13.04.2013 Views

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

o compreen<strong>de</strong>sse, este soldado com as gran<strong>de</strong>s botas e o coração endurecido, que<br />

marcha porque usa botas e porque se esqueceu <strong>de</strong> tudo ― só sabe marchar.<br />

Para além do horizonte, há flores e uma paisagem tão tranqüila que gostaria<br />

<strong>de</strong> chorar, o peque<strong>no</strong> soldado. Lá, há imagens que ele não esqueceu, porque nunca<br />

as possuiu ― são perturbadoras, mas estão perdidas para ele. Não é lá que estão<br />

seus vinte a<strong>no</strong>s?<br />

Meu rosto está molhado? Pergunto-me on<strong>de</strong> estou. Vejo Kat à minha<br />

frente; sua gigantesca sombra, toda recurvada, inclina-se sobre mim, como se<br />

fosse uma imagem da terra natal. Ele fala mansamente, sorri e volta à fogueira.<br />

Depois, pergunta:<br />

― Está pronto?<br />

― Sim, Kat.<br />

Saio do meu torpor. No meio do alpendre, brilha o ganso Já dourado.<br />

Apanhamos <strong>no</strong>ssos garfos dobráveis e <strong>no</strong>ssos canivetes, e cada um corta uma<br />

coxa; nós as comemos com pão, embebido <strong>no</strong> molho. Comemos <strong>de</strong>vagar,<br />

saboreando.<br />

― Está gostando, Kat?<br />

― Muito! E você?<br />

― Está ótimo, Kat.<br />

Somos irmãos e oferecemos um ao outro os melhores pedaços. Depois,<br />

fumo um cigarro, e Kat, um charuto. Ainda sobrou muito.<br />

― Que acha, Kat, <strong>de</strong> levarmos um pedaço para Kropp e Tja<strong>de</strong>n?<br />

― Apoiado ― respon<strong>de</strong>.<br />

Cortamos uns pedaços e, cuidadosamente, os embrulhamos em jornal.<br />

Decidimos levar o resto para a barraca, mas Kat ri e diz somente “Tja<strong>de</strong>n”.<br />

Compreendo: temos <strong>de</strong> levar tudo. Assim, seguimos até o galinheiro para<br />

acordar os dois. Antes, porém, guardamos as penas.<br />

Kropp e Tja<strong>de</strong>n tomam-<strong>no</strong>s por fadas encantadas. Então, começam a dar<br />

trabalho aos <strong>de</strong>ntes. Tja<strong>de</strong>n tem nas mãos uma asa, que leva à boca, como uma<br />

gaita; ele sorve a gordura da panela e diz, estalando a língua:<br />

― Nunca mais vou esquecer estes momentos.<br />

Voltamos para <strong>no</strong>ssa barraca. Lá está <strong>de</strong> <strong><strong>no</strong>vo</strong> o céu recoberto <strong>de</strong> estrelas e<br />

a alvorada que <strong>de</strong>sponta, e eu caminho sob esse céu, um soldado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s botas<br />

e <strong>de</strong> barriga cheia, um peque<strong>no</strong> soldado perdido na madrugada... mas, ao meu<br />

lado, curvado e anguloso, caminha Kat, meu companheiro.<br />

Os contor<strong>no</strong>s das barracas vêm até nós, na aurora, como um so<strong>no</strong> negro e<br />

profundo.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!