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Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN

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Escritos Militantes<br />

obter um professor substituto nos casos em que o<br />

afastamento seja de duração superior a 60 dias. Esta<br />

realidade faz com que nem mesmo os órgãos oficiais<br />

tenham estatísticas realistas do adoecimento docente<br />

nas instituições públicas de ensino superior.<br />

O terceiro passo consistiu em buscar as produções<br />

científicas sobre adoecimento de docentes de ensino<br />

superior público. Além da constatação já presente em<br />

várias publicações acadêmicas, referentes aos poucos<br />

e recentes resultados de pesquisas neste campo<br />

específico, como destacado por Freitas e Moraes<br />

Cruz (2008), os trabalhos existentes apresentam<br />

principalmente os seguintes temas: políticas de<br />

expansão e suas relações com as condições de<br />

trabalho, programas de pós-graduação e sua relação<br />

com a saúde. Sentiu-se falta de publicações que<br />

digam respeito à degradação das relações no trabalho,<br />

observadas na universidade. A realidade encontrada<br />

a partir dos atendimentos e das visitas feitas aos<br />

ambientes de trabalho apresentou novos elementos<br />

de análise que devem ser considerados em futuras<br />

pesquisas acadêmicas e na atuação sindical.<br />

O primeiro desses elementos está relacionado à<br />

forma como o docente identifica a crítica ao processo<br />

de expansão, sem a necessária contrapartida em<br />

recursos humanos e materiais, como o REUNI e<br />

sua condição precarizada de trabalho. Praticamente,<br />

todos os docentes contatados, que pertencem a<br />

campi ou departamentos com forte expansão recente,<br />

têm consciência das condições de trabalho a eles<br />

impostas, mas apresentam forte resistência à crítica<br />

a esses programas de expansão, por considerarem<br />

que foram estes que permitiram seu ingresso como<br />

docentes de uma instituição federal de ensino. É<br />

fundamental, portanto, que as seções sindicais sejam<br />

capazes de compreender este ponto de vista para<br />

estabelecer formas de diálogo com esses docentes, de<br />

forma a incorporá-los na luta pela melhoria de suas<br />

condições de trabalho.<br />

Outro elemento contraditório, semelhante ao<br />

anterior, está relacionado ao adoecimento em função<br />

do modelo produtivista e quantitativo, estabelecido<br />

para os programas de pós-graduação. Mesmo<br />

conscientes dos efeitos desse modelo, docentes<br />

atendidos na APUFPR afirmaram que este era um<br />

espaço acadêmico de realização profissional e criação.<br />

118 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />

Também nesta questão, o sindicato precisa considerar<br />

formas alternativas, atuando localmente e em diálogo<br />

direto com os docentes, para construir propostas<br />

efetivas de mudança.<br />

O terceiro elemento observado diz respeito à<br />

falta de pesquisas sobre a degradação das relações<br />

no trabalho, observadas na universidade. A maioria<br />

dos atendimentos realizados pela APUFPR está<br />

relacionada a problemas referentes a situações de<br />

violência moral, sofridas pelos docentes, quando<br />

sua atuação acadêmica os coloca em evidência ou<br />

se contrapõe aos interesses de grupos de poder<br />

estabelecidos na universidade. Especificamente<br />

em relação a esses grupos de poder, este é um dos<br />

maiores desafios, na conjuntura local, a ser superado.<br />

Alguns desses grupos não estão obrigatoriamente<br />

vinculados à estrutura oficial de poder, mas com<br />

ela mantêm uma prática de “balcão de negócios”.<br />

Percebe-se que a principal proteção desses grupos é<br />

a impunidade, uma vez que todos os mecanismos de<br />

controle e investigação estão atrelados às estruturas<br />

de poder. Para atuar contra esse tipo de violência<br />

moral, as seções sindicais não possuem formas de<br />

ação bem-estabelecidas.<br />

Por fim, a experiência em saúde docente<br />

vivenciada pela APUFPR permite concluir que<br />

os sindicalizados do ANDES-<strong>SN</strong>, em geral, não<br />

identificam o Sindicato como um espaço no qual<br />

demandas referentes a adoecimento físico ou<br />

psíquico possam ser apresentadas. O adoecimento<br />

é geralmente tratado como um reflexo pessoal de<br />

diferentes políticas governamentais, que devem ser<br />

combatidas no nível das pautas gerais do Sindicato. A<br />

ação das seções sindicais na saúde docente, atuando<br />

junto aos sindicalizados e em seus ambientes de<br />

trabalho, identificando os fatores que levam ao<br />

adoecimento, permitirá construir pautas locais e,<br />

consequentemente, nacionais, vinculadas ao cotidiano<br />

do trabalho docente. A principal consequência dessa<br />

atuação é recuperar a percepção do docente em<br />

relação ao Sindicato, enquanto um espaço, de caráter<br />

local, no qual suas questões do trabalho acadêmico<br />

cotidiano são discutidas e encaminhadas, e de caráter<br />

amplo, relacionando-as com o conjunto de lutas da<br />

classe trabalhadora.

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