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Nada de novo no front(pdf)

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Esses educadores têm sempre os seus sentimentos prontos, na ponta da<br />

língua, e os ficam espalhando a todo instante, sob a forma <strong>de</strong> lições. Mas, naquela<br />

época, ainda não <strong>no</strong>s preocupávamos com isto.<br />

É verda<strong>de</strong> que um <strong>de</strong> nós vacilou e não quis acompanhar os <strong>de</strong>mais. Foi<br />

Josef Behm, um rapaz gordo e calmo. Finalmente, <strong>de</strong>ixou-se convencer, pois do<br />

contrário as coisas teriam ficado impossíveis para ele. Talvez houvesse outros que<br />

pensavam como ele, mas não ousaram proce<strong>de</strong>r <strong>de</strong> outra forma, pois, naquela<br />

época, até os <strong>no</strong>ssos próprios pais usavam facilmente a palavra “covar<strong>de</strong>”. As<br />

pessoas não tinham nenhuma idéia do que estava para vir. Os mais sensatos eram<br />

realmente os pobres, os simples: viram logo que a guerra era uma <strong>de</strong>sgraça,<br />

enquanto as classes mais altas não se continham <strong>de</strong> alegria, embora fossem elas<br />

justamente que <strong>de</strong>veriam ter previsto mais <strong>de</strong>pressa as suas conseqüências.<br />

Katczinsky insiste que isto é próprio da educação ― o excesso <strong>de</strong> estudo<br />

torna os homens burros. E, se Kat o afirma, é porque pensou muito antes <strong>de</strong> fazêlo.<br />

Estranhamente, Behm foi um dos primeiros a morrer. Durante um dos<br />

ataques foi atingido <strong>no</strong>s olhos por uma bala. Imaginando-o morto, nós o<br />

abandonamos <strong>no</strong> campo. Não pu<strong>de</strong>mos trazê-lo <strong>de</strong> volta, tão precipitada foi <strong>no</strong>ssa<br />

retirada. À tar<strong>de</strong>, repentinamente, nós o ouvimos chamar e vimos que tentava<br />

arrastar-se até as <strong>no</strong>ssas trincheiras. Per<strong>de</strong>ra, apenas, os sentidos. Por não<br />

conseguir ver e por estar louco <strong>de</strong> dor, não procurava cobertura, e por isso foi<br />

baleado antes que um dos <strong>no</strong>ssos pu<strong>de</strong>sse ir buscá-lo.<br />

É claro que não se po<strong>de</strong> responsabilizar Kantorek por tudo isto; que seria<br />

do mundo se a isto se chamasse culpa? Houve milhares <strong>de</strong> Kantoreks, todos<br />

convencidos <strong>de</strong> que procediam da melhor forma e <strong>de</strong> maneira cômoda para eles.<br />

Mas, aos <strong>no</strong>ssos olhos, foi justamente por isso que sua missão fracassou.<br />

Os professores <strong>de</strong>veriam ter sido para nós os intermediários, os guias para o<br />

mundo da maturida<strong>de</strong>, para o mundo do trabalho, do <strong>de</strong>ver, da cultura e do<br />

progresso e para o futuro. Às vezes, zombávamos <strong>de</strong>les e lhes pregávamos peças,<br />

mas, <strong>no</strong> fundo, acreditávamos neles. À idéia <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> da qual eram os<br />

portadores, juntou-se em <strong>no</strong>ssos pensamentos uma melhor compreensão e uma<br />

sabedoria mais humana. Mas o primeiro morto que vimos <strong>de</strong>struiu esta convicção.<br />

Tivemos que reconhecer que a <strong>no</strong>ssa geração era mais honesta do que a <strong>de</strong>les; só<br />

<strong>no</strong>s venciam <strong>no</strong> palavrório e na habilida<strong>de</strong>. O primeiro bombar<strong>de</strong>io <strong>no</strong>s mostrou<br />

<strong>no</strong>sso erro, e <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong>le ruiu toda a concepção do mundo que <strong>no</strong>s tinham<br />

ensinado.<br />

Enquanto eles continuavam a escrever e a falar, víamos os hospitais e os<br />

moribundos; enquanto proclamavam que servir o Estado era o mais importante, já<br />

sabíamos que o pavor <strong>de</strong> morrer é mais forte. Nem por isto <strong>no</strong>s amotinamos, nem<br />

<strong>no</strong>s tornamos <strong>de</strong>sertores, nem mesmo covar<strong>de</strong>s ― todas estas expressões vinhamlhes<br />

com muita facilida<strong>de</strong>. Amávamos <strong>no</strong>ssa pátria tanto quanto eles e<br />

avançávamos corajosamente em cada ataque; mas, agora, já sabíamos distinguir,

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