13.04.2013 Views

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

Nada de novo no front(pdf)

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

é somente por isso que vão buscá-la.<br />

Mas não dá certo. Uma segunda turma sai, mas também volta sem nada.<br />

Por fim, Kat vai junto, e até mesmo ele retorna <strong>de</strong> mãos vazias. Ninguém passa,<br />

nem um rabo <strong>de</strong> cachorro é bastante fi<strong>no</strong> para escapar a este fogo.<br />

Apertamos <strong>no</strong>ssos cintos e mastigamos cada bocado três vezes. Mas isto<br />

não basta; afinal, temos uma fome miserável. Guardo uma casca <strong>de</strong> pão na<br />

mochila, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> comer o miolo; <strong>de</strong> vez em quando, eu a rôo um pouco.<br />

A <strong>no</strong>ite está insuportável. Não po<strong>de</strong>mos dormir, <strong>no</strong>ssos olhos fixam-se num<br />

ponto <strong>de</strong> frente. Cabeceamos. Tja<strong>de</strong>n lamenta que tenhamos <strong>de</strong>sperdiçado <strong>no</strong>sso<br />

pão com os ratos. Deveríamos tê-lo guardado para comê-lo agora. Também a água<br />

faz falta, mas, por enquanto, ainda não é grave.<br />

De madrugada, ainda na escuridão, há um tumulto. Pela entrada do abrigo<br />

precipita-se uma multidão <strong>de</strong> ratos que fogem, correndo pela pare<strong>de</strong> acima. As<br />

lanternas iluminam a confusão. Todos gritam, praguejam e espancam as<br />

ratazanas. Damos vazão à raiva e ao <strong>de</strong>sespero acumulados durante muitas horas e<br />

que agora transbordam. Os rostos estão <strong>de</strong>sfigurados, os braços <strong>de</strong>sferem golpes,<br />

os animais guincham; paramos a tempo <strong>de</strong> evitar que uns ataquem os outros.<br />

Esta agitação <strong>no</strong>s esgotou. Deitamo-<strong>no</strong>s e voltamos a esperar. É um milagre<br />

que a <strong>no</strong>ssa trincheira ainda não tenha sofrido perdas. É um dos poucos abrigos<br />

que ainda subsistem.<br />

Um cabo arrasta-se para <strong>de</strong>ntro. Traz consigo um pão. Três soldados<br />

tiveram a sorte <strong>de</strong> conseguir atravessar a linha <strong>de</strong> fogo à <strong>no</strong>ite e trazer algumas<br />

provisões. Contaram que o bombar<strong>de</strong>io prossegue com a mesma intensida<strong>de</strong> até<br />

as posições da artilharia. É um enigma: <strong>de</strong> on<strong>de</strong> os inimigos tiram tantos canhões?<br />

Temos que esperar, esperar. Por volta <strong>de</strong> meio-dia, acontece o que eu temia. Um<br />

dos recrutas tem um acesso. Já o vinha observando há tempo, como ele rangia os<br />

<strong>de</strong>ntes sem parar, abrindo e fechando os punhos. Conhecemos muito bem esses<br />

olhos acuados, esbugalhados. Nas últimas horas, sua calma era apenas aparente.<br />

Então, abateu-se <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si próprio, como uma árvore podre.<br />

Agora, levanta-se e, sorrateiramente, rasteja pelo abrigo; <strong>de</strong>tém-se por um<br />

momento e, <strong>de</strong>pois, esgueira-se para a saída. Viro-me e pergunto:<br />

― On<strong>de</strong> vai?<br />

― Volto já ― diz e tenta passar por mim.<br />

― Espere mais um pouco, o bombar<strong>de</strong>io vai diminuir logo.<br />

Seus olhos tornam-se claros e lúcidos por um momento, mas <strong>de</strong>pois<br />

retomam seu aspecto opaco, como os olhos <strong>de</strong> um cão raivoso. Ele se cala e<br />

procura afastar-me.<br />

― Um momento, companheiro ― chamo.<br />

Kat está atento, e, <strong>no</strong> instante em que o recruta me empurra, ele o agarra, e<br />

ambos o seguramos com força.<br />

Imediatamente, começa a esbravejar:<br />

― Soltem-me, <strong>de</strong>ixem-me sair! Quero sair daqui!

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!