Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN
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Escritos Militantes<br />
92 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />
O relatório da Société des Amis de<br />
l’Enseignement inicia relatando que ‘a educação<br />
deve ser iniciada no dia mesmo do nascimento’,<br />
que então é importante determinar a forma e<br />
quantidade de educação aplicada às crianças nos<br />
berçários, reconhecendo que nesta época inicial<br />
da vida o principal deve ser o desenvolvimento<br />
psíquico. Ou, de acordo com o texto, este<br />
objetivo é possível de ser perseguido? No<br />
campo sim, com os cuidados maternos, mas<br />
não nos centros urbanos. [...] Nas sociedades<br />
atuais e nas cidades, as crianças recém-nascidas<br />
são abandonadas às suas mercenárias: pelas<br />
mulheres ricas, sob o pretexto de saúde das<br />
mães, o mais frequente por conta de sua vaidade;<br />
para as mulheres comerciantes, porque os<br />
custos com enfermeiras é inferior ao benefício<br />
adquirido pelo trabalho das mulheres; para as<br />
mulheres trabalhadoras, pela impossibilidade<br />
de conciliar um trabalho incessante com os<br />
cuidados necessários às crianças nesta idade<br />
(Dommanget, 1971, p. 211).<br />
A Société des Amis de l’Enseignement se detinha<br />
em tudo que se referia à primeira infância. Era<br />
identificada como a Comuna do Futuro. Para estes,<br />
a educação, com inspiração socialista, começa desde<br />
o nascimento, por isso seria necessário “determinar a<br />
forma e a quantidade de educação aplicada às crianças<br />
no berçário, reconhecendo que nesta época de início<br />
da vida o principal foco deve ser o desenvolvimento<br />
psíquico” (1971, p. 211). O documento da Société<br />
deixava claro que a Revolução possibilitava a<br />
construção de uma sociedade ideal, o que no seu<br />
relatório era identificado como “a cura radical”.<br />
Entretanto, identifica a necessidade de medidas<br />
transitórias como, por exemplo, a melhoria de alguns<br />
trabalhos, um trabalho que seja coerente com uma<br />
sociedade que objetiva a emancipação de homens e<br />
mulheres, ainda neste processo revolucionário.<br />
Este relatório, produzido por este grupo, também<br />
protegia as mães trabalhadoras e, neste sentido,<br />
apontava alguns espaços a serem mais bemestruturados.<br />
O exemplo disso vinha da creche, e<br />
a permissão de que as mulheres tivessem, durante<br />
o período de amamentação, um trabalho que as<br />
possibilitassem amamentar os seus filhos. Entendem<br />
a creche como “modo transitório, que mantém quase<br />
inteiros espaços familiares, e permite à criança,<br />
quase que completamente, o aleitamento materno<br />
permitindo à mãe estar livre para trabalhar fora de<br />
casa” (idem, p. 211). O relatório define como deveria<br />
ser a creche, e que cada estabelecimento teria que<br />
receber no máximo 100 crianças, com salas para<br />
almoço, jogos, cozinha, entre outros espaços. Jardins,<br />
professores jovens com disposição; chegam ao detalhe<br />
de denunciar a necessidade de laicização do pessoal e<br />
que os jogos com crianças sejam com objetos reais e<br />
não místicos.<br />
Outro grupo identificado pelo autor, com menos<br />
rigor nos detalhes, defendia a Escola Produtiva,<br />
de orientação proudhoniana. Escola que se<br />
fundamentava pela concepção do trabalho-filosofia<br />
de Proudhon, pela unidade entre trabalho manual e<br />
intelectual, pela escola única (para ricos e pobres) e<br />
integral. Outras ações importantes foram identificadas<br />
por Dommanget (1971) a respeito da educação<br />
na Comuna de Paris. Em 21 de maio, Vaillant teria<br />
criado uma Comissão de mulheres para organizar o<br />
ensino feminino. Comissão esta composta por: Elise<br />
Reclus, Andrée Léo, Jaclard e Sapia e Louise Michael,<br />
uma grande educadora e lutadora da Comuna.<br />
Para Dommanget, Vaillant indiretamente acabou<br />
criando uma competição entre os programas, um<br />
concurso para publicar as sugestões de cada grupo ou<br />
educador sobre a organização do ensino na Comuna.<br />
Vaillant, apesar de estimular e ter tido muito acordo<br />
com o grupo da L’ education Nouvelle, tinha clareza<br />
que não poderia se apoiar em nenhum grupo, por<br />
isso estimulou certa competição de propostas, se<br />
utilizando do método de colaboração cordial. Ele<br />
tinha pressa para debater o programa, os problemas<br />
(Dommanget, 1971, p. 206). Vaillant também havia<br />
encorajado as ações da federação artística dentro da<br />
perspectiva democrática, foram obtidos resultados<br />
importantes, como a abertura dos museus, ateliês,<br />
bibliotecas, entre outros espaços.<br />
Para o autor, o trabalho da Comuna no aspecto<br />
da Cultura, onde a educação se incluía, centrava<br />
seus esforços a favor do ensino popular, sem ignorar<br />
a necessidade da educação política das massas,<br />
esta seria uma das grandes obras da Comuna e<br />
por isso seu legado teria sido superior ao que<br />
concretamente conseguiu consolidar ao longo dos 72<br />
dias da Comuna. A preocupação em educar a classe<br />
trabalhadora, no seu conjunto, para a nova sociedade