13.04.2013 Views

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r contra ela. Uma raiva louca <strong>no</strong>s anima, não esperamos mais in<strong>de</strong>fesos,<br />

impotentes, <strong>no</strong> cadafalso, mas po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>struir e matar, para <strong>no</strong>s salvarmos... e<br />

para <strong>no</strong>s vingarmos. Escon<strong>de</strong>mo-<strong>no</strong>s, abaixados atrás <strong>de</strong> cada canto, por trás <strong>de</strong><br />

cada <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> arame farpado, e, antes <strong>de</strong> corrermos, atiramos montes <strong>de</strong> granadas<br />

aos pés dos inimigos que avançam. O estampido das granadas <strong>de</strong> mão repercute<br />

po<strong>de</strong>rosamente <strong>no</strong>s <strong>no</strong>ssos braços e pernas. Corremos agachados como gatos,<br />

submersos por esta onda que <strong>no</strong>s arrasta, que <strong>no</strong>s torna cruéis, bandidos,<br />

assassi<strong>no</strong>s, até <strong>de</strong>mônios; esta onda que aumenta <strong>no</strong>ssa força pelo medo, pela<br />

fúria e pela avi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> vida, que procura lutar apenas pela <strong>no</strong>ssa salvação. Se seu<br />

próprio pai viesse com os do outro lado, você não hesitaria em atirarlhe uma<br />

granada em ple<strong>no</strong> peito.<br />

As primeiras trincheiras são abandonadas. Ainda são trincheiras? Estão<br />

<strong>de</strong>stroçadas, aniquiladas; são apenas restos <strong>de</strong> trincheiras, buracos unidos por<br />

caminhos, ninhos <strong>de</strong> cratera, nada mais. Mas as baixas do inimigo aumentam.<br />

Não contavam com tanta resistência.<br />

É meio-dia. O sol queima, asfixiante. O suor irrita-<strong>no</strong>s os olhos e o<br />

limpamos com as mangas; às vezes há sangue junto. Chegamos agora a uma<br />

trincheira em condições um pouco melhores. Está ocupada pelas <strong>no</strong>ssas tropas e<br />

preparada para o contra-ataque. Nossa artilharia intensifica o fogo e impe<strong>de</strong> o<br />

ataque inimigo, aferroando a posição.<br />

As linhas da retaguarda param. Não conseguem avançar. O ataque é<br />

paralisado pela <strong>no</strong>ssa artilharia.<br />

Ficamos à espreita. O fogo salta cem metros à frente ― retomamos a<br />

ofensiva. Ao meu lado, a cabeça <strong>de</strong> um cabo é arrancada. Ainda corre mais alguns<br />

passos, enquanto o sangue jorra-lhe do pescoço, como um repuxo.<br />

Não chega a haver combate corpo a corpo, porque os outros são obrigados<br />

a recuar. Alcançamos <strong>no</strong>vamente <strong>no</strong>ssos restos <strong>de</strong> trincheira e até a<br />

ultrapassamos.<br />

Oh! Esta reviravolta! Alcançamos as posições abrigadas da reserva,<br />

gostaríamos <strong>de</strong> rastejar para <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>las e <strong>de</strong>saparecer; em vez disso, somos<br />

obrigados a voltar e mergulhar <strong>no</strong>vamente <strong>no</strong> horror. Se não fôssemos autômatos<br />

nesses momentos, continuaríamos ali, <strong>de</strong>itados, exaustos, inertes. Mas somos <strong>de</strong><br />

<strong><strong>no</strong>vo</strong> arrastados para a frente, sem forças, mas ainda selvagens e furiosos;<br />

queremos matar, pois aqueles que estão à <strong>no</strong>ssa frente são <strong>no</strong>ssos inimigos<br />

mortais; seus fuzis e suas granadas estão apontados para nós; se não os<br />

exterminarmos, seremos <strong>de</strong>struídos por eles.<br />

A terra escura, rasgada, <strong>de</strong>stroçada, com seu brilho gorduroso sob os raios<br />

do sol, é o cenário <strong>de</strong>sse mundo agitado e sombrio <strong>de</strong> autômatos; <strong>no</strong>sso ofegar é o<br />

ranger das molas do mecanismo; os lábios estão ressequidos, a cabeça dói mais do<br />

que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>ite <strong>de</strong> pileque. É nesse estado que avançamos cambaleantes;<br />

em <strong>no</strong>ssas almas, crivadas e arrasadas, penetra, torturante e insistentemente, a<br />

imagem da terra escura sob o sol gorduroso, com os soldados mortos e os que

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!