Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN
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Debate Contemporâneo<br />
tempo, compreender a lógica governamental no que<br />
diz respeito ao financiamento da educação para a<br />
próxima década.<br />
Em 2011, após intenso questionamento<br />
parlamentar e da sociedade civil, o governo enviou<br />
ao parlamento dois documentos complementares<br />
ao Projeto de PNE. O primeiro constitui uma Nota<br />
Técnica que justifica a escolha das metas quantitativas<br />
e do percentual de recursos públicos a serem investidos<br />
para viabilizá-las. O segundo documento é uma<br />
memória de cálculo dos custos do novo plano. Para<br />
compreender a proposta governamental é necessária<br />
uma leitura combinada dos três documentos.<br />
O novo esboço de Plano Nacional de Educação<br />
possuía um ambiente institucional mais favorável<br />
para que as reivindicações da sociedade civil fossem<br />
nele incorporadas. De um lado, pelo menos na<br />
simbologia, o país era governado por um governante<br />
oriundo das fileiras dos históricos defensores da<br />
escola pública de qualidade para todos. De outro<br />
lado, mais importante quanto a simbologia de<br />
esquerda, era o fato de o projeto estar sendo enviado<br />
após a realização de uma Conferência Nacional de<br />
Educação, evento precedido de intensa mobilização<br />
nos municípios. Infelizmente, a análise dos<br />
principais aspectos do projeto de lei contraria as duas<br />
expectativas anteriormente descritas.<br />
A proposta do PNE em discussão é orientada pela<br />
maior inclusão dos cidadãos na educação formal. Suas<br />
metas em relação ao acesso, caso cumpridas ao fim da<br />
próxima década, elevarão o percentual de cobertura<br />
escolar de forma significativa. Esta afirmação não<br />
impede que se demarquem problemas também<br />
neste campo, especialmente na meta de expansão<br />
do atendimento em creche, a qual propõe passar de<br />
23,6% para 50% de cobertura em dez anos, mas que<br />
rejeita a concepção majoritária no movimento social<br />
de que o atendimento na primeira infância deveria<br />
ser baseado em toda a demanda manifesta.<br />
Porém, o alcance das metas está condicionado,<br />
pelo menos em três importantes áreas, em uma<br />
lógica de compartilhamento da oferta com o setor<br />
privado, seja o denominado sem fins lucrativos, seja<br />
o denominado comercial.<br />
Esta lógica está presente na proposta de fomentar o<br />
atendimento em creche em instituições filantrópicas,<br />
148 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />
confessionais ou comunitárias. O texto não está<br />
criando uma modalidade inexistente, pelo contrário,<br />
o que o texto do PNE trouxe de novidade foi o<br />
soerguimento deste tipo de atendimento ao mesmo pé<br />
de igualdade aquele prestado diretamente pelo poder<br />
público. Dados disponibilizados pelo censo escolar<br />
mostram que nos últimos quatro anos o crescimento<br />
das matrículas em creche em tempo integral pública<br />
foi de 26%, mas o setor conveniado com o poder<br />
público (inclusive comercial) cresceu 62% no mesmo<br />
período. Diante da evidente dificuldade financeira<br />
para que os municípios cumpram a meta e dobrem<br />
o número de crianças atendidas em dez anos, o<br />
caminho escolhido pelo governo federal é o de<br />
incentivar formas mais baratas de atendimento.<br />
Aprofundamento da lógica<br />
de compartilhamento com<br />
o setor privado<br />
A lógica de compartilhamento também está<br />
presente nas estratégias de crescimento da oferta<br />
de ensino profissionalizante. Neste caso, mesmo<br />
antes da aprovação de sua proposta, o governo<br />
criou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino<br />
Técnico e Emprego (Pronatec), por intermédio da<br />
Lei 12.513/2011. Tanto o projeto do PNE, quanto a<br />
referida lei, estabelecem um estímulo ao crescimento<br />
da oferta de vagas gratuitas em instituições privadas<br />
do Sistema S e outras entidades privadas, por meio<br />
da concessão de bolsas. A participação privada<br />
na oferta de vagas no ensino profissionalizante<br />
em 2011 era de 56,3%. A estratégia do governo é<br />
manter ou aprofundar esta participação, por meio de<br />
audacioso programa de subsídios públicos ao setor<br />
privado. Tal postura diminui a pressão social sobre o<br />
governo federal e governos estaduais para que ocorra<br />
ampliação de suas respectivas redes educacionais<br />
profissionais.<br />
O texto em debate também não inova em relação<br />
a uma das principais deficiências do plano anterior,<br />
ou seja, não detalha por meta ou no percentual<br />
futuro de investimento em educação, qual será a<br />
parcela de responsabilidade de cada ente federado.<br />
O termo “regime de colaboração” está presente no