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Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN

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Escritos Militantes<br />

americanas no tocante a esse tema, em geral, ajuda a<br />

mantê-lo quase correntemente atual.<br />

Outros três trabalhos são apresentados anexos,<br />

totalizando nos três blocos 54 produções que revelam<br />

um militante antenado com o que se dava à sua volta e<br />

comprometido com a transformação dessa realidade<br />

circundante. Não é demais, todavia, recordar a<br />

bagagem teórica e prática que era carregada por Leon<br />

Trotsky. Uma grande guerra e três revoluções eram<br />

parte de um invejável inventário. Quando ele colocou<br />

os pés no México, já vivera toda essa experiência.<br />

Doutro lado, já produzira e desenvolvera uma das<br />

suas principais contribuições teóricas ao marxismo:<br />

a teoria da revolução permanente, ainda que Marx<br />

a houvesse insinuado e coubesse a Parvus, na esteira<br />

da revolução de 1905, na Rússia, uma primeira e<br />

sumaríssima elaboração deste postulado teórico.<br />

Mas foi a Trotsky e não a outro a quem coube o<br />

mérito irrefutável de definir com clareza o caráter, a<br />

dinâmica e as tarefas das revoluções do século XX à<br />

luz da teoria da revolução permanente.<br />

Assim, quando ele chegou ao México, Marx<br />

falecera a mais de meio século, Engels havia falecido<br />

há 42 anos e Lênin, há 13 anos. Por isso, falávamos<br />

que o seu assassinato significou praticamente o fim<br />

de um ciclo correspondente ao que Anderson (1999)<br />

intitulou marxismo clássico.<br />

Em termos categóricos, a burguesia latino-americana, e<br />

a brasileira, em particular, se estabelece social, política<br />

e economicamente associada aos capitalistas dos<br />

países de economia central, já com esta devidamente<br />

assentada em uma ortodoxia petrificada: a da reação<br />

em todos os planos.<br />

Com muitas razões, Isaac Deutscher o nomeou de<br />

profeta banido, tomando essa época como referencial,<br />

visto que fora expulso da URSS por decisão de Josef<br />

Stálin e, desde fins dos anos 1920 e meados do<br />

decênio seguinte, Trotsky perambulou pelo mundo<br />

transportando em sua mala um passaporte sem<br />

visto. A férrea vontade das nações europeias em não<br />

aceitá-lo como exilado político e a disposição de<br />

22 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />

Lázaro Cárdenas em recebê-lo no México, de fato, o<br />

impulsionaram a vir residir em território mexicano.<br />

Tivemos a oportu nidade de nos referir à sua<br />

bagagem teórica e, aqui é válido agregar quanto essa<br />

foi vital em seus estudos acerca da América Latina. É<br />

neste contexto que surge o conceito de bonapartismo<br />

sui generis aplicado a governos latino-americanos –<br />

como o do próprio Cárdenas – que se vê comprimido<br />

entre as reivindicações populares e as pressões<br />

imperialistas. São governos que, em geral, oscilam<br />

entre essas linhas de forças e, sob determinadas<br />

condições, vêem-se compelidos a adotar medidas<br />

que os conduzem a choques momentâneos com o<br />

imperialismo.<br />

O bonapartismo2 surgiu para arbitrar conflitos<br />

que se estabeleceram sem encontrar uma solução<br />

pelas vias representativas que a burguesia criara<br />

historicamente para dirimir questões que, direta<br />

ou indiretamente, lhes dizia respeito. O caso do<br />

sobrinho de Napoleão, examinado por Marx em o 18<br />

brumário, é sintomático dessa tendência burguesa.<br />

De plano, fica uma pergunta no ar: qual o sentido<br />

do conceito acrescido da expressão sui generis?<br />

Para Trotsky (2000), em linhas gerais, o regime<br />

bonapartista da América Latina encerrava laços<br />

profundos com o seu congênere clássico, mas tinha<br />

uma particularidade que o distinguia do seu modelo<br />

europeu. Tratava-se de um momento em que o Estado<br />

também pairava acima das querelas de classe e por<br />

essa via assegurava a estabilidade política necessária<br />

para a desenvolução do capitalismo. Aplicava, porém,<br />

uma estratégia que o impulsionava a uma situação de<br />

relativo antagonismo com os interesses imperialistas.<br />

O exemplo emblemático, estudado pelo velho<br />

revolucionário russo, e como já anteriormente<br />

sugerido, foi o do general Lázaro Cárdenas Del<br />

Rio que, à frente do Estado mexicano, aplicou uma<br />

política nacionalista, entrando em rota de colisão<br />

com o imperialismo britânico. Nas décadas seguintes<br />

– em países tão diferentes como Brasil, Argentina

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