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Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN

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Escritos Militantes<br />

seus temas centrais – marxismo, dialética, luta de<br />

classes, revolução, composição social do partido<br />

revolucionário, centralismo democrático, nazismo,<br />

guerra e, principalmente, a defesa da URSS –,<br />

demonstram que Leon Trotsky, ainda que envolvido<br />

pela atmosfera das Américas, jamais perdeu o fio do<br />

geral, relacionando dialeticamente as vicissitudes<br />

imediatas de uma temporada forçada (exílio) às<br />

questões mais vastas da teoria e da política.<br />

Os materiais que conformam a obra Em Defesa<br />

do Marxismo foram elaborados entre os anos de<br />

1939 e 1940, alcançando até praticamente dias que<br />

precederam o assassinato de Trotsky. Ao todo, há<br />

cerca de uma dúzia de artigos (uns longos e outros<br />

de bastante brevidade) e uma infinidade de cartas<br />

trocadas não apenas com James Cannon, dirigente<br />

do SWP, mas com todo um grupo de oposição que se<br />

forjou na seção norte-americana da IV Internacional,<br />

nomeadamente Max Shachtman, Martin Abern e<br />

James Burnham. Os missivistas são onze ao todo e<br />

com eles são tratados os assuntos mais diversificados<br />

que vão desde a guerra às disputas fracionais no seio<br />

do Socialist Works Party. No miolo das celeumas,<br />

sem dúvida, estavam discussões ao redor da natureza<br />

da URSS e se essa, portanto, deveria ser ou não<br />

defendida frente à ofensiva ideológica e militar do<br />

imperialismo. A oposição é caracterizada como<br />

pequeno-burguesa pelo velho revolucionário, rompe<br />

com o SWP e os seus cardeais vão girando cada<br />

vez mais à direita até se integrarem ao status quo<br />

da filosofia pragmática e da política conservadora<br />

norte-americana.<br />

Os embates que se deram em volta às questões<br />

já sugeridas revelam um dos traços da psicologia e<br />

da atividade política de Trotsky: a verve polemista.<br />

Concomitantemente, o velho revolucionário não<br />

economiza energia na defesa dos princípios, tradições<br />

e métodos marxistas. Nesta direção, ele já aportara<br />

– no tocante a esta preocupação – com um texto<br />

clássico do trotskysmo: o chamado Programa de<br />

Transição, cujo subtítulo é: “A agonia do capitalismo<br />

e as tarefas da IV Internacional”.<br />

O Programa de Transição foi aprovado em<br />

uma conferência clandestina no subúrbio de Paris<br />

(Périgny); conferência que deu origem ao Partido<br />

Mundial da Revolução Socialista – IV Internacional<br />

26 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />

(setembro de 1938). Quando esta acontece, Trotsky<br />

está na América Latina e de lá remete a proposta<br />

programática, que será aprovada pelos delegados<br />

conferencistas. Retrilhando as pegadas de Marx, ele<br />

oferece um horizonte programático que tem como os<br />

seus principais antecedentes o Manifesto comunista<br />

e as resoluções dos quatro primeiros congressos<br />

da III Internacional, ocorridos com Lênin ainda<br />

vivo. Tratava-se de salvar o legado marxista quando<br />

o mundo caminhava para uma nova catástrofe<br />

belicista. Nas palavras de Josef Weil,<br />

Era a sistematização teórica, programática, e<br />

também um método para a época imperialista,<br />

quando não era mais possível trabalhar como<br />

fazia a social democracia, com um programa<br />

mínimo de reformas parciais, deixando para<br />

um futuro remoto a questão do socialismo e<br />

da derrubada do capitalismo. Era necessária<br />

uma plataforma de transição entre as lutas<br />

mínimas e democráticas e a questão do poder<br />

(WEIL, 2004, p. 6).<br />

Esta plataforma-programa é composta de 20<br />

pontos cujo projeto inicial Trotsky apresentou –<br />

provavelmente – três meses antes da sua aprovação<br />

na Conferência de Périgny – em território americano.<br />

Este episódio se traduziu em uma discussão com<br />

dirigentes do Socialist Worker Party (SWP), que<br />

viria a se tornar uma das principais seções da IV<br />

Internacional, o Partido Mundial da Revolução<br />

Socialista (PMRS).<br />

Há, por conseguinte, um encadeamento entre a<br />

sua presença em continente americano e o gérmen<br />

do principal documento político-programático<br />

do trotskysmo como corrente internacional: o<br />

Programa de Transição. Neste sentido, não estaria no<br />

rol das coisas inexistentes supor que a elaboração do<br />

mencionado texto programático deva haver se dado<br />

em território mexicano, ainda que a discussão-chave<br />

com os seus partidários tenha ocorrido no seio da<br />

futura seção norte-americana.<br />

De Coyoacán (México), em 7 de junho de 1938,<br />

ele escreveu “completar o programa e colocá-lo<br />

em prática”, dando a entender que a plataforma<br />

programática estava pronta, mas ainda permanecia<br />

aberta às contribuições. Não a dava, portanto, como<br />

uma coisa fechada. Tratava-se, em última análise, de

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