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Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN

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que se vislumbrava foi tarefa central. Nem todos os<br />

educadores, mesmos os antigos, tinham certeza do<br />

que fazer, evidenciada a fragilidade da formação<br />

política, teoria numa perspectiva estratégica. Havia<br />

uma grande parte da literatura socialista que eles<br />

não conheciam. Não estavam atentos à resolução da<br />

Internacional sobre a educação; por outro lado, a luta<br />

contra o Império tinha absorvido todos os homens<br />

que de perto ou longe contribuíam com a Comuna, e<br />

o conteúdo concreto das formulações lhe escapavam<br />

(1971, p. 207).<br />

À guisa de uma conclusão:<br />

o caráter revolucionário da<br />

Comuna sob a ótica educacional<br />

Apesar do curto tempo de experiência<br />

revolucionária vivenciada na Comuna de Paris, foi<br />

possível identificar a existência de um debate rico a<br />

respeito do projeto de educação pública e popular<br />

que deveria ser construído no interior do projeto<br />

revolucionário. Nesta atual conjuntura, onde a<br />

conquista de uma educação pública, gratuita e de<br />

qualidade se faz necessária, recuperar os elementos e<br />

as discussões no interior da Comuna de Paris, auxilia<br />

na construção de novas estratégias.<br />

Elementos importantes foram identificados<br />

previamente à experiência da Comuna, como sendo<br />

estruturadores das propostas que acabaram sendo<br />

discutidas no período comunal. Este debate prévio<br />

evidencia que a construção do poder operário não se<br />

dá de modo metafísico e abstrato. Mély e Hobsbawn<br />

auxiliaram na recomposição deste processo, mostrando<br />

como as lutas anteriores possibilitaram condições<br />

concretas para o processo revolucionário. As lutas<br />

travadas em torno da República Social e da ampliação<br />

dos direitos em 1848-1851 revelaram que a consciência<br />

de classe é construída e forjada nos processos de luta<br />

real, onde lições e conclusões devem ser tiradas com<br />

o objetivo de superar os limites anteriores.<br />

Neste sentido, a educação passa a ser uma lente<br />

privilegiada para identificarmos este processo de<br />

ruptura e construção de uma nova sociedade. O<br />

historiador Roberto Ceamanos Llorens (2004),<br />

identifica que há mais uma leitura significativa<br />

sobre a Comuna, que se fortaleceu a partir de 1970.<br />

O debate sobre a Comuna ser o crepúsculo do ciclo<br />

revolucionário de 1789, em oposição às análises que<br />

a identificam como sendo a aurora da revolução<br />

proletária de 1917. O que ocorre é que ao identificar a<br />

Comuna de Paris como o crepúsculo da revolução de<br />

1789, acentua-se seu caráter republicano, no sentido<br />

de reforçar e consolidar as estruturas da democracia<br />

burguesa. Esta leitura compreende a Comuna de<br />

Paris como sendo um evento histórico que representa<br />

o coroamento do ciclo republicano e a concretização<br />

dos ideais defendidos na Revolução francesa.<br />

Avaliação esta distinta a uma leitura que a identifica<br />

como protótipo da revolução socialista de 1917, onde<br />

se objetivou a construção de uma nova sociedade e a<br />

ruptura, ou ainda destruição, da sociedade capitalista<br />

e das instituições da democracia burguesa.<br />

Não tratamos neste artigo de uma análise específica<br />

da Comuna, todavia, sob a lente educacional é possível<br />

trazer argumentos na tentativa de contribuir para este<br />

debate. De fato, o processo que culminou na Comuna<br />

de Paris, de 1871, não teve início neste mesmo ano.<br />

As raízes deste processo estão na Revolução Francesa,<br />

quando a classe trabalhadora travou a luta, mas não<br />

participou da “fartura” iluminista, assim como em<br />

meados do século XIX, nas insurreições de 1848-1851,<br />

quando foram lançadas as bases para a consolidação<br />

As lutas travadas em torno da República Social e da<br />

ampliação dos direitos em 1848-1851 revelaram que a<br />

consciência de classe é construída e forjada nos processos<br />

de luta real, onde lições e conclusões devem ser tiradas<br />

com o objetivo de superar os limites anteriores.<br />

dos antagonismos de classe, que como apontou Marx<br />

em Luta e Classes na França, possibilitou condições<br />

para a construção de um programa revolucionário<br />

para a classe trabalhadora.<br />

O debate a respeito do caráter da educação pública<br />

teve início no mesmo período, em meados do século<br />

XIX, e já neste momento foi possível identificar as<br />

diferenças de projetos de classes expressas na defesa<br />

e caracterização do tipo de educação laica que estava<br />

em questão. O discurso de “controle das paixões por<br />

liberdade” era o típico discurso republicano moderado,<br />

O direito à educação pública<br />

ANDES-<strong>SN</strong> n junho de 2012 93

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