13.04.2013 Views

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

7<br />

Levam-<strong>no</strong>s mais para a retaguarda do que o habitual, para um <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong><br />

recrutas, a fim <strong>de</strong> <strong>no</strong>s reorganizarem. Nossa Companhia precisa <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> cem<br />

homens <strong>de</strong> reforço.<br />

Nesse ínterim, passeamos, porque não temos serviço. Depois <strong>de</strong> dois dias,<br />

Himmelstoss aproxima-se <strong>de</strong> nós. Per<strong>de</strong>u a fanfarronice <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esteve nas<br />

trincheiras. Propõe que nós todos <strong>no</strong>s reconciliemos. Estou pronto a fazê-lo, pois<br />

vi como carregou Haie Westhus, que estava com as costas rasgadas. Além disso,<br />

como ele fala <strong>de</strong> maneira razoável, não <strong>no</strong>s incomodamos que <strong>no</strong>s convi<strong>de</strong> para a<br />

cantina. Só Tja<strong>de</strong>n mostra-se <strong>de</strong>sconfiado e retraído.<br />

Mas até ele se convence, pois Himmelstoss conta que vai substituir o cabo<br />

rancheiro, que está <strong>de</strong> licença. Como prova, tira logo duas libras <strong>de</strong> açúcar para<br />

nós e meia libra <strong>de</strong> manteiga especialmente para Tja<strong>de</strong>n. Propõe até chamar<strong>no</strong>s<br />

para a cozinha, <strong>no</strong>s próximos três dias, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>scascarmos batatas e nabos. A<br />

comida que <strong>no</strong>s serve lá é digna <strong>de</strong> oficiais.<br />

Assim, <strong>no</strong> momento, temos as duas coisas <strong>de</strong> que o soldado precisa para ser<br />

feliz: boa comida e repouso. Pensando bem, é pouco. Há alguns a<strong>no</strong>s, teríamos<br />

<strong>de</strong>sprezado isso terrivelmente. Agora, estamos bastante satisfeitos. É tudo uma<br />

questão <strong>de</strong> hábito, até mesmo o <strong>front</strong>.<br />

Esse hábito é a razão pela qual parecemos esquecer tudo tão <strong>de</strong>pressa.<br />

Ontem, ainda estávamos <strong>de</strong>baixo do fogo; hoje, dizemos bobagens, <strong>de</strong>ixamos<br />

correr a vida; amanhã, voltaremos para as trincheiras. Na realida<strong>de</strong>, nada<br />

esquecemos.<br />

Enquanto estivermos <strong>no</strong> campo <strong>de</strong> batalha, os dias na frente, que já<br />

passaram, caem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós como pedras: são pesados <strong>de</strong>mais para po<strong>de</strong>rmos<br />

refletir tão <strong>de</strong>pressa sobre eles. Se o fizéssemos, eles <strong>no</strong>s abateriam mais tar<strong>de</strong>,<br />

pois já <strong>no</strong>tei que se consegue suportar o horror enquanto se dissimula, mas ele<br />

mata quando nele se pensa.<br />

Exatamente como <strong>no</strong>s transformamos em animais quando vamos para a<br />

frente, porque é a única maneira <strong>de</strong> <strong>no</strong>s salvarmos, tornamo-<strong>no</strong>s humoristas e<br />

vagabundos quando estamos <strong>de</strong>scansando. Não conseguimos agir <strong>de</strong> outra<br />

maneira: na verda<strong>de</strong>, é qualquer coisa superior a nós próprios. Queremos viver a<br />

qualquer preço; por isso, não po<strong>de</strong>mos arcar com o peso <strong>de</strong> sentimentos, que<br />

po<strong>de</strong>m ser muito <strong>de</strong>corativos em tempo <strong>de</strong> paz, mas, aqui, estariam totalmente<br />

<strong>de</strong>slocados.<br />

Kemmerich está morto, Haie Westhus, agonizante; terão <strong>no</strong> dia do Juízo<br />

Final um trabalho hercúleo para recompor o corpo <strong>de</strong> Hans Kramer, dilacerado<br />

por uma granada; Martens não tem mais pernas; Meyer está morto, Berger está<br />

morto, Hammerling está morto; cento e vinte homens jazem por aí cheios <strong>de</strong> tiros;<br />

é uma <strong>de</strong>sgraça, mas o que temos a ver com isso, uma vez que estamos vivos? Se<br />

pudéssemos salvá-los, então não <strong>no</strong>s incomodaríamos <strong>de</strong> arriscar <strong>no</strong>ssas próprias<br />

vidas, porque ninguém consegue <strong>no</strong>s <strong>de</strong>ter quando queremos algo; o medo, não

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!