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― Olhe só os sapatinhos; ela não conseguiria marchar nem um quilômetro<br />
com eles ― digo, e logo sinto-me ridículo, porque é absurdo. Olhar para um<br />
cartaz assim e pensar apenas em marchar.<br />
― Que ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ter? ― pergunta Kropp.<br />
Arrisco:<br />
― No máximo, vinte e dois a<strong>no</strong>s, Albert.<br />
― Então, é mais velha do que nós. Garanto que não tem mais do que<br />
<strong>de</strong>zessete.<br />
Um arrepio percorre-<strong>no</strong>s o corpo.<br />
― Albert, isto não é para qualquer um... Que acha?<br />
Com a cabeça, faz um sinal <strong>de</strong> aprovação.<br />
― Lá em casa, também tenho uma calça branca.<br />
― Sim, calça branca, está certo ― digo eu -, mas uma garota assim...<br />
Olhamo-<strong>no</strong>s dos pés à cabeça. Não há muito para ver: um uniforme sujo,<br />
<strong>de</strong>sbotado, cheio <strong>de</strong> remendos. Não vale a pena comparar.<br />
Em seguida, raspamos da pare<strong>de</strong> o jovem da calça branca, cuidadosamente,<br />
para não atingir a garota. Já é alguma coisa. Depois Kropp propõe:<br />
― Po<strong>de</strong>ríamos tirar <strong>no</strong>ssos piolhos.<br />
Não me entusiasmo, porque as roupas ficam estragadas, e os piolhos voltam<br />
em duas horas. Mas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> olhar mais uma vez para o cartaz, <strong>de</strong>claro-me<br />
pronto a fazê-lo. Vou até mais longe:<br />
― E se arranjássemos uma camisa limpa?<br />
Albert, não sem razão, diz:<br />
― Ainda seria melhor um par <strong>de</strong> meias <strong>de</strong> lã.<br />
― Talvez meias, também. Vamos ver se conseguimos alguma coisa.<br />
Mas eis que Leer e Tja<strong>de</strong>n se aproximam: vêem o cartaz e, <strong>no</strong> mesmo<br />
instante, a conversa torna-se obscena. Leer foi o primeiro <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa turma a ter<br />
uma amante e <strong>no</strong>s contava <strong>de</strong>talhes excitantes das suas relações. À sua moda,<br />
entusiasmam-se com a gravura, e Tja<strong>de</strong>n imita-o com todo o fervor. Não é que<br />
isto <strong>no</strong>s <strong>de</strong>sagra<strong>de</strong> precisamente. Quem não é obsce<strong>no</strong> não é soldado, só que,<br />
neste momento, não estávamos com o espírito preparado para isto; esquivamo<strong>no</strong>s<br />
e dirigimo-<strong>no</strong>s para o posto <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfecção como quem vai a um alfaiate elegante.<br />
As casas on<strong>de</strong> estamos alojados ficam perto do canal. Na outra margem, há<br />
peque<strong>no</strong>s lagos cercados <strong>de</strong> choupos; lá também há mulheres. As casas do <strong>no</strong>sso<br />
lado foram evacuadas, mas do outro ainda se vêem habitantes, <strong>de</strong> vez em quando.<br />
À tar<strong>de</strong>, vamos nadar. Vemos três mulheres aproximarem-se da margem.<br />
Andam <strong>de</strong>vagar e não <strong>de</strong>sviam os olhares, mesmo vendo que não usamos calções.<br />
Leer chama-as. Elas riem e param para <strong>no</strong>s observar. Atiramos-lhes frases<br />
confusas, num mau francês, tudo que <strong>no</strong>s vem à cabeça, rapidamente, para evitar<br />
que elas se retirem. Não são lá gran<strong>de</strong> coisa, mas, também, que mais iríamos<br />
arranjar por aqui?