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No momento seguinte, Haie Westhus estava junto a nós. Com os braços<br />
abertos, empurrou-<strong>no</strong>s para trás, só para ser o primeiro. Com uma alegria imensa,<br />
tomou posição, levantou o braço como um sinaleiro, e a mão e<strong>no</strong>rme aberta, como<br />
uma pá <strong>de</strong> carvão, <strong>de</strong>scarregou uma tal pancada <strong>no</strong> saco branco, que po<strong>de</strong>ria ter<br />
matado um boi.<br />
Himmelstoss virou uma cambalhota, aterrissou a uns cinco metros <strong>de</strong><br />
distância e começou a gritar. Estávamos preparados para tudo, pois tínhamos<br />
trazido uma almofada. Haie agachou-se, colocou a almofada <strong>no</strong>s joelhos, pegou<br />
Himmelstoss pela cabeça e apertou-o contra a almofada. Imediatamente, os urros<br />
<strong>de</strong> Himmelstoss se amorteceram. Haie <strong>de</strong>ixava-o respirar <strong>de</strong> vez em quando, e,<br />
então, os sons roucos transformavam-se em gritos magníficos, claros, que logo<br />
baixavam <strong>no</strong>vamente.<br />
Tja<strong>de</strong>n <strong>de</strong>sabotoou, então, os suspensórios <strong>de</strong> Himmelstoss e puxou-lhe a<br />
cabeça para baixo. Enquanto fazia isto, segurava um chicote entre os <strong>de</strong>ntes.<br />
Levantou-se e entrou em ação.<br />
Era um quadro maravilhoso: Himmelstoss <strong>no</strong> chão. Haie inclinado sobre<br />
ele, segurando sua cabeça entre os joelhos; Haie rindo diabolicamente, a boca<br />
aberta <strong>de</strong> prazer, e as ceroulas listradas estremecendo com as pernas tortas, que,<br />
<strong>de</strong>ntro das calças arriadas, faziam, a cada golpe, os movimentos mais originais, e,<br />
dominando tudo isto, o incansável Tja<strong>de</strong>n surrando o cabo sistematicamente,<br />
como se estivesse rachando lenha.<br />
Por fim, tivemos que arrancá-lo para que também aproveitássemos um<br />
pouco.<br />
Finalmente, Haie pôs Himmelstoss <strong>de</strong> pé e, para encerrar, <strong>de</strong>u uma<br />
representação particular. Parecia que queria colher estrelas, tão alto levantou o<br />
braço direito para <strong>de</strong>sferir um último golpe. Himmelstoss caiu. Haie levantou-o <strong>de</strong><br />
<strong><strong>no</strong>vo</strong>, colocou-o em posição e <strong>de</strong>u, ainda, uma outra bofetada, <strong>de</strong> primeira classe,<br />
com a mão esquerda.<br />
Himmelstoss urrou e fugiu <strong>de</strong> quatro. Seu belo rabo listrado <strong>de</strong> carteiro<br />
resplan<strong>de</strong>cia ao luar.<br />
Desaparecemos a toda velocida<strong>de</strong>.<br />
Haie ainda olhou para trás e, num tom <strong>de</strong> raiva satisfeita, disse, um tanto<br />
enigmaticamente:<br />
― A vingança é uma salsicha!...<br />
Na verda<strong>de</strong> Himmelstoss podia consi<strong>de</strong>rar-se feliz, porque a sua teoria <strong>no</strong><br />
sentido <strong>de</strong> que “uns <strong>de</strong>vem sempre educar os outros” tinha dado bons resultados.<br />
Fomos bons alu<strong>no</strong>s dos métodos que preconizara.<br />
Nunca <strong>de</strong>scobriu a quem agra<strong>de</strong>cer o acontecimento. Ainda ganhou um<br />
lençol, porque, quando fomos procurá-lo algumas horas <strong>de</strong>pois, não o<br />
encontramos.<br />
A proeza <strong>de</strong>sta <strong>no</strong>ite foi a razão pela qual, na manhã seguinte, partimos<br />
mais ou me<strong>no</strong>s consolados. Um velho com uma e<strong>no</strong>rme barba classificou-<strong>no</strong>s, por