13.04.2013 Views

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Apenas as sobras que a colher não alcança são <strong>de</strong>spejadas nas latas <strong>de</strong> lixo.<br />

Às vezes, juntam-se a elas algumas cascas <strong>de</strong> nabo, crostas <strong>de</strong> pão mofadas e<br />

sujeira <strong>de</strong> toda a espécie.<br />

E este ralo, sujo e miserável lixo é o objetivo dos prisioneiros. Eles o<br />

retiram avidamente, colocando-o em latas fedorentas, que levam escondidas<br />

<strong>de</strong>baixo das camisas.<br />

É estranho ver esses <strong>no</strong>ssos inimigos tão <strong>de</strong> perto. Têm rostos que <strong>no</strong>s<br />

fazem refletir: são rostos bonachões <strong>de</strong> bons camponeses, testas largas, narizes<br />

largos, lábios grossos, mãos gran<strong>de</strong>s e cabelos crespos. É gente para arar a terra e<br />

ceifar e colher maçãs. Têm um ar ainda mais i<strong>no</strong>fensivo que os <strong>no</strong>ssos<br />

camponeses da Frigia.<br />

É triste ver seus movimentos e o modo como mendigam um pouco <strong>de</strong><br />

comida. Estão todos um tanto enfraquecidos, porque recebem apenas o<br />

indispensável para não morrerem <strong>de</strong> fome. Há muito tempo que nós mesmos não<br />

recebemos o bastante para <strong>no</strong>s satisfazermos. Eles têm disenteria, seus olhares são<br />

medrosos, alguns mostram furtivamente as fraldas da camisa ensangüentadas.<br />

Suas costas, suas nucas estão recurvadas, os joelhos dobram-se; olham<br />

obliquamente <strong>de</strong> baixo para cima, quando esten<strong>de</strong>m a mão para mendigar,<br />

agra<strong>de</strong>cendo com as poucas palavras que sabem <strong>de</strong> alemão ― mendigam com as<br />

vozes suaves, baixas e musicais, que evocam as lareiras quentes e os quartos<br />

aconchegantes <strong>de</strong> casa.<br />

Há homens que lhes dão pontapés até caírem <strong>no</strong> chão; mas estes são uma<br />

mi<strong>no</strong>ria. A maior parte dos <strong>no</strong>ssos <strong>de</strong>ixa-os em paz.<br />

É bem verda<strong>de</strong> que, às vezes, ao vê-los se humilharem tanto, a gente fica<br />

com raiva e distribui alguns pontapés... Se ao me<strong>no</strong>s eles não <strong>no</strong>s olhassem <strong>de</strong>sta<br />

maneira ― quanta miséria cabe nestes dois pontinhos negros, nestes olhos que<br />

apenas um polegar conseguiria cobrir!<br />

À <strong>no</strong>ite, vêm até os alojamentos e procuram fazer barganhas. Trocam tudo<br />

que têm por pão. Às vezes, são bemsucedidos, porque suas botas são <strong>de</strong> muito boa<br />

qualida<strong>de</strong>, ao passo que as <strong>no</strong>ssas nada valem. O couro <strong>de</strong> suas botas <strong>de</strong> ca<strong>no</strong><br />

longo é macio como a camurça. Nós, os filhos <strong>de</strong> camponeses que recebem as<br />

comidas gostosas <strong>de</strong> casa, po<strong>de</strong>mo-<strong>no</strong>s dar ao luxo <strong>de</strong> fazer negócio: o preço <strong>de</strong><br />

um par <strong>de</strong> botas é <strong>de</strong> mais ou me<strong>no</strong>s dois ou três pães, ou um pão e uma salsicha<br />

<strong>de</strong>fumada. Mas quase todos os russos já se <strong>de</strong>sfizeram há muito tempo daquilo<br />

que tinham. Vestem apenas roupas miseráveis e tentam trocar peque<strong>no</strong>s entalhes e<br />

objetos que fizeram <strong>de</strong> estilhaços <strong>de</strong> granadas e pedaços <strong>de</strong> cobre das anilhas.<br />

Estes objetos, naturalmente, não ren<strong>de</strong>m muito, mesmo que lhes tenham custado<br />

muito trabalho-conseguem, <strong>no</strong> máximo, algumas fatias <strong>de</strong> pão. Nossos<br />

camponeses são teimosos e espertos quando pechincham. Seguram o pedaço <strong>de</strong><br />

pão ou a salsicha durante muito tempo sob o nariz dos russos, até que<br />

empali<strong>de</strong>çam <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo e os olhos se revirem; então, nada mais importa para eles.<br />

Quanto aos prisioneiros, embrulham com toda a cerimônia aquilo que

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!