13.04.2013 Views

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

olhar um para o outro por medo <strong>de</strong> qualquer coisa incalculável. Assim, mor<strong>de</strong>mos<br />

os lábios e procuramos pensar: “Vai passar... isto vai passar... talvez escapemos”.<br />

Repentinamente, os obuses <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> cair nas imediações. O bombar<strong>de</strong>io<br />

continua, mas dirige-se para a retaguarda; <strong>no</strong>ssa trincheira está livre. Pegamos as<br />

granadas <strong>de</strong> mão, jogamo-las para a entrada do abrigo e saltamos para fora. O<br />

bombar<strong>de</strong>io parou, mas, em contrapartida, atrás <strong>de</strong> nós, há um pesado fogo <strong>de</strong><br />

barragem. É o ataque que vai começar.<br />

Ninguém acreditaria que nestas horríveis ruínas ainda existissem homens;<br />

mas, <strong>de</strong> todos os lados da trincheira, começam a aparecer agora os capacetes <strong>de</strong><br />

aço e, a quarenta metros <strong>de</strong> nós, uma metralhadora já está em posição e<br />

pipocando.<br />

As proteções <strong>de</strong> arame farpado são <strong>de</strong>stroçadas; mesmo assim, ainda<br />

servem como obstáculo. Vemos as tropas <strong>de</strong> assalto avançarem. Nossa artilharia<br />

abre fogo. As metralhadoras matraqueiam, os fuzis crepitam. Do outro lado, os<br />

inimigos fazem esforços para avançar. Haie e Kropp começam a atirar granadas<br />

<strong>de</strong> mão. Lançam-nas o mais rápido possível, recebem-nas com o pi<strong>no</strong> já retirado.<br />

Haie joga a sessenta metros, Kropp a cinqüenta; tudo isto foi estudado e medido,<br />

pois a distância é muito importante. O inimigo, ocupado em correr, não po<strong>de</strong> fazer<br />

gran<strong>de</strong> coisa, enquanto não chega até os trinta metros.<br />

Reconhecemos os rostos contraídos, os capacetes lisos: são franceses.<br />

Quando alcançam os restos das re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arame farpado, já tiveram sensíveis<br />

perdas. Uma fileira completa foi abatida por <strong>no</strong>ssas metralhadoras; <strong>de</strong>pois, temos<br />

várias dificulda<strong>de</strong>s com os tiros, e eles conseguem aproximar-se.<br />

Vejo um que cai <strong>de</strong> pé num cavalo <strong>de</strong> frisa, o rosto voltado para cima. O<br />

corpo abate-se sobre si mesmo, como um saco, as mãos ficam juntas, como se<br />

quisesse rezar. Então, o tronco <strong>de</strong>staca-se inteiramente; apenas as mãos,<br />

<strong>de</strong>cepadas pelos tiros da metralhadora, ficam penduradas, com uns farrapos <strong>de</strong><br />

braços, <strong>no</strong> arame farpado.<br />

No momento em que começamos a recuar, três rostos emergem do chão à<br />

<strong>no</strong>ssa frente. Embaixo <strong>de</strong> um dos capacetes, um cavanhaque escuro e dois olhos<br />

que me fitam com firmeza. Levanto a mão, porém não consigo atirar nestes olhos<br />

estranhos. Durante um momento <strong>de</strong> loucura, toda a matança gira como um<br />

turbilhão à minha volta, e os dois olhos são a única coisa imóvel em todo o<br />

quadro; então, a cabeça se mexe, vejo uma mão, um movimento, e logo minha<br />

granada <strong>de</strong> mão voa pelo ar, quase que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> mim. Recuamos<br />

correndo, atiramos os cavalos <strong>de</strong> frisa para <strong>de</strong>ntro das trincheiras e <strong>de</strong>ixamos<br />

granadas <strong>de</strong> mão já sem o pi<strong>no</strong> caírem atrás <strong>de</strong> nós, o que <strong>no</strong>s assegura uma<br />

retirada explosiva. Da segunda linha, as metralhadoras atiram.<br />

Tornamo-<strong>no</strong>s animais selvagens. Não combatemos, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mo-<strong>no</strong>s da<br />

<strong>de</strong>struição. Sabemos que não lançamos as granadas contra homens, mas contra a<br />

Morte, que <strong>no</strong>s persegue, com as mãos e capacetes. Pela primeira vez em três<br />

dias, conseguimos vê-la cara a cara; pela primeira vez em três dias, po<strong>de</strong>mos <strong>no</strong>s

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!