornar certas coisas conhecidas por todos."Kepler, por outro lado, ensinou astronomia em escolas, publicou muitas vezes àssuas próprias custas, e escreveu ficção científica, que certamente não era aintenção primeira dos seus companheiros cientistas. Talvez não tenha sido, nosmoldes atuais, um escritor popular de ciência, mas a transição de atitudes em umaúnica geração entre Tycho e Kepler é reconhecida.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!