13.04.2013 Views

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

uma.<br />

De repente, começo a tremer, com receio <strong>de</strong> que algo me possa acontecer<br />

neste intervalo. Não penso mais <strong>no</strong> morto; agora ele me é totalmente indiferente.<br />

De um instante para o outro, renasce o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> viver, e tudo que me propusera<br />

<strong>de</strong>saparece diante <strong>de</strong>le. É unicamente para não dar azar que ainda balbucio<br />

mecanicamente:<br />

― Farei tudo o que lhe prometi ― ... mas sei, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, que isto não é<br />

verda<strong>de</strong>.<br />

Subitamente, lembro-me <strong>de</strong> que meus próprios companheiros po<strong>de</strong>rão atirar<br />

em mim, quando eu me aproximar, rastejando; eles não po<strong>de</strong>m adivinhar quem<br />

sou. Logo que seja possível, gritarei para que reconheçam minha voz. Ficarei<br />

diante da trincheira, estendido, até que me respondam.<br />

Surge a primeira estrela. A frente continua tranqüila. Respiro fundo, e<br />

minha agitação é tal que falo sozinho:<br />

― Agora, nada <strong>de</strong> bobagens, Paul; calma, calma, Paul; se ficar tranqüilo,<br />

conseguirá salvar-se, Paul.<br />

O efeito produzido, quando pronuncio o meu <strong>no</strong>me, é o mesmo como se<br />

outra pessoa o fizesse, o resultado é muito maior.<br />

A escuridão aumenta. Aos poucos, minha agitação ce<strong>de</strong>. Por precaução,<br />

espero até que subam os primeiros foguetes lumi<strong>no</strong>sos. Então, arrasto-me para<br />

fora da cratera. Já esqueci o morto. Diante <strong>de</strong> mim, esten<strong>de</strong>-se a <strong>no</strong>ite que começa<br />

e o campo palidamente iluminado. Fixo o olhar num buraco <strong>de</strong> granada e, <strong>no</strong><br />

momento em que a luz se extingue, precipito-me lá para <strong>de</strong>ntro; tateando o<br />

caminho com todo o cuidado, chego ao próximo, abaixo-me e, assim, continuo a<br />

avançar.<br />

Aproximo-me. À luz <strong>de</strong> um foguete, vejo qualquer coisa que se mexe na<br />

re<strong>de</strong> <strong>de</strong> arame farpado; algo que <strong>de</strong>pois se imobiliza. Detenho-me, sem fazer<br />

ruído. Na próxima vez, tor<strong>no</strong> a ver o mesmo; com certeza, são companheiros que<br />

vêm da <strong>no</strong>ssa trincheira. Mas tomo muito cuidado, até reconhecer os <strong>no</strong>ssos<br />

capacetes. Então chamo, e, logo em seguida, ouve-se como resposta o meu <strong>no</strong>me:<br />

― Paul... Paul...<br />

Tor<strong>no</strong> a chamar. São Kat e Albert, que saíram com uma lona para me<br />

procurar.<br />

― Está ferido?<br />

― Não, não...<br />

Precipitamo-<strong>no</strong>s para a trincheira. Peço comida e <strong>de</strong>voro o que me<br />

oferecem. Müller me dá um cigarro. Em poucas palavras, conto o que aconteceu.<br />

Não é, na verda<strong>de</strong>, nada <strong>de</strong> extraordinário; têm ocorrido muitos fatos como este.<br />

A única <strong>no</strong>vida<strong>de</strong> é o ataque <strong>no</strong>tur<strong>no</strong>. Mas Kat, certa vez, na Rússia, ficou preso<br />

dois dias atrás da frente russa, sem po<strong>de</strong>r regressar.<br />

A morte do tipógrafo, eu a omito.<br />

Na semana seguinte, porém, não suporto mais, tenho <strong>de</strong> contá-lo a Kat e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!