16.04.2013 Views

Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN

Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN

Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Debate Contemporâneo<br />

colocado acima do princípio de que todo cidadão<br />

tem o direito à educação, independente da classe<br />

social. A única forma justa de garantir este direito<br />

é assegurar a universalização do atendimento numa<br />

matriz pública. Os dados do ensino fundamental,<br />

etapa praticamente universalizada, mostram que a<br />

participação na oferta educacional do setor privado,<br />

quando esta é apenas e tão somente o direito de<br />

escolha de determinadas classes, não ultrapassa 10%<br />

a 15% das matrículas. Percentuais existentes antes<br />

deste patamar são provocados pela ausência do<br />

poder público na prestação do serviço.<br />

Para que o plano seja justo em termos federativos<br />

é necessário que a participação da União, dos Estados<br />

e dos municípios esteja próxima da capacidade<br />

tributária de cada ente federado. Os dados<br />

disponíveis mostram que a principal distorção está<br />

na participação da União e no comprometimento de<br />

quase metade dos recursos arrecadados por este ente<br />

federado, apenas para pagar os juros e amortizações<br />

da dívida pública. É imprescindível que o plano<br />

estabeleça claramente qual será a participação<br />

de cada ente no cumprimento de cada meta e no<br />

percentual de aplicação dos recursos em relação ao<br />

Produto Interno Bruto.<br />

É evidente que aplicar 10% do PIB em educação<br />

pública contraria a lógica conservadora vigente que<br />

prioriza o uso do fundo público para o pagamento<br />

da dívida pública. Recente estudo do Instituto de<br />

Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA indica que o<br />

gasto em educação pública gera um multiplicador em<br />

termos de PIB quase três vezes superior ao gasto com<br />

a dívida pública.<br />

152 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />

Realizando as simulações e detalhando<br />

por tipos de gastos dentro da área social,<br />

observa-se que no que tange ao multiplicador<br />

do PIB, o gasto social em educação tem o<br />

maior multiplicador entre os agregados que<br />

se investigou. Tudo mais constante, ao gastar<br />

R$ 1,00 em educação pública, o PIB aumentará em<br />

R$1,85, pelo simples processo de multiplicação<br />

da renda que esta atividade propicia. Enquanto<br />

isso, R$ 1,00 de produtos agropecuários ou<br />

oriundos da indústria extrativa de minérios<br />

que são exportados gera R$ 1,4 de PIB para o<br />

país. A título de comparação, o gasto de R$ 1,00<br />

com juros sobre a dívida pública gerará apenas<br />

R$ 0,71 de PIB. (IPEA, 2011, pp. 10 e 11)<br />

Para que o plano seja um indutor da valorização dos<br />

educadores ele precisa enfrentar o grande paradoxo<br />

existente no Brasil. Apesar do país figurar no cenário<br />

internacional como a 6ª economia do planeta, com<br />

imensas riquezas, o Brasil é um dos países mais<br />

injustos: 3º pior em distribuição de renda e o 84º<br />

em IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). Em<br />

Educação, somos o 68º colocado. A defasagem entre<br />

o salário médio dos professores, comparativamente<br />

ao salário médio de outros profissionais com igual<br />

escolaridade, é de 60%. Na educação básica, a maioria<br />

dos Estados e municípios ainda não cumpre a Lei do<br />

Piso Salarial Nacional do Magistério, que deveria<br />

garantir o valor ínfimo de R$ 1.451,00 como básico<br />

dos planos de carreira para uma jornada de até 40<br />

horas semanais e 1/3 da jornada destes profissionais<br />

com atividades extraclasse. Certamente, investir pelo<br />

menos 10% do PIB na educação pública constitui<br />

uma eficiente estratégia para ajudar o país a reverter<br />

esses vergonhosos indicadores.<br />

Por fim, um Plano precisa ser socialmente<br />

controlado, ou seja, os canais de monitoramento<br />

de sua execução não podem estar circunscritos<br />

aos ambientes institucionais. A população, de<br />

forma direta, deve ter a oportunidade de fiscalizar<br />

a qualidade da educação, a quantidade de vagas<br />

ofertadas e o bom uso dos recursos destinados para<br />

a educação.<br />

E diante dos enormes desafios que a educação<br />

brasileira continua vivenciando, sem audácia um<br />

plano não vai cumprir seus objetivos. Utilizamos<br />

estas palavras para caracterizar a necessidade de se<br />

inverter as prioridades atuais da política econômica,<br />

reverter à lógica compartilhada com o setor privado,<br />

rever o papel da União na prestação dos serviços<br />

educacionais, entre outras tarefas urgentes.<br />

Defender a bandeira dos 10% do PIB é a forma<br />

de que os educadores de nossa época possuem<br />

para manter viva a memória e a luta dos que nos<br />

antecederam na luta por uma escola pública de<br />

qualidade para todos.<br />

A INTERSINDICAL agradece ao ANDES por<br />

esta oportunidade.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!