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Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN

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Escritos Militantes<br />

54 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />

conjugar a instrução primária com o trabalho<br />

na fábrica. Mas não há dúvida de que a<br />

conquista inevitável do poder político pela<br />

classe trabalhadora trará a adoção do ensino<br />

tecnológico, teórico e prático nas escolas<br />

dos trabalhadores. Também não há dúvida<br />

de que a forma capitalista de produção e as<br />

correspondentes condições econômicas dos<br />

trabalhadores se opõem diametralmente a esses<br />

fermentos de transformação e o seu objetivo,<br />

a eliminação da velha divisão do trabalho.<br />

(MARX E ENGLES, 1978, p.78 - grifos nossos)<br />

Na passagem intitulada Instruções aos Delegados<br />

do Conselho Central Provisório da Associação<br />

Internacional dos Trabalhadores, de 1868, Marx e<br />

Engels dizem: “Afirmamos que a sociedade não pode<br />

permitir que pais e patrões empreguem, no trabalho,<br />

crianças e adolescentes, a menos que se combine este<br />

trabalho produtivo com a educação” (1978, p. 68 –<br />

grifos do autor).<br />

E por educação, Marx entende (1978, p. 68):<br />

1. Educação intelectual.<br />

2. Educação corporal, tal como a que se<br />

consegue com os exercícios de ginástica<br />

e militar.<br />

3. Educação tecnológica, que recolhe os<br />

princípios gerais e de caráter científico de<br />

todo o processo de produção e, ao mesmo<br />

tempo, inicia as crianças e os adolescentes<br />

no manejo de ferramentas elementares<br />

dos diversos ramos industriais.<br />

Ainda, o papel social da educação, para o autor,<br />

é possível de ser entendido no parágrafo a seguir:<br />

“Esta combinação de trabalho produtivo pago com<br />

a educação intelectual, os exercícios corporais e a<br />

formação politécnica elevará a classe operária acima<br />

dos níveis das classes burguesa e aristocrática”.<br />

(MARX, 1978, p. 69)<br />

Nesses fragmentos, encontra-se a ideia primeira<br />

do trabalho como princípio educativo, que se associa<br />

à busca da transformação radical da sociedade,<br />

entendendo o trabalho como a atividade vital que<br />

constitui os seres humanos, conforme analisado no<br />

item anterior.<br />

Sobre a formação da geração futura, Marx e Engels<br />

mostram preocupação, uma vez que a mesma estaria<br />

impedida do ‘direito’ à educação. [...] “este relatório<br />

(1842) ficou esquecido durante vinte anos, período<br />

em que se permitiu que aquelas crianças crescessem<br />

sem a menor noção do que chamamos de moral, sem<br />

educação, sem religião ou afeto natural da família<br />

e se tornassem os pais da geração atual”. (MARX E<br />

ENGLES, 1978, p. 83)<br />

Nesse sentido é que perguntamos se a definição de<br />

politecnia, hoje difundida, corresponde aos principais<br />

vetores da concepção marxista de educação que, como<br />

vimos, articula o trabalho concreto – efetivamente<br />

realizado –, com a educação corporal, a compreensão<br />

do processo de trabalho e o domínio intelectual da<br />

técnica. Ainda, perguntamos se isso seria suficiente<br />

à educação da classe trabalhadora desempregada do<br />

século XXI, no caso, os sujeitos do MTD.<br />

Há aspectos absolutamente fundamentais na<br />

concepção marxista de educação, que apontam<br />

a educação da classe trabalhadora como sendo<br />

necessária para a emancipação e libertação da<br />

própria classe, mas não se pode esquecer que, à<br />

época de Marx, trata-se de um contexto fabril e de<br />

emprego na indústria, realidade que não é vivida<br />

pelos trabalhadores do MTD.<br />

Deste modo, compreende-se que a educação<br />

politécnica, enquanto entendi mento intelectual pelos<br />

trabalhadores do processo de trabalho e domínio<br />

técnico, como proposta de educação necessária à<br />

formação omnilateral dos desempregados do MTD é<br />

imprescindível, mas ao mesmo tempo não suficiente<br />

para a realidade dos trabalhadores, em situação de<br />

“demissão histórica”, compreendida como a que “nega<br />

historicamente aos sujeitos o direito ao trabalho”, na<br />

sociedade de classe (MACHADO, 2009, p. 24).<br />

No caso do MTD percebe-se, através dos dados<br />

sistematizados, que é fundamental a compreensão<br />

de que o conhecimento do processo de trabalho e a<br />

qualificação para tal não garante a busca de saídas<br />

coletivas. As inúmeras necessidades7 pessoais acabam<br />

por ser um complicador potente no momento<br />

da realização da proposta de trabalho coletiva.<br />

Esta reflexão, por sua vez, não anula nem mesmo<br />

desconsidera a importância da pro po sição de direitos<br />

sociais, pelo contrário, contribui ao processo reflexivo

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