Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN
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do Estado burguês, o fim das suas instituições. Em<br />
seguida foram criadas Comissões de Trabalho.<br />
Entre elas as comissões: Militar, Finanças,<br />
Justiça, Segurança Geral, Trabalho e Comércio<br />
de Subsistência, Relações Exteriores, Serviços<br />
Públicos e Educação. E sob esta última, iremos<br />
nos debruçar neste artigo. Lissagaray apontou os<br />
limites da proposta educacional, pelo fato de não<br />
ter conseguido se ampliar devido ao curto tempo de<br />
existência da Comuna, mas reiterou que esta seria<br />
uma das comissões mais importantes, pois carregaria<br />
a tarefa de formar as novas gerações (1991, p. 177).<br />
A revolução de 1871, que deu origem à Comuna<br />
de Paris, já trazia na sua bagagem e na dos seus<br />
insurretos, uma discussão prévia, ao mesmo tempo<br />
intensa, sobre a educação pública, que deveria ser<br />
gratuita e também ser puramente laica para todos e<br />
todas. A discussão anterior, com a contribuição de<br />
Mely, foi capaz de apontar as disputas de projetos<br />
em torno do que deveria ser a educação pública e<br />
laica. O legado deixado pela Comuna em relação à<br />
Educação foi maior do que os seus feitos concretos.<br />
Isso pelo fato de ter sido na Comuna o primeiro<br />
momento onde a Educação passa a ser vista como<br />
parte de um projeto revolucionário de sociedade,<br />
onde homens e mulheres livres são a condição para<br />
a construção do novo.<br />
Maurice Dommanget (1971) em “L’ enseignement<br />
sous la commune” traz elementos para o debate<br />
sobre os projetos de educação em curso no interior<br />
da Comuna. Todavia, o mesmo remonta um cenário<br />
onde golpes internos, traições, falta de membros<br />
qualificados, o isolamento de Paris, a falta de<br />
dinheiro, foram obstáculos concretos para garantir<br />
a premissa máxima da tarefa de<br />
reconstruir a nova<br />
sociedade<br />
e, portanto, uma nova educação. Indica também<br />
que não é possível esquecer que, durante os 72<br />
dias da Comuna, a preocupação central foi a luta<br />
contra Versalhes. A questão é que a Comuna não<br />
pode mesmo se ocupar como deveria da educação.<br />
“De fato, ela não pôde se ocupar dos problemas de<br />
ensino mais do que 53 dias, de 30 de março, dia<br />
seguinte da regularização da constituição, a 21 de<br />
maio, data da entrada da tropa de Versales em Paris”<br />
(1971, p. 198).<br />
Mesmo com todos estes limites e com a luta<br />
travada cotidianamente contra Versalhes, a educação<br />
passou a ser uma preocupação real e viva entre os<br />
revolucionários, segundo Dommagent. Era evidente<br />
a necessidade de edificar a educação pública. A<br />
Comissão de Ensino foi criada em 29 de março. É<br />
o marco da sua regularização. Entretanto, as notas<br />
desta sessão não indicavam nenhum dado sobre<br />
a discussão relativa à Comissão de Ensino, mas<br />
como todas as outras nove Comissões que foram<br />
criadas, compreendia-se que a tarefa era expedir os<br />
afazeres correntes e facilitar os projetos e decretos<br />
sobre determinado tema da Comissão. A Comissão<br />
deveria se ocupar de “reformar a educação”.<br />
Ela deveria preparar um decreto que<br />
tornava a instrução gratuita, obrigatória e<br />
exclusivamente laica. Ela estaria encarregada<br />
também de aumentar o<br />
número de bolsas nos<br />
liceus. (Dommanget,<br />
1971, p.199).<br />
A educação deveria<br />
ser pública, gratuita,<br />
obrigatória e laica<br />
para todos e todas. As<br />
meninas teriam acesso<br />
à educação formal,<br />
algo inédito na<br />
O direito à educação pública<br />
ANDES-<strong>SN</strong> n junho de 2012 89