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― Agora, vou contar até três. Se não pararem, alguma coisa vai voar.<br />
― Daqui também ― acrescenta outro.<br />
Conto até cinco. Depois pego uma garrafa, faço pontaria e arremesso-a pela<br />
porta para o corredor. Quebra-se em mil pedaços. As orações param. Um enxame<br />
<strong>de</strong> Irmãs aparece, ralhando suavemente.<br />
― Fechem a porta! ― gritamos.<br />
Retiram-se. A que surgira há pouco é a última a sair. ― Ateus! ―<br />
resmunga, mas vai fechando a porta. Vencemos.<br />
Ao meio-dia, chega o inspetor do hospital e <strong>no</strong>s passa uma <strong>de</strong>scompostura.<br />
Ameaça-<strong>no</strong>s com ca<strong>de</strong>ia e não sei mais o quê. Ora, um inspetor <strong>de</strong> hospital, como<br />
qualquer outro inspetor, é alguém que usa uma espada comprida e ombreiras, mas<br />
não passa <strong>de</strong> um funcionário civil, e, assim, não é consi<strong>de</strong>rado oficial nem pelos<br />
recrutas. Por isso, <strong>de</strong>ixamolo falar. Aliás, não <strong>no</strong>s po<strong>de</strong>m fazer mais nada.<br />
― Quem atirou a garrafa? ― pergunta.<br />
Antes que tenha tempo <strong>de</strong> resolver se <strong>de</strong>vo me acusar ou não, alguém diz:<br />
― Fui eu.<br />
Ergueu-se na cama um homem <strong>de</strong> barba crespa. Todos estão muito curiosos<br />
para saber por que ele se acusou. ― Foi você?<br />
― Sim, senhor. Fiquei irritado, porque <strong>no</strong>s acordaram sem razão, e perdi o<br />
controle; nem sabia mais o que estava fazendo.<br />
Suas palavras parecem sair <strong>de</strong> um livro.<br />
― Como se chama?<br />
― Reservista Josef Harnacher.<br />
O inspetor se retira. Todos estão intrigados. ― Por que disse que atirou a<br />
garrafa? Ele começa a rir.<br />
― Não faz mal. Tenho uma licença para caçar.<br />
Então, nós compreen<strong>de</strong>mos tudo. Se tem uma licença <strong>de</strong> caça, po<strong>de</strong> fazer o<br />
que quiser.<br />
― Sim ― explica-<strong>no</strong>s. ― Levei um tiro na cabeça, e, <strong>de</strong>pois disto, <strong>de</strong>ramme<br />
um atestado <strong>de</strong> que, <strong>de</strong> vez em quando, não sou responsável pelos meus atos.<br />
Des<strong>de</strong> então, faço o que bem entendo. É proibido me irritar. Assim, não me<br />
acontece nada. Aquele sujeito vai ficar danado. E eu me acusei porque gostei da<br />
história da garrafa. Se amanhã abrirem a porta outra vez, jogamos <strong>de</strong> <strong><strong>no</strong>vo</strong>.<br />
Estamos encantados. Com Josef Harnacher entre nós, po<strong>de</strong>mos arriscar<br />
tudo.<br />
Depois, vêm as tais macas silenciosas para <strong>no</strong>s buscar. As ataduras estão<br />
coladas na pele. Berramos como bezerros.<br />
Na <strong>no</strong>ssa enfermaria, há oito homens. Peter é o que está mais gravemente<br />
ferido; tem o cabelo preto revolto; levou um tiro <strong>no</strong> pulmão, é um caso