Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN
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Atualidade em Foco<br />
atropelamento. O relatório do Condepe relata que<br />
uma senhora teria ido ao Campo dos Alemães no dia<br />
23 de janeiro em busca de sua empregada doméstica<br />
que havia faltado ao trabalho. A motorista teria<br />
se assustado com bombas de efeito moral, atiradas<br />
por policiais, e atropelado a vítima, que andava<br />
em sua bicicleta.<br />
Outro caso que está sendo investigado é a suspeita<br />
de estupro de uma jovem por policiais militares. O<br />
caso ganhou visibilidade através da denúncia feita<br />
pelo senador Eduardo Suplicy. De acordo com a<br />
vítima, agentes teriam entrado na casa de sua família,<br />
no Campo dos Alemães, na noite do dia 22. Isolada de<br />
seus familiares, ela teria sido obrigada a realizar sexo<br />
oral nos policiais. A denúncia relata que os abusos<br />
duraram cerca de quatro horas e que neste período os<br />
agentes teriam consumido cocaína. Os policiais ainda<br />
teriam trancado o irmão da jovem em um quarto e o<br />
ameaçado de violência sexual.<br />
O senador Suplicy afirma aguardar os resultados<br />
da investigação realizada pela Corregedoria da PM<br />
e alerta que o governador Alckmin quer desvincular<br />
esse episódio da ação de despejo, já que ocorreu em<br />
um bairro vizinho. “Naquele mesmo dia e noite, na<br />
mesma área contínua, numa ação coordenada pela<br />
mesma PM, alguns policiais passaram a realizar<br />
operações de busca e apreensão de drogas no Campo<br />
dos Alemães. Como isso ocorreu na mesma noite do<br />
dia 22, pareceu uma ação coordenada para demonstrar<br />
que entre as pessoas do Pinheirinho havia porte de<br />
drogas e armas”, denuncia o senador.<br />
Além dos diversos episódios de violência, o<br />
relatório do Condepe também aponta os prejuízos<br />
econômicos dos moradores. Foram 453 relatos<br />
afirmando que houve pouco tempo para a retirada<br />
dos bens ou que a casa fora demolida sem que os<br />
pertences tivessem sido recolhidos. Outros 71 relatos<br />
denunciam saques. O documento do Condepe ainda<br />
menciona que 80 pessoas perderam o emprego em<br />
função da reintegração e que 470 tiveram prejuízo em<br />
sua remuneração.<br />
Talvez as principais vítimas do despejo do<br />
Pinheirinho tenham sido as crianças. Segundo<br />
depoimentos de mães, muitas ficaram sem escola<br />
ou creche, perderam um período do ano letivo ou<br />
ainda todo o material escolar na demolição das casas.<br />
180 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />
Além disso, algumas crianças estão com traumas<br />
psicológicos, demonstrando fobias em relação a<br />
policiais ou a helicópteros. Diante destes graves fatos,<br />
agentes do Conselho Tutelar ainda estariam sendo<br />
coniventes e acobertando os problemas. Segundo<br />
Simões, “situações que são de responsabilidade do<br />
Conselho Tutelar, enquanto zelador do acesso das<br />
crianças aos seus direitos, inexistem e o Conselho<br />
alega que está tudo certo, tudo perfeito”.<br />
O pano de fundo<br />
Entre os muitos questionamentos acerca da ação no<br />
Pinheirinho, um chama a atenção: por que o despejo<br />
ocorreu apenas oito anos após a ocupação da área, já<br />
com uma infraestrutura consolidada? Para Guilherme<br />
Boulos, do Movimento dos Trabalhadores Sem<br />
Teto, a explicação é simples e significativa. “Naquele<br />
momento [2004] não existia uma força econômica<br />
do capital imobiliário decididamente empenhado no<br />
despejo, a área não era de tanto interesse especulativo.<br />
Já em 2012, com o boom imobiliário, o local se tornou<br />
uma região de alvo especulativo.”<br />
Em 2004, quando teve início a ocupação, a prefeitura<br />
era dirigida por Emanuel Fernandes, do PSDB,<br />
sucedido por Eduardo Cury, do mesmo partido, que<br />
neste ano termina sua segunda gestão. Apesar de diferentes<br />
prefeitos, a orientação política é similar. Simões<br />
explica que “São José tem um histórico de remoção<br />
forçada de famílias, sempre com traços bastante<br />
comuns”, entre eles, o fato da reintegração ser feita em<br />
período de recesso e, em geral, na virada de ano.<br />
O setor imobiliário tem se valorizado muito nos<br />
últimos anos em todas as grandes cidades brasileiras.<br />
O crescimento do mercado imobiliário, e a alta dos<br />
preços, são em muito decorrentes das políticas do<br />
governo federal de incentivo à construção civil, por<br />
meio de programas como o Minha Casa, Minha Vida.<br />
Levantamento realizado pela Global Property Guide, e<br />
divulgado pela revista Exame, aponta que em 2011 os<br />
imóveis no Brasil tiveram uma valorização de 27,82%,<br />
ficando atrás apenas da alta ocorrida na Índia.<br />
Em São José dos Campos o panorama não é<br />
diferente. Pesquisa da Associação das Empresas<br />
Imobiliárias do Vale do Paraíba divulgada em março<br />
aponta que nos últimos três anos houve um aumento