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pesado.<br />
Ela escancara uma porta e grita:<br />
― Mãe, mãe, Paul está aqui!<br />
Não consigo mais andar.<br />
― Mãe, mãe, Paul está aqui!<br />
Encosto-me na pare<strong>de</strong> e aperto nervosamente meu capacete e meu fuzil:<br />
aperto-os tanto quanto posso, mas não consigo dar mais um passo, a escada<br />
dissolve-se diante dos meus olhos, apóio-me com a coronha <strong>no</strong>s pés e cerro os<br />
<strong>de</strong>ntes, com força, mas o que minha irmã disse me <strong>de</strong>ixou sem forças, esforço-me<br />
terrivelmente para rir e falar, mas não consigo articular uma palavra, e assim fico<br />
na escada, infeliz, inútil e paralisado, e, contra a minha vonta<strong>de</strong>, as lágrimas<br />
<strong>de</strong>slizam-me pelo rosto.<br />
Minha irmã volta e pergunta: ― Mas que tem você?<br />
Então, com gran<strong>de</strong> esforço, recomponho-me e tropeço pela escada acima,<br />
até a entrada. Encosto a mochila na pare<strong>de</strong>, o fuzil a um canto, e penduro nele o<br />
capacete, tirando também o cinturão. Depois, digo, irritado:<br />
― Vamos, dê-me logo um lenço!<br />
Ela tira um lenço do armário, e enxugo o rosto. Em cima <strong>de</strong> mim, na<br />
pare<strong>de</strong>, há uma caixa <strong>de</strong> vidro com as borboletas coloridas que eu antigamente<br />
colecionava.<br />
Agora, ouço a voz <strong>de</strong> minha mãe, lá do quarto. ― Ela está <strong>de</strong> cama? ―<br />
pergunto à minha irmã. ― Está doente ― respon<strong>de</strong>.<br />
Entro e aproximo-me <strong>de</strong>la, dou-lhe minha mão e digo, procurando<br />
<strong>de</strong>monstrar calma:<br />
― Estou aqui, mamãe.<br />
Está <strong>de</strong>itada, imóvel, na penumbra. Enquanto percorre meu corpo com seu<br />
olhar ansioso, pergunta:<br />
― Você está ferido?<br />
― Não, estou <strong>de</strong> licença.<br />
Minha mãe está muito pálida. Tenho medo <strong>de</strong> vê-la na luz.<br />
― Veja só: estou aqui chorando ― diz ela -, em vez <strong>de</strong> me alegrar.<br />
― Você está doente, mamãe? ― pergunto.<br />
― Hoje vou me levantar um pouco ― diz ela, e volta-se para minha irmã,<br />
que não pára <strong>de</strong> ir à cozinha a todo instante, para ver se a comida não queimou.<br />
― E abra aquele vidro <strong>de</strong> mirtilhos em conserva; você gosta muito, não é?<br />
― pergunta.<br />
― Sim, mamãe, faz tanto tempo que não como isto.<br />
― Parece que adivinhamos que você viria ― ri minha irmã. ― Bolinho <strong>de</strong><br />
batata é justamente o seu prato predileto, e agora terá também mirtilhos.<br />
― E é sábado ― acrescento.<br />
― Sente-se aqui perto <strong>de</strong> mim ― diz mamãe.<br />
Ela olha para mim. Suas mãos são brancas, doentes e frágeis, comparadas