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Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN

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educação primária era também uma demanda<br />

da classe trabalhadora que, através das suas lutas,<br />

pressionava o Estado capitalista para garanti-la. Sem<br />

esta pressão certamente, o crescimento, ou ainda o<br />

progresso da educação primária, teria sido menos<br />

significativo. Neste cenário, a classe dominante<br />

necessitou formular que tipo de educação destinaria<br />

aos pobres e trabalhadores, compreendendo os riscos<br />

eminentes. Os debates na França ilustraram como os<br />

trabalhadores se colocavam na disputa deste projeto.<br />

Segundo Marx e Engels (2003), a França entre<br />

1848-1850 viveu um período de suma importância,<br />

capaz de possibilitar os alicerces para a construção<br />

dos germes de um partido revolucionário. Este<br />

foi um processo onde se iniciou a consolidação<br />

dos antagonismos de classe, ainda não nítidos de<br />

forma suficiente, através dos embates travados em<br />

nome da república social e da luta por direitos.<br />

Era claro que depois de uma batalha vitoriosa em<br />

defesa da república, a primeira tarefa da fração da<br />

burguesia no poder era desarmar o proletariado.<br />

Ficou evidente para a burguesia, esta burguesia<br />

industrial e dita republicana, que em momento de<br />

“convulsão revolucionária” eram os trabalhadores<br />

quem dominavam Paris, eram quem ocupavam as<br />

ruas e dialogavam com as necessidades mais básicas<br />

da população francesa. Como primeira atividade era<br />

necessário acabar com esta força emergente. Para<br />

tanto, a burguesia propagou que não era possível<br />

proclamar a república com e através da marcha do<br />

proletariado, mas sim através do voto da maioria.<br />

Era necessário fortalecer a institucionalidade para<br />

esvaziar as ruas1 . Ao ditar a república ao governo<br />

provisório e, por meio do governo provisório, a<br />

toda França, o proletariado passou imediatamente<br />

ao primeiro plano como partido autônomo, mas,<br />

ao mesmo tempo, desafiou contra si toda a França<br />

burguesa. O que ele conquistou foi o terreno para a<br />

luta pela sua emancipação revolucionária de modo<br />

algum essa mesma emancipação (MARX, 2003,<br />

p. 74). Só através da derrota de junho de 1848, onde<br />

parte do proletariado foi dizimada pela burguesia,<br />

foram criadas todas as condições no seio das quais a<br />

França pôde tomar a iniciativa da revolução europeia.<br />

Só empapada de sangue dos insurgentes de junho, a<br />

tricolor se tornou a bandeira da revolução europeia<br />

– bandeira vermelha (MARX, 2003, p. 95). A classe<br />

trabalhadora estava tirando lições destes embates,<br />

por isso, daí surgiram os germes para a construção<br />

de um partido revolucionário.<br />

Neste cenário de embates e disputas, não por<br />

caso, no fim dos anos 1840 e na década de 1850, o<br />

debate sobre a Educação Pública, Instrução Pública,<br />

assume um caráter central, uma das questões mais<br />

graves da época, segundo Benoît Mély (2004). Por<br />

um lado, a necessidade do capital de mão de obra<br />

qualificada, da mesma forma que era necessário<br />

controlar o ímpeto dos “revolucionários”, por outro,<br />

uma demanda real e legítima dos trabalhadores<br />

por conhecimento e formação, era um elemento<br />

disputado por projetos distintos de classe. O caráter<br />

público da educação, neste momento, é quase que<br />

inteiramente consensual. Seria tarefa do Estado<br />

garantir, a questão era como garantir e o que este<br />

Estado cindindo iria garantir. Havia um debate<br />

entre os trabalhadores, que o Estado não cobraria<br />

diretamente os custos da educação, todavia, ela<br />

não seria de fato gratuita, sairia do trabalho árduo<br />

e diário dos mesmos. Todavia, neste momento, o<br />

debate que obteve maior centralidade foi sobre<br />

o caráter laico da educação, a ciência havia<br />

penetrado na indústria, qual seria então agora<br />

o papel da igreja?<br />

O grande debate era se a Igreja<br />

ainda teria condições de jogar um<br />

papel importante na formação dos<br />

sujeitos que se preparavam para<br />

viver na “Era do Capital”.<br />

O direito à educação pública<br />

ANDES-<strong>SN</strong> n junho de 2012 85

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