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dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizerlhe o que <strong>de</strong>sejo. Se ela fosse mais velha, seria mais fácil, mas<br />
é muito jovem, <strong>de</strong>ve ter, <strong>no</strong> máximo, vinte e cinco a<strong>no</strong>s, não vou conseguir.<br />
Então Albert me socorre, ele não é tímido e pouco se importa com o que os<br />
outros pensem. Ele chama-a:<br />
― Enfermeira, ele quer... ― mas Albert também não sabe expressar-se<br />
irrepreensível e corretamente. Entre nós, lá na frente, isto se diz com uma única<br />
palavra, mas aqui, diante <strong>de</strong> uma dama... De repente, <strong>no</strong> entanto, ele se lembra<br />
dos dias <strong>de</strong> escola e completa, sem dificulda<strong>de</strong>:<br />
― Ele quer ir lá fora, enfermeira.<br />
― Ah, bem ― diz ela. ― Mas, para isto, não precisa <strong>de</strong>scer da cama, com<br />
a perna engessada. Que <strong>de</strong>seja?<br />
Assusto-me mortalmente com este <strong><strong>no</strong>vo</strong> aspecto do diálogo, pois não tenho<br />
a me<strong>no</strong>r idéia <strong>de</strong> como se chamam essas coisas tecnicamente. A enfermeira me<br />
salva:<br />
― Peque<strong>no</strong> ou gran<strong>de</strong>?<br />
― Bem... é só o peque<strong>no</strong>.<br />
Apesar <strong>de</strong> tudo, consegui o que queria.<br />
Trazem uma espécie <strong>de</strong> garrafa. Depois <strong>de</strong> algumas horas, já não sou o<br />
único e, <strong>de</strong> manhã, já <strong>no</strong>s habituamos e pedimos, sem o me<strong>no</strong>r constrangimento,<br />
aquilo <strong>de</strong> que precisamos.<br />
O trem avança lentamente. Às vezes, pára, e os mortos são <strong>de</strong>scarregados.<br />
Ele pára freqüentemente.<br />
Albert está com febre. Eu passo razoavelmente bem, apesar <strong>de</strong> sentir muitas<br />
dores, mas o pior é que provavelmente ainda há piolhos sob o gesso. É horrível,<br />
porque não posso me coçar. Passamos quase todo o tempo cochilando. A<br />
paisagem <strong>de</strong>sliza suavemente pela janela. Na terceira <strong>no</strong>ite, chegamos a<br />
Herbesthal. Ouço a enfermeira dizer que Albert será <strong>de</strong>scarregado na próxima<br />
estação por causa <strong>de</strong> sua febre.<br />
― Até on<strong>de</strong> vai o trem? ― pergunto.<br />
― Até Colônia.<br />
― Albert, ficaremos juntos ― digo. ― Você vai ver.<br />
Na próxima ronda da enfermeira, prendo a respiração e faço com que o ar<br />
suba até a cabeça, que incha e fica vermelha.<br />
A enfermeira pára.<br />
― Está sentindo dor?<br />
― Sim ― gemo -, começou <strong>de</strong> repente.<br />
Ela me dá um termômetro e retira-se. Não estaria na escola <strong>de</strong> Kat se não<br />
soubesse o que é preciso fazer agora. Estes termômetros do exército não foram<br />
feitos para soldados experientes. Basta fazer subir o mercúrio, e ele se conserva<br />
on<strong>de</strong> chegou.<br />
Coloco o termômetro <strong>de</strong>baixo do braço, obliquamente e voltado para baixo