Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN
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e Peru – foram<br />
observados casos<br />
muito semelhantes de<br />
regimes semidemocráticos,<br />
isto é, bonapartistas sui<br />
generis, que se colocando acima da<br />
luta de classes, resistiam parcialmente à<br />
dominação imperialista. 3<br />
Esse exemplo é uma demonstração de como o<br />
velho revolucionário procurou aplicar criativamente<br />
a teoria e o método de Marx. Tratava-se de tomar<br />
o modelo teórico de forma maleável e não como<br />
um saber irrespondivelmente talmúdico. Ou seja:<br />
o caráter típico de um fenômeno é típico somente<br />
em relação a uma determinada realidade. Em<br />
consequência, dever-se-ia admitir que Trotsky<br />
procurasse o desvelamento da particularidade da<br />
linha de evolução do bonapartismo, um fenômeno<br />
que deixou de ser unicamente europeu, mas que<br />
ao transbordar as suas fronteiras adotou as formas<br />
típicas que diziam respeito à realidade de outras<br />
regiões do planeta. Nesse sentido, é suficientemente<br />
plausível a fórmula do bonapartismo sui generis no<br />
que concerne à América Latina.<br />
Os benefícios particulares desta análise é que<br />
esta responde à concretude de uma realidade dada<br />
e isto é o que levou Trotsky, de modo intencional,<br />
a tornar a teoria mais operatória, aplicando-a sem<br />
desconsiderar a especificidade da América Latina,<br />
da sua cultura e das suas instituições.<br />
Nessa direção, de caso pensado, o velho Trotsky<br />
utiliza parte dos artigos e cartas para discorrer sobre<br />
temas tão ligados como o papel da burguesia latinoamericana,<br />
as suas relações com o imperialismo<br />
e a sua postura ante a possibilidade da ação<br />
revolucionária. Essas reflexões, de modo veemente<br />
ou de forma mais mediada, encerram certo grau<br />
de utilidade em relação ao Brasil, o que tentaremos<br />
demonstrar a partir de agora4 .<br />
Em termos<br />
categóricos, a<br />
burguesia latinoame<br />
ri cana, e a brasi-<br />
leira, em particular,<br />
se estabelece social,<br />
política e economi ca mente<br />
associada aos capitalistas dos<br />
países de economia central, já com<br />
esta devidamente assentada em uma ortodoxia<br />
petrificada: a da reação em todos os planos. Antes,<br />
fatos e frases dialogavam, ainda que de modo<br />
quebradiço; agora, tomam-se as frases por fatos.<br />
Em suma, a burguesia das economias dependentes<br />
– espremida entre o imperialismo e o proletariado<br />
– prefere se aliar com o latifúndio, internamente, e,<br />
apesar de uma ou outra escaramuça com o opressor<br />
externo, celebra com ele uma associação da<br />
qual resulta um nexo histórico insidioso. Assim,<br />
a burguesia aborí gine se deixa resignar aos<br />
limites impostos pela ordem imperialista vigente.<br />
Contenta-se com a função subalterna que cumpre.<br />
Explicitamente, não rege; deixa-se reger. Apraz-se<br />
em ser parte de uma orquestra sem ambicionar o<br />
lugar de solista ou regente.<br />
Há de se argumentar, com justeza, que existiram<br />
alguns momentos de radicalidade no terreno das<br />
A última fronteira - o marxismo aporta na América Latina<br />
ANDES-<strong>SN</strong> n junho de 2012 23