Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN
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É algo ontologicamente distinto supor ou<br />
conceber o fim do trabalho como atividade útil,<br />
como atividade vital, como elemento fundante,<br />
protoforma de uma atividade humana. Em<br />
outras palavras: uma coisa é conceber, com a<br />
eliminação do capitalismo, também o fim do<br />
trabalho abstrato, do trabalho estranhado, outra,<br />
muito distinta, é conceber a eliminação, no<br />
universo da sociabilidade humana, do trabalho<br />
concreto, que cria coisas socialmente úteis, e<br />
que, ao fazê-lo, (auto)transforma o seu próprio<br />
criador. (ANTUNES, 2000, p. 82)<br />
O que se conclui dessa análise é que o trabalho não<br />
deixou de ser referência, como ‘porto seguro’, a partir<br />
do qual passamos a organizar nossas vidas. Isso, nem<br />
para os desempregados do MTD e nem para nós<br />
mesmos, que possuímos o trabalho/emprego.<br />
3. A educação politécnica ‘resolve’<br />
os problemas dos trabalhadores<br />
desempregados do MTD?<br />
Retomando o já escrito, é possível dizer, em síntese,<br />
que os sujeitos da pesquisa reafirmam a compreensão<br />
sedimentada socialmente de que a relação trabalhoeducação<br />
está no seu caráter utilitário de produção<br />
de sujeitos trabalhadores, partindo do princípio<br />
de que trabalhador é o sujeito ‘portador de um<br />
emprego’ e que, para tanto, a educação está colocada<br />
como elemento essencial e capaz de produzir ‘o ser<br />
empregável’.<br />
Por outro lado e, contraditoriamente, não se<br />
percebeu, nas falas, o incentivo para que os filhos<br />
estudem e a lembrança da escola não aparece como<br />
positiva. Os cursos oferecidos de qualificação parecem<br />
ser sempre de forma precária, sem certificação.<br />
Em relação às lembranças de trabalho, podemos<br />
sintetizar que se referem sempre àquele que não<br />
requer uma formação escolarizada/profissionalizada.<br />
É nessa situação objetiva que a educação<br />
politécnica6 e a politecnia, entendida como a<br />
compreensão científica do processo de trabalho e o<br />
domínio intelectual da técnica, conceito atualmente<br />
muito discutido entre educadores e pesquisadores<br />
na área, tem sido uma questão-problema em nossas<br />
reflexões acerca da proposta de educação necessária<br />
ao MTD. A centralidade da problemática está na<br />
pergunta: qual a educação - relação trabalhoeducação<br />
- é necessária à classe trabalha dora que se<br />
encontra desempregada, no caso, o Movimento dos<br />
Trabalhadores De sem pregados, majoritariamente<br />
mulheres?<br />
Estamos perguntando permanentemente se<br />
a formação politécnica, assim como anunciada,<br />
daria conta da formação integral dos sujeitos<br />
desempregados na atualidade, e se esta sozinha não<br />
daria, quais seriam as relações e ações necessárias<br />
para caminhar na direção da emancipação dos<br />
trabalhadores desempregados?<br />
Para Marx (1978, p. 74), a “indústria moderna<br />
elimina tecnicamente a divisão manufatureira do<br />
trabalho, na qual o ser humano com todas as suas<br />
faculdades e por toda a vida fica prisioneiro de<br />
uma tarefa parcial”. Mas, ao mesmo tempo, a forma<br />
capitalista da<br />
...indústria moderna reproduz aquela<br />
divisão de trabalho de maneira muito mais<br />
monstruosa, na fábrica propriamente dita,<br />
transformando o trabalhador no acessório<br />
consciente de uma máquina parcial; e fora<br />
da fábrica, por toda parte, com emprego<br />
esporádico das máquinas e dos trabalhadores<br />
de máquina, e com a introdução do trabalho<br />
das mulheres, das crianças e dos trabalhadores<br />
sem habilitação, que servem de nova base à<br />
divisão do trabalho. (MARX, 1978, p. 74 -<br />
grifos nossos)<br />
Para o autor, as escolas politécnicas e<br />
agronômicas:<br />
São fatores deste<br />
processo de transfor mação<br />
que se desenvolveram<br />
esporadicamente na base<br />
da indústria moderna;<br />
constituem-se também<br />
fatores dessa metamorfose<br />
as escolas de ensino<br />
profissional, onde os filhos<br />
dos operários recebem algum<br />
ensino tecnológico e são iniciados<br />
no manejo prático dos diferentes<br />
instrumentos de produção.<br />
A legislação fabril arrancou<br />
ao capital a primeira e<br />
insuficiente concessão de<br />
Desafios para o Movimento dos Trabalhadores Desempregados<br />
ANDES-<strong>SN</strong> n junho de 2012 53