You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Ele levanta-se, cambaleante, e corre. Mantenho-me a seu lado. Temos <strong>de</strong><br />
passar por cima <strong>de</strong> uma cerca viva: é mais alta do que nós. Kropp agarra-se a um<br />
galho; seguro sua perna, e ele grita, dou-lhe um impulso, e ele pula para o outro<br />
lado. Com um salto, sigo atrás <strong>de</strong>le e caio numa vala que fica oculta por trás da<br />
cerca.<br />
Nossos rostos estão cobertos <strong>de</strong> lama, mas é um bom abrigo. Então,<br />
afundamos na lama até o pescoço. Quando ouvimos o assobio <strong>de</strong> um projétil,<br />
mergulhamos as cabeças.<br />
Depois <strong>de</strong> fazer isto uma dúzia <strong>de</strong> vezes, sinto-me exausto. Albert também<br />
se queixa:<br />
― Vamos embora, senão caio e morro afogado.<br />
― On<strong>de</strong> foi que o acertaram? ― pergunto.<br />
― Acho que foi <strong>no</strong> joelho.<br />
― Consegue correr?<br />
― Acho que sim.<br />
― Então, vamos embora!<br />
Alcançamos a vala da estrada e corremos, abaixados, ao longo <strong>de</strong>la.<br />
O fogo <strong>no</strong>s persegue. A estrada leva ao Depósito <strong>de</strong> Munições. Se aquilo<br />
for pelos ares, ninguém achará sequer um botão <strong>no</strong>sso. Por isso, mudamos <strong>de</strong><br />
rumo e corremos obliquamente pelo campo.<br />
Albert não consegue mais correr.<br />
― Vá andando, eu sigo <strong>de</strong>pois ― diz, atirando-se ao chão.<br />
Agarro-o pelo braço e o sacudo.<br />
― De pé, Albert; se você se <strong>de</strong>itar, não conseguirá mais avançar. Vamos,<br />
apóie-se em mim.<br />
Finalmente, alcançamos um peque<strong>no</strong> abrigo. Kropp joga-se <strong>no</strong> chão e eu<br />
faço-lhe um curativo. O tiro atingiu-o logo acima do joelho. Depois, olho para<br />
mim mesmo. As calças estão ensangüentadas, e o braço também. Albert me<br />
enfaixa os ferimentos com suas ataduras <strong>de</strong> emergência. Ele já não consegue<br />
mexer a perna, e nós <strong>no</strong>s admiramos <strong>de</strong> como conseguimos chegar até aqui. Foi o<br />
medo que <strong>no</strong>s empurrou; mesmo se ambos os pés tivessem sido amputados,<br />
continuaríamos a correr sobre os cotos.<br />
Ainda consigo arrastar-me um pouco e chamo um caminhão que passa, e<br />
<strong>no</strong>s leva. Está cheio <strong>de</strong> feridos. Um enfermeiro aplica uma injeção antitetânica <strong>no</strong><br />
peito <strong>de</strong> cada um.<br />
No Posto <strong>de</strong> Primeiros Socorros, damos um jeito <strong>de</strong> ficar <strong>de</strong>itados um ao<br />
lado do outro. Servem-<strong>no</strong>s uma sopa rala, que tomamos ao mesmo tempo com<br />
avi<strong>de</strong>z e com <strong>de</strong>sdém, porque estamos habituados a épocas melhores, mas temos<br />
uma fome terrível.<br />
― Agora, vamos voltar para casa, Albert ― digo.<br />
― Se Deus quiser ― respon<strong>de</strong>. ― Mas se ao me<strong>no</strong>s eu soubesse o que<br />
tenho.