Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN
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mudança na visão deles mesmos e do mundo: um<br />
mundo em que passam a perceber o direito de<br />
conhecer e transformar. Um dos elementos que<br />
reforçam essa nossa percepção é a recorrência<br />
com que os entrevistados falam da importância da<br />
participação política e dos impactos da organização<br />
e do movimento sobre a sua formação. Raquel,<br />
falando sobre o tema, e referindo-se à Lurdinha, a<br />
mais experiente liderança do MNLM, menciona:<br />
“[...] eu gosto de conversar com ela, porque ela<br />
me faz entender as coisas, tanto do nosso<br />
Movimento, quanto de vários outros Movimentos”.<br />
Menciona ainda a formação política a que tem acesso<br />
na ocupação:<br />
Por exemplo, esse curso de formação que a<br />
gente tá fazendo agora: é legal, porque a gente tá<br />
aprendendo. Antes eu não tinha noção de nada,<br />
nada vezes nada. Só queria saber de baile funk<br />
e de beber cerveja. Hoje, não. Eu gosto desses<br />
cursos que fazem a gente ficar mais preparado<br />
pra estar nos lugares, ter resposta pras coisas...<br />
A gente tá aprendendo bastante. Ainda falta<br />
muita coisa pra gente aprender. Mas eu acredito<br />
que, como a nossa luta é uma luta importante,<br />
faz com que a gente esteja participando de mais<br />
cursos pra estar mais preparado [...].<br />
Na fala de Joice, aparece com clareza a percepção<br />
de que a mudança na vida dos moradores da Manoel<br />
Congo não se deve apenas à conquista de um teto:<br />
[...] as casas do PAC: o governo faz, mas ele<br />
não quer saber daí pra frente. [...] Eles vêm,<br />
botam num lugar, mas não tem organização, não<br />
tem uma conduta, um princípio... E cada um<br />
vive do jeito que quer viver. Aqui não, a gente<br />
tem uma carta de princípios, a gente procura<br />
estar enquadrado na carta, que é o que rege o<br />
Movimento... Aqui a gente está pronto pra levar<br />
pra rua, pra denunciar as especulações, tudo... o<br />
nosso intuito não é só morar. É denunciar tudo<br />
que está mal. Não é só ter uma casa melhor, é<br />
uma vida melhor.<br />
4. Considerações finais<br />
Sabemos que a Ocupação Manoel Congo é uma<br />
das mais mobilizadas e organizadas no Rio de Janeiro.<br />
Sabemos também que nem todas as experiências<br />
registradas nesse trabalho são comuns ao conjunto<br />
das ocupações urbanas cariocas ou brasileiras.<br />
Não obstante, os resultados obtidos nesse trabalho<br />
sugerem que as ocupações urbanas organizadas<br />
por movimentos sociais têm enorme potencial para<br />
transformar a vida dos seus moradores.<br />
Constatamos, conforme exposto, que a<br />
ocupação Manoel Congo tem Espaços dedicados<br />
exclusivamente à educação. E mais: comprovamos<br />
a existência de políticas voltadas especificamente<br />
para crianças e jovens, que envolvem desde<br />
reforço educacional ao estímulo, ao engajamento<br />
e à participação política. Há, ainda, militantes<br />
do Movimento dedicados prioritariamente à<br />
implementação destas políticas, o que sugere que<br />
uma alta prioridade é conferida pelo MNLM às<br />
crianças e jovens.<br />
Verificamos também que algumas mudanças<br />
mais pontuais, que dizem respeito ao acesso a<br />
determinados direitos essenciais (saúde, educação,<br />
segurança etc.) têm uma relação direta com a<br />
Luta por moradia, educação e direitos humanos<br />
ANDES-<strong>SN</strong> n junho de 2012 67