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Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN

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Sendo assim, na perspectiva marxista há uma<br />

nítida impossibilidade de falarmos de uma revolução<br />

burguesa tardia em países como o Brasil. Essa é uma<br />

contribuição preciosa nascida da pena de Trotsky<br />

e que carece de ser devidamente reconhecida. É<br />

mister citar a sua reflexividade acerca desse temário<br />

por que, à época, prevalecia um ponto de vista<br />

diametralmente oposto e este, com efeito, esteve<br />

consignado nas políticas dos partidos comunistas<br />

regionais e em suas desenfreadas buscas pelo elo<br />

perdido de uma burguesia a quem caberia cumprir<br />

um papel progressivo no patíbulo da história latinoamericana.<br />

Para Leon Trotsky, a etapa das revoluções<br />

burguesas, e, por conseguinte, da ação progressiva<br />

da burguesia, em geral, já estaria definitivamente<br />

vencida e sepultada. Realçando a teoria da revolução<br />

permanente, o velho revolucionário entendia que o<br />

papel de levar a cabo as tarefas da revolução burguesa<br />

– indefinidamente adiada e relegada às calendas<br />

gregas pelos próprios burgueses latino-americanos<br />

organizados em classe – caberia unicamente ao<br />

proletariado liderando as nações oprimidas. Os seus<br />

últimos textos somente reforçaram estas convicções.<br />

Por sua vez, as tragédias históricas e políticas<br />

resultantes das políticas dos PCs latino-americanos,<br />

apenas corroboraram a justeza das teses trotskystas.<br />

Nestes termos, o golpe militar de 1964, no Brasil, é um<br />

exemplo emblemático de como a fé na consequência<br />

democrática de uma pretensa burguesia progressista<br />

tende a produzir verdadeiras catástrofes históricas.<br />

Além da carpintaria técnica dos textos (em<br />

geral, de irrefutável qualidade), verifica-se uma<br />

permanente contribuição do autor em tela a questões<br />

teóricas, além de uma análise criteriosa do fluxo dos<br />

acontecimentos dos últimos anos da década de 1930.<br />

Portanto, não se trata de um mirar melancólico ao<br />

passado, mas de um compromisso com o seu tempo,<br />

ainda que premido por um desejo e uma necessidade<br />

correntes de atualização e reafirmação teórica do<br />

marxismo. Pelos motivos indicados, deduz-se que<br />

a sua passagem pelo México não se resume a uma<br />

concha vazia. Há generosos contributos à teoria<br />

marxista e à compreensão do seu tempo. Sem se negar<br />

ao exame pormenorizado dos principais fenômenos<br />

históricos do período, notadamente o nazifascismo,<br />

Leon Trotsky colocou para si como particularmente<br />

importante um fino entendimento acerca das<br />

questões mais candentes da América Latina.<br />

As indicações anteriores sinalizam notadamente<br />

nesta direção.<br />

Mesmo quando o epicentro não era as Américas,<br />

estas, de alguma maneira, se faziam presente. Do<br />

ponto de vista dos princípios mais gerais, no seu<br />

trabalho Em Defesa do Marxismo, nota-se um<br />

desejo irreprimível de salvaguardar o arsenal teórico<br />

marxista contra o empirismo e às pressões pequenoburguesas<br />

e academicistas que, então, contaminavam<br />

as discussões no interior da principal seção da IV<br />

Internacional nas Américas: o Socialist Workers Party<br />

(SWP) dos EUA. A defesa do marxismo significou a<br />

defesa da URSS (à época um Estado operário) frente<br />

à retórica ideológica do imperialismo e, até mesmo,<br />

do método dialético contra os modismos que o<br />

achincalhavam como pura mistificação. Pois bem,<br />

não obstante Leon Trotsky se orientasse por uma<br />

mirada mais abrangente, de certo modo, o continente<br />

que o abrigara não se ausentara completamente do<br />

seu raio de reflexividade, porquanto o leitmotiv da<br />

sua intervenção teórica estava localizado em uma<br />

das seções partidárias do continente. Este raciocínio<br />

também nos mostra que a construção dos partidos da<br />

IV Internacional nas Américas não se desvinculava<br />

dos temas que então dividiam águas na esquerda<br />

mundial: a ofensiva nazifascista e a defesa da URSS<br />

e do marxismo.<br />

Os seus últimos textos somente reforçaram estas<br />

convicções. Por sua vez, as tragédias históricas e políticas<br />

resultantes das políticas dos PCs latino-americanos,<br />

apenas corroboraram a justeza das teses trotskystas.<br />

Nestes termos, o golpe militar de 1964, no Brasil, é um<br />

exemplo emblemático de como a fé na consequência<br />

democrática de uma pretensa burguesia progressista<br />

tende a produzir verdadeiras catástrofes históricas.<br />

O livro Em Defesa do Marxismo foi publicado<br />

no Brasil, pela primeira vez, por Proposta Editorial,<br />

provavelmente em começos dos anos 1980. Essa<br />

primeira edição da obra circulou nas livrarias<br />

de boa parte do país do começo a meados da<br />

década antes citada e sem data de publicação. Os<br />

A última fronteira - o marxismo aporta na América Latina<br />

ANDES-<strong>SN</strong> n junho de 2012 25

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