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― Vocês não <strong>de</strong>viam me mandar suas coisas, mamãe.<br />
Lá fora, temos bastante para comer. Aqui, precisam mais do que eu.<br />
Coitada, está lá <strong>de</strong>itada na sua cama, ela, que me ama mais do que ninguém<br />
<strong>no</strong> mundo. Quando me preparo para sair do quarto, ela diz, rapidamente:<br />
― Arranjei mais dois pares <strong>de</strong> ceroulas para você, <strong>de</strong> boa lã. Elas o<br />
aquecerão. Não se esqueça <strong>de</strong> colocá-las na mochila!<br />
Ah, mamãe, sei bem o que lhe custaram estas ceroulas... esperando,<br />
andando, pedindo!<br />
Ah, mamãe, mãezinha, como é possível que seja obrigado a <strong>de</strong>ixá-la?<br />
Quem mais tem direito sobre mim, senão você? Ainda estou sentado aqui, e lá<br />
está <strong>de</strong>itada você, e temos tanta coisa a dizer-<strong>no</strong>s, que jamais conseguiremos fazêlo.<br />
― Boa-<strong>no</strong>ite, mãe.<br />
― Boa-<strong>no</strong>ite, meu filho.<br />
O quarto está escuro. Ouço a respiração <strong>de</strong> minha mãe e o tique-taque do<br />
relógio. O vento sopra e os castanheiros murmuram.<br />
Na entrada, tropeço na mochila que já está lá, pronta, porque terei <strong>de</strong> partir<br />
amanhã bem cedo.<br />
Mordo o travesseiro, agarro convulsivamente com meus punhos as barras<br />
<strong>de</strong> ferro da cama. Nunca <strong>de</strong>veria ter vindo.<br />
Lá fora, muitas vezes fiquei indiferente e sem esperança; agora, nunca mais<br />
conseguirei sê-lo. Fui soldado e agora nada mais sou do que sofrimento... por<br />
mim, por minha mãe, por todos os <strong>de</strong>sconsolados e con<strong>de</strong>nados. Nunca <strong>de</strong>veria<br />
ter aceitado a licença.