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Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN

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Escritos Militantes<br />

história universal. Mesmo os países capitalistas<br />

mais avançados não haviam ainda chegado a esta<br />

elaboração no que se refere à educação das massas. O<br />

direito à educação dado as mulheres é parte de uma<br />

concepção política na qual a emancipação da classe<br />

não é possível sem a emancipação de todos e de todas<br />

que a envolvem, é concretamente superar a divisão<br />

sexual do trabalho onde caberia a mulher o espaço<br />

única e exclusivamente do privado. As bibliotecas,<br />

museus, antes restritos a poucos, foram abertos a<br />

toda a população, extinguindo o espaço privado de<br />

produção e socialização do conhecimento.<br />

O programa político da Comuna nunca foi um<br />

programa elaborado para a transição, a presença de<br />

lacunas e imprecisões foi justamente o que alguns<br />

autores como Engels (1986), Marx (1986), P. Luquet<br />

(1968), entre outros, identificaram como sendo um<br />

dos principais motivos e limites que levaram ao fim<br />

da Comuna de Paris. No que se refere à educação,<br />

esta questão era reiterada: no programa, votado<br />

unanimemente, não havia nada mais que ordens<br />

gerais sobre o tema da educação. Não há registro<br />

de qualquer discussão preambular que definisse as<br />

grandes linhas do programa. Segundo Dommanget,<br />

90 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />

O programa se limita a proclamar que para a<br />

revolução comunal, Paris prepara a “regeneração<br />

intelectual” da França, assim como a regeneração<br />

moral, administrativa e política. Cada francês,<br />

assim como cada homem, cidadão e trabalhador<br />

deverão ter ‘pleno exercício de suas faculdades e<br />

aptidões’. O ensino será organizado sobre a base<br />

da ‘autonomia absoluta’, acordada com cada<br />

distrito de Paris, desfrutando das liberdades de<br />

ação, reservando-se desenvolver e propagar a<br />

educação, bem como a produção, o câmbio e o<br />

crédito. (DOMMANGET, 1971, p. 201)<br />

Eram membros da Comissão de educação: Jules<br />

Vallès, Edmond-Alfred Goupil, Ernest Lefèvre, Raoul<br />

Urbain, Albert Leroy, Auguste Verdure, Antoine<br />

Mathieu Demay, Robinet e Jules Miot. Alguns destes<br />

nada tinham de experiência pedagógica, todavia<br />

eram comunards comprometidos com o processo de<br />

transformação radical. Um deles, Antoine Mathieu<br />

Demay era um dos membros da internacional<br />

comunista. Entretanto, o verdadeiro delegado de<br />

ensino, aquele que exerceu de fato a função foi<br />

Edouard Vaillant, que seria o líder do socialismo<br />

francês e da Internacional dos Trabalhadores. Era<br />

um homem de grande bagagem científica, além de<br />

formado durante 12 anos em estudos superiores.<br />

Ele foi correspondente de Feuerbach, entre outros<br />

pensadores contemporâneos. Para ele, a função da<br />

educação pública seria a união do pensamento e da<br />

ação, “a síntese faz o homem” (Dommanget, 1971:<br />

p. 200). Sua gestão não durou mais do que um mês.<br />

Ele expôs o orçamento da educação primária que,<br />

mesmo com todo o problema financeiro da Comuna,<br />

em 1871 era o dobro de 1870, chegou a 16.027,941<br />

francos (1971, p. 201).<br />

A autonomia absoluta é um dos elementos gerais<br />

apontados no programa. Implicou no direito de cada<br />

município abrir escola e votar as subvenções, suas<br />

regras de funcionamento, normas, entre outros, o<br />

que na prática representou para as províncias um<br />

perigo. Para Dommanget (1971), Vaillant sabia que<br />

a laicidade não poderia perder para a autonomia,<br />

sabia dos riscos que corria em relação a isso, todavia,<br />

eram os riscos de um processo revolucionário, que<br />

dificilmente poderiam ser evitados.<br />

Entre outras tarefas Vaillant foi responsável<br />

pela parte do programa de educação profissional<br />

na Comissão de Trabalho. O texto desta Comissão<br />

era claro em apontar que não poderia formar mais<br />

braços do que a indústria necessitava, um ou outro<br />

ramo específico, senão acabaria por provocar uma<br />

concorrência anarquista e nociva para a indústria<br />

e para a Comuna. Vaillant sabia que tinha que<br />

ter uma ação que deveria ser mais sólida do que o<br />

programa apresentado. A partir desta constatação,<br />

fora criada uma nova Comissão de Ensino, sendo<br />

necessário um maior aprofundamento sobre as ações<br />

para a nova Comissão que havia sido votada, agora<br />

eram: Coubert, Verdure, Miot, Vallès e Clement. A<br />

Comissão funcionava de modo bastante democrático,<br />

segundo Dommanget (1971), Vaillant apenas<br />

deliberava conjuntamente com seus camaradas.<br />

No entanto, os afazeres políticos dos membros da<br />

Comissão, mais gerais, impediam de aprofundar as<br />

discussões sobre educação. Estes comunards estavam<br />

envolvidos, sobretudo com a luta mais ampliada<br />

contra Versalhes e na defesa dos ataques e traições no<br />

interior da Comuna.

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