Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN
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Escritos Militantes<br />
do movimento e promoveu a alteração de suas<br />
prioridades de intervenção. Até então, o movimento,<br />
em nível estadual, voltara-se preponderantemente à<br />
construção de espaços na institucionalidade, seja na<br />
busca por regularizações fundiárias, na participação<br />
nas conferências das cidades, ou na regulamentação<br />
do estatuto das cidades. A partir desse momento,<br />
passou a priorizar o eixo da luta direta pela reforma<br />
urbana através das ocupações.<br />
17. Além da ocupação do antigo prédio do Cine<br />
Vitória, organizada pelo MNLM, no dia 1/10/2007<br />
foi realizada também uma manifestação de rua,<br />
também no Centro da Cidade, com a participação<br />
de diversos movimentos que lutam por moradia e<br />
pelo “direito à cidade”, como a Pastoral de Favelas;<br />
a Central de Movimentos Populares (CMP); União<br />
por Moradia Popular (UMP); e o Conselho Popular,<br />
além de representantes de ocupações, de ONGs e de<br />
associações de moradores, entre outros.<br />
18. Após esse segundo despejo, os moradores da<br />
Manoel Congo passaram algumas noites na Ocupação<br />
Quilombo das Guerreiras e em uma subsede do<br />
Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação<br />
– SEPE/RJ. Esse fato é ilustrativo da grande rede de<br />
solidariedade que o MNLM conseguiu articular em<br />
apoio à ocupação. Em nossa análise, a conquista dessa<br />
solidariedade deveu-se à capacidade de diálogo do<br />
MNLM junto aos movimentos sociais cariocas que<br />
também participam ou promovem ocupações, como<br />
a CMP e o MST, além de sua atuação na Plenária de<br />
Movimentos Sociais do Rio de Janeiro – PMS/RJ,<br />
fórum que reúne entidades e movimentos sociais,<br />
sindicais, ONGs, partidos políticos etc.<br />
19. As ameaças e a ocorrência de despejos são<br />
práticas constantes para aqueles que ocupam prédios<br />
abandonados para moradia. Nos últimos anos, vários<br />
despejos, alguns violentos, foram realizados pelas<br />
forças policiais na cidade.<br />
20. Em 28 de outubro de 2010, dia em que a<br />
ocupação Manoel Congo comemorou 3 anos, foram<br />
assinados os primeiros documentos de compra do<br />
prédio para cessão aos moradores, processo que até<br />
hoje se arrasta sem conclusão, apesar das recorrentes<br />
manifestações feitas pelo Movimento.<br />
21. Desde o início da ocupação, reservou-se um<br />
espaço destinado à geração de trabalho e renda. Na<br />
Casa de Samba Mariana Crioula funcionaram várias<br />
iniciativas culturais, como bailes de carnaval, rodas<br />
de samba e de funk, bem como a comemoração dos<br />
40 anos do Maio de 1968. Hoje, com patrocínio<br />
da Petrobras, os moradores fazem curso de<br />
cooperativismo e esperam abrir ali um restaurante<br />
popular e a Casa de Samba.<br />
22. Parte do processo de criminalização da<br />
pobreza, o choque de ordem elege como alguns dos<br />
70 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />
principais alvos os trabalhadores e moradores de rua,<br />
promovendo apreensões de mercadorias e remoções<br />
nas áreas mais valorizadas da cidade.<br />
23. A partir de linhas gerais do MNLM, a carta<br />
de princípios é constituída pelos moradores que<br />
discutem, votam e aprovam em assembleia geral<br />
quais serão as normas de convívio e os princípios<br />
norteadores da ocupação.<br />
24. A integração proporcionada pela utilização<br />
do espaço da Manoel Congo por outros Movimentos<br />
e fóruns de articulação entre Movimentos estimula a<br />
troca de experiências e um aprendizado mútuo, que<br />
em nossa avaliação é essencial para a transformação<br />
de Movimentos não hegemônicos em contrahegemônicos.<br />
Afinal, “o potencial antissistêmico ou<br />
contra-hegemônico de qualquer movimento social<br />
reside na sua capacidade de articulação com outros<br />
Movimentos, com as suas formas de organização e os<br />
seus objetivos.” (Santos, 2008, p. 34)<br />
25. Mais precisamente, há na ocupação: 13<br />
crianças de 0 a 6 anos; 14 crianças de 7 a 12 anos; 9<br />
adolescentes de 13 a 18 anos; e 27 jovens de 18 a 30<br />
anos, dos quais 14 são mães e pais.<br />
26. Outra ocupação promovida recentemente<br />
pelo MNLM/RJ, na cidade de Volta Redonda (interior<br />
do Estado do Rio de Janeiro), encontra-se neste<br />
momento em fase de implementação e escolha do<br />
nome do seu Espaço Criarte.<br />
27. Suzete cursou Português e Literatura e também<br />
Teologia. À época da entrevista, estava finalizando seu<br />
mestrado na UERJ.<br />
28. Em um dos dias nos quais foram realizadas<br />
entrevistas junto aos moradores e às lideranças,<br />
estava ocorrendo um curso de formação política na<br />
ocupação, chamado “Como funciona a sociedade I”.<br />
29. Boa parte dos atuais moradores da Manoel<br />
Congo veio de comunidades pobres do Caju,<br />
Anchieta (zona norte) e do Morro do Cantagalo (em<br />
Ipanema, zona sul), locais onde o MNLM tinha um<br />
forte trabalho de base em 2007.<br />
30. As milícias são grupos formados por policiais,<br />
bombeiros, carcereiros e ex-integrantes dessas forças<br />
que, junto a civis, controlam várias comunidades<br />
cariocas. Contam (ou contaram?) com apoio de<br />
setores governamentais e têm representantes eleitos<br />
na Câmara de Vereadores e na Assembleia Legislativa<br />
Estadual, onde uma CPI, realizada em 2008,<br />
comprovou o domínio territorial que esses grupos<br />
exercem. Os milicianos cobram taxas de segurança<br />
aos moradores, controlam o transporte alternativo<br />
(único que existe nas favelas), a distribuição de gás,<br />
TV a cabo, a venda de casas e terrenos etc.