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Nada de novo no front(pdf)

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as árvores diminuem; estas tornam-se um só bloco, e, por um instante, vejo<br />

apenas uma; <strong>de</strong>pois, reaparecem à frente da primeira e <strong>de</strong>stacam-se numa linha<br />

comprida, tendo ao fundo o céu, até ficarem escondidas pelas primeiras casas.<br />

Uma passagem <strong>de</strong> nível. Fico na janela, não consigo me afastar <strong>de</strong>la. Os<br />

outros arrumam suas coisas para <strong>de</strong>sembarcar. Repito para mim mesmo a meiavoz<br />

o <strong>no</strong>me da rua que atravessamos. Vejo ciclistas e homens que passam; é uma<br />

rua cinzenta e um subterrâneo cinzento ― abraçam-me como se fossem minha<br />

mãe.<br />

Então o trem pára, e lá está a estação, cheia <strong>de</strong> ruídos, gritos e cartazes.<br />

Apanho a minha mochila e prendo-a <strong>no</strong>s ombros, pego meu fuzil e <strong>de</strong>sço os<br />

<strong>de</strong>graus aos tropeções.<br />

Na plataforma, olho em redor; não conheço nenhuma <strong>de</strong>ssas pessoas que<br />

correm <strong>de</strong> um lado para o outro. Uma enfermeira da Cruz Vermelha oferece-me<br />

algo para beber. Afasto-me; ela sorri, com um ar tolo, toda convencida <strong>de</strong> sua<br />

importância. Ela me chama <strong>de</strong> “companheiro”; era só o que me faltava! Mas, fora<br />

da estação, do outro lado da rua, o riacho borbulha; brota, espumante e branco,<br />

das eclusas <strong>de</strong> um moinho. A velha torre quadrada do vigia ergue-se bem em<br />

frente da tília colorida; e, lá atrás, o entar<strong>de</strong>cer.<br />

Aqui <strong>no</strong>s sentávamos muitas vezes... há quanto tempo! Atravessávamos<br />

esta ponte e respirávamos o cheiro úmido e acre da água estagnada; <strong>de</strong>bruçávamo<strong>no</strong>s<br />

sobre a mansa corrente <strong>de</strong>ste lado da represa, on<strong>de</strong> as trepa<strong>de</strong>iras ver<strong>de</strong>s<br />

entrelaçavam-se com as algas penduradas das pilastras da ponte; e, <strong>no</strong>s dias<br />

quentes, do outro lado da represa, brincávamos com os esguichos <strong>de</strong> espuma e<br />

falávamos dos <strong>no</strong>ssos professores.<br />

Atravesso a ponte; olho para a direita e para a esquerda; a água continua<br />

cheia <strong>de</strong> algas e ainda jorra ruidosamente, caindo em arcos brancos e reluzentes.<br />

Na velha torre estão as passa<strong>de</strong>iras, como <strong>no</strong>s velhos tempos, com os braços<br />

<strong>de</strong>scobertos diante da roupa branca, e o calor dos ferros <strong>de</strong> engomar sai em<br />

golfadas pelas janelas abertas. Cachorros andam pela rua estreita; nas portas das<br />

casas, há pessoas que me vêem passar, sujo e carregado.<br />

Era nesta confeitaria que costumávamos tomar sorvete, e aqui apren<strong>de</strong>mos<br />

a fumar. Caminhando pela rua, reconheço todas as casas: a mercearia, a farmácia,<br />

a padaria. E, finalmente, aqui estou, diante da porta escura, com a maçaneta já<br />

gasta, e a minha mão torna-se pesada. Abro a porta e um maravilhoso frescor me<br />

recebe, vem ao meu encontro, fazendo meus olhos se semicerrarem. Sob minhas<br />

botas, a escada range. Lá em cima, abre-se uma porta, alguém espia por cima do<br />

corrimão. Foi a porta da cozinha que acabaram <strong>de</strong> abrir; estão fritando bolinhos <strong>de</strong><br />

batata; a casa toda cheira a bolinhos: é claro, hoje é sábado; <strong>de</strong>ve ser minha irmã<br />

que se <strong>de</strong>bruça lá em cima. Por um instante fico envergonhado e baixo a cabeça;<br />

<strong>de</strong>pois, tiro o capacete e olho para cima. Sim, é minha irmã mais velha.<br />

― Paul! ― grita ela. ― Paul!<br />

Ace<strong>no</strong> com a cabeça, minha mochila esbarra <strong>no</strong> corrimão, o fuzil está tão

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