Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN
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Debate Contemporâneo<br />
de minérios, energia fóssil, dos recursos da floresta e<br />
da água potável, como é demonstrado pela aprovação<br />
do Código Florestal, que abre possibilidades maiores<br />
de exploração da natureza no Brasil e a “Guerra<br />
contra o Terror”, colocada em curso pelos EUA nos<br />
países do Oriente Médio como forma de dominação<br />
dos recursos petrolíferos da região.<br />
Acarreta também a crescente redução das taxas<br />
de emprego e renda que, somadas ao aumento da<br />
inflação, demonstrada nos preços das mercadorias,<br />
trazem consequências desumanas de vida para as<br />
populações mais pobres, como o marco de que 2/3<br />
da humanidade vive abaixo da linha da miséria.<br />
O crescente descrédito da política institucional<br />
burguesa, e do Partido dos Trabalhadores ao propor<br />
e implementar um corte no orçamento de 55<br />
bilhões para insumos sociais, a desregulamentação<br />
de processos licitatórios para as obras da Copa do<br />
Mundo, a privatização dos aeroportos, dos hospitais<br />
universitários via EBSRH, a flexibilização das relações<br />
trabalhistas na universidade com a aprovação da MP<br />
525 e a proposta de congelamento de salários em 10<br />
anos dos servidores públicos.<br />
Por ser uma crise de caráter global, profunda<br />
e prolongada, a mesma trará como exigências<br />
do grande capital a flexibilização da produção e<br />
das relações de trabalho, a desregulamentação<br />
das relações comerciais e circuitos financeiros e a<br />
privatização do patrimônio público estatal (Netto,<br />
2010). Neste sentido é que o neoliberalismo surge<br />
como política de contenção da crise, o que acaba<br />
acarretando:<br />
162 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />
“...uma maior intensificação da força de<br />
trabalho, desemprego estrutural, crescimento<br />
do setor de serviços, precarização do<br />
trabalho por meio de contratos temporários e<br />
desregulamentação dos direitos, aumento do<br />
trabalho feminino e infantil, que trouxe como<br />
consequência um fenômeno ao qual Antunes<br />
(1995) caracterizou enquanto fragmentação,<br />
heterogeneização e complexificação da classe<br />
trabalhadora.” (Nozaki, s/p, 2003)<br />
Este artifício, o qual amplia o trabalho terceirizado<br />
e quarteirizado expresso na flexibilização das leis<br />
trabalhistas, na retirada de direitos historicamente<br />
conquistados nas lutas sociais; o desemprego<br />
estrutural que chega a atingir 50% da força de trabalho<br />
economicamente ativa; o empreendedorismo<br />
que mascara a contradição existente na relação<br />
antagônica entre Capital e Trabalho acarretará uma<br />
nova morfologia da classe trabalhadora a qual,<br />
conjuntamente com a queda do Muro de Berlim<br />
e a perpetuação da ideologia neoliberal de “fim da<br />
história” e a burocratização dos sindicatos de classe,<br />
além do amoldamento à ordem burguesa por parte<br />
do Partido dos Trabalhadores ao traçar como meta<br />
a chegada ao estado burguês, e ao consolidar-se<br />
como partido dirigente do país e implementar as<br />
políticas neoliberais que de fato não produzem<br />
mudança estrutural na vida da classe trabalhadora,<br />
fomenta a descrença em alternativas de organização<br />
coletiva e tem em si arraigado um forte pensamento<br />
individualista e que demoniza a política.<br />
É esta política neoliberal, que além de modificar<br />
a forma aparente de ser da classe trabalhadora, irá<br />
determinar a atual reforma do Estado brasileiro e<br />
a contrarreforma universitária colocada em curso<br />
atualmente. Tais medidas têm como fundamento<br />
central o reordenamento do mundo do trabalho, a<br />
fim de sintonizar as mudanças demandadas pelas<br />
necessidades do capital, e a formação deste novo<br />
tipo de trabalhador: flexível, terceirizado, adaptável<br />
e colocado a favor da manutenção da crise estrutural<br />
do capital.<br />
No Brasil, esta política é iniciada a partir da década<br />
de 1990 com o processo de redemocratização do país,<br />
após 20 anos de Ditadura Militar, em que a eleição<br />
de Collor ampliou a abertura nacional ao comércio<br />
exterior e consolidou a ideologia de redução do<br />
patrimônio estatal. Porém, é com FHC que o papel do<br />
Estado na economia é readequado a partir da análise<br />
de que a instituição estatal enfrentava uma grande<br />
crise fiscal, que o tornava arcaico e obsoleto frente<br />
às necessidades do desenvolvimento econômico do<br />
neoliberalismo.<br />
Com isso, FHC enxuga as fronteiras entre o público<br />
e o privado a partir da criação das organizações<br />
públicas não estatais, que desresponsabilizam o<br />
Estado em ser o garantidor das políticas de acesso<br />
aos direitos sociais, ou seja, exime o Estado de sua<br />
responsabilidade frente às necessidades coletivas<br />
da maioria da população. Essa ação tem a clara