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complicado. Franz Wãchter, que está a seu lado, foi ferido a bala <strong>no</strong> braço; a<br />
princípio, não parecia grave, mas, na terceira <strong>no</strong>ite, ele <strong>no</strong>s chama, pedindo que<br />
toquemos a campainha, pois acha que está com uma hemorragia. Toco bem alto.<br />
A enfermeira da <strong>no</strong>ite não vem. Nós a temos ocupado muito à <strong>no</strong>ite, porque<br />
fomos todos enfaixados <strong>de</strong> <strong><strong>no</strong>vo</strong>, e, por isso, estamos sempre com dor. Um <strong>de</strong>les<br />
queria que lhe virassem a perna assim, o outro, <strong>de</strong> outro modo, o terceiro pediu<br />
água, o quarto queria que arrumassem os travesseiros; por fim, a velha gordota<br />
resmungou e saiu batendo com a porta. Agora, naturalmente, supõe que se trata <strong>de</strong><br />
algo semelhante e não aparece.<br />
Esperemos. Franz diz, então:<br />
― Toque outra vez.<br />
Eu faço. Ela não dá sinal <strong>de</strong> vida. Na <strong>no</strong>ssa ala, <strong>de</strong> <strong>no</strong>ite, há apenas uma<br />
Irmã <strong>de</strong> serviço; talvez esteja ocupada em outros quartos.<br />
― Franz, tem certeza <strong>de</strong> que está sangrando? ― pergunto. ― Senão,<br />
vamos arranjar outra encrenca.<br />
― O curativo está encharcado. Alguém po<strong>de</strong> acen<strong>de</strong>r a luz?<br />
É impossível. O interruptor fica junto à porta, e ninguém po<strong>de</strong> levantar-se.<br />
Conservo o polegar na campainha até ele ficar dormente. Talvez a Irmã<br />
tenha adormecido. É verda<strong>de</strong> que está sobrecarregada <strong>de</strong> trabalho, mesmo <strong>de</strong> dia.<br />
Isto sem falar na reza constante.<br />
― Será preciso atirar outra garrafa? ― pergunta Josef Harnacher, o que<br />
tem licença <strong>de</strong> caça.<br />
― Isto ela vai ouvir tanto quanto a campainha. Finalmente, a porta se abre.<br />
A velha surge, resmungando. Quando vê o braço <strong>de</strong> Franz, agita-se e pergunta: ―<br />
Por que não me avisaram? ― Nós tocamos, mas ninguém aqui consegue andar.<br />
Franz per<strong>de</strong>u muito sangue, e eles fazem um <strong><strong>no</strong>vo</strong> curativo. De manhã, olhamos<br />
para o seu rosto, está mais afilado, amarelo, e, <strong>no</strong> entanto, na <strong>no</strong>ite anterior, tinha<br />
um ar quase saudável. Agora, a Irmã vem com mais freqüência.<br />
Às vezes, vêm também enfermeiras voluntárias da Cruz Vermelha. São<br />
agradáveis, mas, muitas vezes, um tanto <strong>de</strong>sajeitadas. Quando trocam as camas,<br />
freqüentemente <strong>no</strong>s machucam e ficam tão assustadas que ainda fazem tudo pior.<br />
Po<strong>de</strong>-se confiar nas Irmãs: têm mais experiência. Conhecem o seu trabalho, mas<br />
gostaríamos que fossem mais alegres. Algumas têm um certo humor e chegam a<br />
ser engraçadas. Quem não faria qualquer coisa para agradar Irmã Libertine, esta<br />
criatura admirável que espalha alegria por todo o andar? E há outras parecidas por<br />
aqui. Atravessaríamos o fogo por elas. Na verda<strong>de</strong>, não po<strong>de</strong>mos <strong>no</strong>s queixar;<br />
aqui, as Irmãs <strong>no</strong>s tratam como se fôssemos civis. Só <strong>de</strong> pensar <strong>no</strong> hospital<br />
militar, ficamos arrepiados <strong>de</strong> medo.<br />
Franz Wãchter não consegue recuperar as forças. Um dia, vêm buscá-lo, e<br />
ele não volta. Josef Harnacher está beminformado:<br />
― Aquele, não veremos mais. Levaram-<strong>no</strong> para o quarto da morte.