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Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN

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Escritos Militantes<br />

do trabalho precarizado nas IFEs se apresenta<br />

como resultado da progressiva diminuição dos<br />

recursos públicos destinados ao financiamento das<br />

universidades. O encolhimento orçamentário gera<br />

diversos efeitos prejudiciais, e um deles justamente<br />

é a não reposição do quadro de docentes de forma<br />

correta, ou seja, através de concursos públicos<br />

para o quadro efetivo, quer para o atendimento<br />

minimamente adequado ao crescimento quantitativo<br />

e qualitativo de cursos e alunos, quer para a reposição<br />

paritária das vagas geradas por aposentadorias,<br />

óbitos, desligamentos voluntários e afastamento<br />

de docentes, conforme comprovamos anteriormente.<br />

Desta forma, a contratação de professores substitutos<br />

foi uma saída para as universidades manterem,<br />

mesmo que a título precário, seus quadros<br />

docentes, e que perversamente se tornou natural no<br />

dia a dia universitário.<br />

A intensificação do regime de trabalho dos<br />

docentes, que aumenta o sofrimento subjetivo,<br />

neutralizando a mobilização coletiva e aprofundando<br />

o individualismo, implicando em consequências<br />

desagradáveis para a convivência e a conduta dos<br />

trabalhadores das IFES.<br />

A relação estabelecida com o tempo, relação na<br />

qual pode-se verificar não só uma aceleração da<br />

produção docente, bem como o prolongamento do<br />

tempo que o professor despende com o trabalho.<br />

Essa dinâmica “não é nova e nem exclusiva ao<br />

trabalho docente”, porém tem se tornado bastante<br />

intensificada nos últimos anos.<br />

102 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />

O trabalho docente flexível e multifacetado, não<br />

cessa nem em época de greve e muito menos nas<br />

férias, gerando mudanças na jornada de trabalho<br />

de ordem intensiva (aceleração na produção num<br />

mesmo intervalo de tempo) e extensiva (maior tempo<br />

dedicado ao trabalho), ampliada com o auxílio das<br />

novas tecnologias. Pequenos períodos de interrupção<br />

do ano letivo são aproveitados para “botar as coisas<br />

em dia”, ou seja, preencher formulários, preparar<br />

projetos, escrever artigos, adquirir os livros que ainda<br />

não foram lidos e muitas vezes não conseguir lê-los.<br />

Além disso, responder e-mails, atender o celular<br />

que toca em casa a qualquer hora do dia, também<br />

faz parte dessa rotina que acompanha o professor.<br />

O professor fisicamente encontra-se em casa, mas<br />

o dia de trabalho continua, devido as inovações<br />

tecnológicas que possibilitam o entrelace entre o<br />

“mundo pessoal” e o “mundo profissional”.<br />

Outro aspecto que pouco se aborda e que não é nada<br />

desprezível diz respeito ao profundo enxugamento<br />

do quadro de funcionários técnico-administrativos,<br />

que repassa novas atividades e responsabilidades<br />

ao cotidiano do professor. A sua responsabilidade<br />

ultrapassa a sala de aula e o desenvolvimento de sua<br />

pesquisa, e chega ao preenchimento de inúmeros<br />

relatórios e formulários, a emissão de pareceres e até<br />

à captação de recursos para viabilizar seus projetos<br />

de pesquisa.<br />

A produção de textos, por exemplo, é um<br />

capítulo à parte em toda essa extensa gama de<br />

atividades docentes produtivistas. Nestes casos, os<br />

professores pesquisadores mais experientes, que<br />

gerenciam projetos de pesquisa de ponta, que duram<br />

frequentemente três ou quatro anos e seus dados só<br />

são analisados em sua plenitude no fim do período,<br />

passam a ter a necessidade de publicar vários<br />

artigos por ano, o que acaba desviando a atenção<br />

do pesquisador do projeto principal para poder<br />

desenvolver outros projetos menores. O caminho<br />

seguido é o da publicação conjunta com alunos e o<br />

“autoplágio”, onde o docente, a fim de cumprir os<br />

critérios estabelecidos pelas agências de fomento,<br />

com a exigência de um número cada vez mais absurdo<br />

de publicações, abre mão da originalidade de seus<br />

trabalhos para atender as metas impraticáveis.

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