Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN
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Escritos Militantes<br />
2. Resgate de pesquisas e teorias<br />
relacionadas ao trabalho docente<br />
no ensino superior público<br />
Através de estudos realizados sobre a docência<br />
em instituições de educação superior pública,<br />
como os desenvolvidos por Oliveira (2004),<br />
Cruz e Lemos (2005), Lemos (2005), Bianchetti<br />
e Machado (2007), Bosi (2007), Avila (2010),<br />
Silva Jr. (2010), Mancebo (2011), Santana (2011),<br />
Silva e Carvalho (2011) e Borsoi (2012), pode-se<br />
apreender algumas implicações proporcionadas<br />
pelas políticas governamentais, a exemplo das citadas<br />
anteriormente, a saber:<br />
(a) expansão do ensino superior na esfera privada;<br />
(b) mercantilização do trabalho do professor do<br />
ensino superior público por meio de cursos pagos;<br />
(c) flexibilização e precarização do regime de<br />
trabalho do professor – evidenciadas principalmente<br />
pelo aumento da contratação de professores<br />
substitutos ou com regime de trabalho de 20 e 40<br />
horas semanais sem dedicação exclusiva, com direitos<br />
trabalhistas reduzidos e restrição de atividade e de<br />
participação em pesquisa e extensão;<br />
(d) ampliação do número de vagas nas<br />
universidades e da proporção da relação aluno/<br />
professor;<br />
(e) abertura diminuta de novas vagas de professores<br />
nas instituições federais de ensino superior;<br />
(f) aumento do número de produções científicas e<br />
de projetos exigidos;<br />
(g) arrocho salarial;<br />
(h) excesso de trabalho burocrático; e<br />
(i) ocupação de cargos administrativos.<br />
No transcorrer dos anos, em consequência das<br />
contínuas modificações e destas novas condições e<br />
organização do trabalho, pode-se notar que a médio<br />
prazo os docentes obtiveram outras alterações como:<br />
(i) incremento da extensão e da intensidade de<br />
trabalho e da carga horária deste – sobrecarregando-o<br />
com orientações de monografias, dissertações, teses,<br />
estágios profissionais e tarefas administrativas;<br />
(ii) precarização das condições físicas de trabalho<br />
– falta de laboratórios adequados, de salas de aula, de<br />
gabinetes, de ventilação e de internet;<br />
(iii) aumento da competitividade e do<br />
108 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />
individualismo, visto que se elevou o número de<br />
pesquisadores sem aumento proporcional dos<br />
recursos financeiros para desenvolvimento de<br />
pesquisas;<br />
(iv) perda de autonomia e de espaço de criação,<br />
devido à fragmentação e à racionalização do<br />
trabalho; e<br />
(v) comprometimento da qualidade das produções<br />
acadêmicas (CRUZ; LEMOS, 2005; LEMOS, 2005;<br />
BIANCHETTI; MACHADO, 2007; BOSI, 2007;<br />
EMILIANO, 2008; LEDA; MANCEBO, 2009; LIMA,<br />
2011; MANCEBO, 2011; SANTANA, 2011; SILVA;<br />
CARVALHO, 2011; BORSOI, 2012). Em estudo<br />
feito com professores da <strong>Universidade</strong> Federal<br />
do Mato Grosso do Sul, Lima e Lima Filho (2009)<br />
empreendem análise que relaciona, em semelhança<br />
ao que se observa anteriormente, modificações no<br />
processo de trabalho docente com as condições<br />
macroeconômicas e, por fim, com o adoecimento<br />
da categoria. Ademais, ocorreram interferências na<br />
vida pessoal e na saúde destes professores, como se<br />
nota pelo pouco tempo que estes destinam ao lazer,<br />
ao convívio com familiares e amigos e aos cuidados<br />
médicos e pelo aumento de casos de adoecimento<br />
– citam-se, por exemplo, disfunções no sistema<br />
vocal, cardiovascular, respiratório e gastrointestinal,<br />
alterações de humor, síndrome de Burnout,<br />
transtorno de pânico e episódios de depressão e de<br />
melancolia, estresse, esquecimento, insônia, entre<br />
outros (CONTAIFER et al., 2003; CRUZ; LEMOS,<br />
2005; LEMOS, 2005; BIANCHETTI; MACHADO,<br />
2007; EMILIANO, 2008; LANDINI, 2008;<br />
SERVILHA; PEREIRA, 2008; LIMA E LIMA FILHO,<br />
2009; LEITE, 2011; SANTANA, 2011; BORSOI,<br />
2012). Neste sentido, observa-se, com cada vez mais<br />
frequência, o que Araújo e outros (2005) relatam<br />
como mal-estar docente, expressão criada por<br />
Esteves (1999), que designa o desgaste biopsíquico<br />
do educador relacionado aos problemas evidenciados<br />
pelos professores em seu ambiente de trabalho. Esta<br />
pesquisa foi realizada com docentes da <strong>Universidade</strong><br />
Estadual de Feira de Santana e evidencia que o<br />
adoecimento vivenciado por essa categoria contempla<br />
principalmente doenças como hipertensão arterial,<br />
doenças coronarianas, distúrbios mentais, estresse<br />
e câncer, entre outras, que são relacionadas pelos