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Chamo-o; aproximo-me e agito o estojo <strong>no</strong> ar para ele... Não compreen<strong>de</strong>.<br />
Repito o gesto e as palavras, ele só pensa em encolher-se... é um recruta.<br />
Desesperado, olho para Kat; já colocou a máscara... tiro a minha rapidamente, o<br />
capacete cai, a máscara <strong>de</strong>sliza pelo meu rosto. Chego até o homem; seu estojo<br />
está junto a mim. Pego a máscara, empurro-a por sobre sua cabeça e ele a segura...<br />
eu o abando<strong>no</strong> e, com um salto, atiro-me para <strong>de</strong>ntro do buraco.<br />
O estampido surdo das granadas <strong>de</strong> gás mistura-se à <strong>de</strong>tonação dos<br />
projéteis explosivos. Uma campainha soa entre as explosões; gongos e matracas<br />
<strong>de</strong> metal avisam em todo lugar: “Gás... Gáas... Gáaaas”.<br />
Atrás <strong>de</strong> mim, alguma coisa cai, uma, duas vezes. Limpo os óculos <strong>de</strong><br />
minha máscara para tirar o vapor da respiração. Vejo Kat, Kropp e mais alguém.<br />
Estamos os quatro, numa expectativa tensa, à espreita, respirando o mais<br />
levemente possível.<br />
Os primeiros minutos com a máscara <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m sobre a vida ou a morte: toda<br />
a questão resi<strong>de</strong> em saber se será impermeável. Evoco as imagens terríveis do<br />
hospital: homens atingidos pelo gás que, durante dias seguidos, vomitam, pouco a<br />
pouco, os pulmões queimados.<br />
Respiro com cuidado, a boca apertada contra a válvula. Agora, o lençol <strong>de</strong><br />
gás atinge o chão e insinua-se em todas as <strong>de</strong>pressões. Como uma medusa e<strong>no</strong>rme<br />
e flácida, espalha-se por todos os cantos ao penetrar em <strong>no</strong>ssas trincheiras.<br />
Dou um empurrão em Kat: é melhor arrastar-se para fora e <strong>de</strong>itar lá em<br />
cima, em lugar <strong>de</strong> ficar aqui, on<strong>de</strong> o gás se acumula. No entanto, não chegamos a<br />
sair, pois começa uma <strong>no</strong>va saraivada <strong>de</strong> fogo. Não parecem granadas a ecoar; é<br />
como se a própria Terra enfurecida clamasse.<br />
Com um estrondo, qualquer coisa escura cai a pouca distância <strong>de</strong> nós; é um<br />
caixão que fora atirado para o alto.<br />
Vejo Kat mover-se na direção do objeto e rastejo até lá. O caixão caiu em<br />
cima do braço estendido do quarto homem da <strong>no</strong>ssa cratera. Com a outra mão,<br />
tenta arrancar a máscara contra gás. Kropp agarra-o nesse momento, torce seu<br />
braço firmemente e o mantém assim.<br />
Kat e eu começamos a tentar liberar o braço ferido. A tampa do caixão está<br />
solta e quebrada; é fácil arrancá-la; o morto, nós o retiramos: ele cai <strong>no</strong> chão<br />
como um saco. Depois, soltamos a parte inferior do caixão.<br />
Felizmente, o soldado per<strong>de</strong> os sentidos, e, assim, Albert po<strong>de</strong> ajudar-<strong>no</strong>s.<br />
Agora, não precisamos tomar tanto cuidado e, com o auxilio das pás, trabalhamos<br />
até o caixão ce<strong>de</strong>r.<br />
A clarida<strong>de</strong> aumentou. Kat agarra um pedaço da tampa, coloca-o embaixo<br />
do braço esmagado, e o enrolamos com todas as <strong>no</strong>ssas ataduras dos estojos<br />
portáteis. Agora, nada mais po<strong>de</strong>mos fazer.<br />
Minha cabeça, enfiada na máscara, quase estoura <strong>de</strong> zumbidos. Os pulmões<br />
estão cansados, não têm para respirar senão o mesmo ar quente e viciado. As<br />
veias da testa e das <strong>front</strong>es ficam intumescidas e a gente se sente sufocar.