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eceberam algumas cartas e revistas. Agora, estamos passeando em direção ao<br />
campo que fica atrás das barracas. Kropp leva <strong>de</strong>baixo do braço a tampa <strong>de</strong> um<br />
barril <strong>de</strong> margarina. Do lado direito do gramado, construíram gran<strong>de</strong>s latrinas,<br />
com telhado e tudo, uma construção sólida. Mas isto é para os recrutas, que ainda<br />
não apren<strong>de</strong>ram a tirar vantagem <strong>de</strong> qualquer coisa. Nós procuramos coisa<br />
melhor. Por todos os lados, existem pequenas caixas individuais para o mesmo<br />
fim. Elas são quadradas, limpas, <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, hermeticamente fechadas, com<br />
assentos irrepreensíveis e confortáveis. Têm alças dos lados, a fim <strong>de</strong> serem<br />
transportadas.<br />
Juntamos três <strong>de</strong>las numa roda e instalamo-<strong>no</strong>s comodamente. Não <strong>no</strong>s<br />
levantaremos daqui antes <strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s duas horas.<br />
Ainda me lembro <strong>de</strong> como ficávamos envergonhados <strong>no</strong> princípio, quando<br />
éramos recrutas do quartel, obrigados a usar a latrina comum. Lá não há portas, e<br />
vinte homens sentam-se uns ao lado dos outros, como num trem. Assim, basta um<br />
olhar apenas para controlá-los: o soldado <strong>de</strong>ve ficar permanentemente sob<br />
vigilância.<br />
Des<strong>de</strong> então, apren<strong>de</strong>mos a dominar mais do que este peque<strong>no</strong> sentimento<br />
<strong>de</strong> pudor. Com o passar do tempo, acostumamo-<strong>no</strong>s a muitas coisas...<br />
Aqui, ao ar livre, <strong>no</strong> entanto, a coisa é um verda<strong>de</strong>iro prazer. Não sei mais<br />
por que antigamente <strong>no</strong>s envergonhávamos tanto <strong>de</strong> funções que, afinal, são tão<br />
naturais quanto comer e beber. Talvez agora não fosse preciso mencioná-las, se<br />
não <strong>de</strong>sempenhassem um papel tão importante para nós, se não fossem uma<br />
<strong>no</strong>vida<strong>de</strong>, pois para os vetera<strong>no</strong>s já eram naturais há muito tempo ― fatos sem<br />
nenhuma importância.<br />
Para o soldado, o seu estômago e a sua digestão são um setor muito mais<br />
familiar do que para qualquer outro cidadão. Setenta e cinco por cento do seu<br />
vocabulário vem daí, e tanto o sentimento <strong>de</strong> maior alegria como o da mais<br />
profunda indignação têm neles as mais vigorosas expressões. Não é possível<br />
empregar outras palavras tão sucintas e tão claras. Nossas famílias e <strong>no</strong>ssos<br />
professores ficarão admirados quando voltarmos para casa, mas aqui fora é<br />
sempre urna língua universal.<br />
Para nós, todos esses acontecimentos retomaram a velha i<strong>no</strong>cência pela sua<br />
obrigatorieda<strong>de</strong>. Mais ainda: tornaram-se tão naturais, que sua confortável<br />
execução é tão valiosa para nós quanto, digamos, um abrigo bem feito para<br />
quatro, à prova <strong>de</strong> bombas. Não é à toa que a expressão “conversa <strong>de</strong> privada” foi<br />
inventada para <strong>de</strong>screver mexericos <strong>de</strong> todo tipo; estes lugares são o ponto <strong>de</strong><br />
encontro dos boateiros e, na tropa, substituem a mesa <strong>de</strong> bar.<br />
No momento, sentimo-<strong>no</strong>s melhor do que em qualquer reservado <strong>de</strong> luxo,<br />
todo ladrilhado <strong>de</strong> branco. Lá, tudo po<strong>de</strong> ser muito higiênico, mas aqui é<br />
agradável.<br />
São horas maravilhosas <strong>de</strong> <strong>de</strong>vaneio. Acima <strong>de</strong> nós, o céu azul. No<br />
horizonte, suspensos, balões cativos amarelos, iluminados pelo sol, e as pequenas