Revista Universidade e Sociedade - Andes-SN
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Escritos Militantes<br />
uma educação integral, unitária, capaz de unificar o<br />
trabalho manual e intelectual, entre outros.<br />
O fim do século XIX apresentou-se como um<br />
período de intensas disputas de projetos distintos<br />
de classe. A era de ouro do Capital, foi um período<br />
de muitas contradições capazes de, sobretudo na<br />
França, revelar e consolidar as diferenças estruturais<br />
das classes, jogando por terra e denunciando a<br />
fragilidade dos ideais de liberdade, igualdade e<br />
fraternidade franceses. Quanto mais a economia<br />
crescia e a indústria se desenvolvia, maior era a<br />
desconfiança e as contradições entre as classes<br />
sociais, ao mesmo tempo em que passava a existir um<br />
terreno onde a classe trabalhadora se via com maior<br />
autonomia e clareza política para se construir como<br />
classe para si e defender seus projetos e direitos. Pelas<br />
lentes do debate educacional, foi possível identificar<br />
que a classe trabalhadora estava disputando os<br />
rumos da educação no país. A defesa do “puramente<br />
laico” evidenciava uma concepção de educação<br />
antagônica, defendida pelas inúmeras frações de<br />
classe da burguesia, era a defesa da educação capaz<br />
de emancipar, através do ensino da história do povo e<br />
da compreensão do funcionamento da sociedade em<br />
que viviam.<br />
A educação na Comuna<br />
As condições de vida dos trabalhadores e dos<br />
pequenos proprietários às vésperas da Comuna<br />
eram de extrema pauperização e privação, tanto<br />
que, segundo Lissagaray (1991, p. 80), entre 13<br />
e 17 de março de 1871 ocorreram inúmeros<br />
protestos. Trabalhadores e pequenos proprietários<br />
foram largados a falência durante o estado de sítio<br />
estabelecido pelo Governo de Thiers, como pretensa<br />
forma de defender Paris do Estado prussiano. Fato<br />
que não se concretizou, pois os acordos estavam<br />
ocorrendo no alto escalão França-Prússia. Contudo,<br />
aos trabalhadores eram demandados sacrifícios em<br />
nome da nação francesa.<br />
88 UNIVERSIDADE E SOCIEDADE<br />
As mulheres partiram primeiro, como<br />
nos dias da revolução. As de 18 de março,<br />
curtidas pelo sítio, haviam recebido dupla<br />
ração de miséria – não esperaram seus homens.<br />
Rodearam as metralhadoras interpelando os<br />
chefes ‘è indigno o que estás fazendo aí’ – os<br />
soldados se calam (1995, p. 81).<br />
Paris tem o controle das armas e o apoio dos<br />
soldados e da população já no dia 18 de março, a manhã<br />
do dia 19 é despertada com a vitória da Comuna<br />
frente aos conservadores de Versalhes. Um Comitê,<br />
segundo Lissagaray, se identificou e foi identificado<br />
pelos trabalhadores como Comitê Central da Guarda<br />
Nacional, composto por proletários, em grande parte<br />
desconhecidos pela grande maioria da população;<br />
não se tratava de figuras públicas, parlamentares,<br />
representantes da burguesia. “Desde a manhã de<br />
10 de agosto de 1972 que Paris não via a ascensão<br />
de tantos desconhecidos.” Mas, afirma o autor, seus<br />
cartazes são respeitados, seus batalhões circulam<br />
livremente e ocupam sem resistência “isto porque a<br />
medida é justa” (1995, p. 90).<br />
Depois de convocadas as eleições, em 26 de março,<br />
as urnas confirmaram o apoio popular a Comuna de<br />
Paris. Como medidas da Comuna, a guarda nacional<br />
foi reconhecida como única força armada; foi abolida<br />
a “polícia de costumes”, assim como suprimido o<br />
serviço militar obrigatório e o exército permanente;<br />
as dívidas com aluguéis foram abonadas, assim como<br />
os penhores devolvidos aos seus respectivos donos.<br />
O salário dos representantes da Comuna eram<br />
salários delimitados pelas suas necessidades, salário<br />
de trabalhador, e os mandatos eram revogáveis; o<br />
Estado e a Igreja foram separados e todos os bens<br />
do clero foram considerados bens nacionais, em 8<br />
de abril foram retirados todos os símbolos religiosos<br />
das escolas. Foi garantido o direito às mulheres<br />
ao estudo. Os museus foram abertos a todos. A<br />
guilhotina foi queimada em praça pública como<br />
forma de protesto contra o antigo regime; as fábricas<br />
fechadas foram identificadas e a orientação era de<br />
que os trabalhadores as ocupassem e se organizassem<br />
numa grande federação.<br />
A Comuna foi uma experiência concreta da<br />
impossibilidade, segundo Marx (1986), de ocupar<br />
o Estado burguês. Para o autor, ficou evidente<br />
a necessidade de destruição das estruturas do<br />
mesmo. Neste sentido, os elementos acima citados,<br />
caminhavam para garantir na prática a destruição