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Nada de novo no front(pdf)

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morto, com o peito encostado na trincheira, seu rosto está ver<strong>de</strong> como um limão, e<br />

<strong>no</strong> meio da barba cerrada ainda ar<strong>de</strong> um cigarro, que continua queimando até<br />

apagar-se <strong>no</strong>s seus lábios.<br />

Por ora, colocamos os mortos numa gran<strong>de</strong> cratera. Até o momento, já<br />

empilhamos três camadas.<br />

De repente, o fogo recomeça. Em breve, estamos <strong>no</strong>vamente sentados na<br />

fixi<strong>de</strong>z tensa da espera inativa.<br />

Ataque, contra-ataque, ofensiva, contra-ofensiva... Que significam, na<br />

verda<strong>de</strong>, estas palavras? Per<strong>de</strong>mos muitos homens, sobretudo recrutas. No <strong>no</strong>sso<br />

setor, preenchem as vagas com reforços. É um dos <strong><strong>no</strong>vo</strong>s regimentos; são quase<br />

todos jovens, dos últimos contingentes. Quase não receberam instrução; só<br />

pu<strong>de</strong>ram fazer exercícios teóricos, antes <strong>de</strong> vir para o campo <strong>de</strong> batalha. Sabem o<br />

que é uma granada <strong>de</strong> mão, mas não têm a me<strong>no</strong>r idéia <strong>de</strong> como aproveitar o<br />

terre<strong>no</strong> como cobertura. Uma <strong>de</strong>pressão tem que ter pelo me<strong>no</strong>s meio metro para<br />

que reparem nela.<br />

Embora precisemos <strong>de</strong> reforços, os recrutas <strong>no</strong>s dão mais trabalho do que<br />

propriamente ajuda. Estão <strong>de</strong>spreparados para esse tipo <strong>de</strong> ataque e caem como<br />

moscas. A luta <strong>de</strong> posições que hoje se faz exige conhecimentos e experiência;<br />

tem que se conhecer o terre<strong>no</strong>, é necessário ter ouvido para os tiros, seus ruídos e<br />

seus efeitos; é preciso saber <strong>de</strong> antemão on<strong>de</strong> vão acertar, saber como se<br />

dispersarão os estilhaços e como se proteger <strong>de</strong>les.<br />

Estes jovens substitutos naturalmente ig<strong>no</strong>ram quase tudo isto. São abatidos<br />

porque, cheios <strong>de</strong> medo, ouvem o estrondo das granadas <strong>de</strong> grosso calibre que<br />

caem longe e não escutam o zunido ligeiro e vibrante dos peque<strong>no</strong>s monstros que<br />

se estilhaçam rente ao chão. Como as ovelhas, comprimem-se uns contra os<br />

outros, ao invés <strong>de</strong> se dispersarem, e os próprios feridos são abatidos como lebres<br />

pelos aviadores.<br />

Ah, as pálidas caras <strong>de</strong> nabo, as mãos crispadas, a valentia lamentável<br />

<strong>de</strong>sses pobres coitados, que, apesar <strong>de</strong> tudo, avançam e atacam; esses pobresdiabos<br />

corajosos, tão atemorizados que não ousam gritar e que, com o peito, o<br />

ventre, os braços e as pernas dilacerados, soluçam baixinho pelas suas mães e<br />

calam-se assim que se olha para eles!<br />

Seus rostos mortos, púberes, afilados têm a terrível inexpressivida<strong>de</strong> das<br />

crianças mortas.<br />

Sente-se um nó na garganta ao ver como saltam, correm e caem. Tenho<br />

vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> bater neles porque são tão bobos, mas, ao mesmo tempo, gostaria <strong>de</strong><br />

pegá-los <strong>no</strong> colo e levá-los para longe daqui: este não é o seu lugar. Vestem suas<br />

túnicas, calças e botas cinzentas, mas, para a maioria, a farda é larga <strong>de</strong>mais,<br />

flutuando-lhes ao redor dos membros; os ombros <strong>de</strong>masiado estreitos, os corpos<br />

<strong>de</strong>masiado peque<strong>no</strong>s. Não havia uniformes feitos para estas medidas <strong>de</strong> criança.<br />

Para cada vetera<strong>no</strong>, morrem <strong>de</strong> cinco a <strong>de</strong>z recrutas. Um ataque inesperado<br />

<strong>de</strong> gás ceifa a vida <strong>de</strong> muitos. Nem chegaram a apren<strong>de</strong>r o que fazer. Achamos

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