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Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

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PAUTICULAIl DO REINO DE PORTUGAL 1 1<br />

olhos n'aquelle Senhor que nos manda lançar n'elle todos os cuidados,<br />

com certeza <strong>de</strong> nunca nos <strong>de</strong>semparar. Algumas vezes lhe dizia o mal-<br />

dito, que tudo quanto fazia era tempo perdido, que nada lhe havia do<br />

aproveitar, e em fim havia <strong>de</strong> ser seu: elle com todo o coração eniDeos<br />

respondia confiadamente : Melhor o fará meu bom Jesu, que por mim<br />

morreo.<br />

Passados oito annos d'esta vida, e crecendo <strong>Fr</strong>ei Pedro sempre em<br />

maiores gráos <strong>de</strong> amor <strong>de</strong> Deos, entrou todo o Inferno em nova raivo<br />

contra elle ; <strong>de</strong>ixarão artificios <strong>de</strong> palavras, e ciladas : começarão guerra<br />

<strong>de</strong>scuberta. As mais das noites o acometião os Demónios, e como em<br />

vingança do pouco caso que até então fizera <strong>de</strong> suas fantasmas, lhe fa-<br />

zião corporalmente cruéis perrarias; e huma noite passou tanto adianto<br />

a fúria, que como jogando com elle a pela, o arremeçarão contra o moi-<br />

mento, que está na capella on<strong>de</strong> erão suas penitencias (he sepultura <strong>de</strong><br />

hum fidalgo antigo do appellido <strong>de</strong> Albuquerque) do qual jogo ficou <strong>Fr</strong>ei<br />

Pedro com huma gran<strong>de</strong> ferida na cabeça : e durou ainda <strong>de</strong>spois tanto<br />

com grita, e estrondo infernal, que foi sintido dos <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>s a tempo que<br />

<strong>de</strong>cião pêra Matinas: e correndo todos á capella, porque já entendião o<br />

que podia ser, acharão o pobre Irmão estirado em terra, todo moido, o<br />

além da ferida arrepellado, e arranhado no rosto, e orelhas lastimosa-<br />

mente; assi foi levado em braços pêra a enfermaria. Gran<strong>de</strong> lastima fa-<br />

zia aos Religiosos o que cada dia lhe vião pa<strong>de</strong>cer por este modo: mas<br />

elle não <strong>de</strong>ixava o posto, nem temia a guerra: porque se muito perdia<br />

no corpo, vencia, e ganhava mais no espirito. Vindo ao Convento o Vi-<br />

gário da Observância (cargo que muitos annos durou em três Conventos<br />

d'esta província, que forão Bemfica, Azeitão, Aveiro, e então ainda con-<br />

tinuava) houve pareceres que fosse <strong>Fr</strong>ei Pedro pêra outra casa, a ver se<br />

a mudança do sitio lhe aliviava a persiguição. Mandou o Vigário a <strong>Fr</strong>ei<br />

Pedro Dias, Religioso insigne da mesma Observância, e eleito Prior <strong>de</strong><br />

Évora, que o levasse comsigo. O que elle fez com melhor vonta<strong>de</strong> do<br />

que foi a com que os pobres <strong>de</strong> Aveiro tomarão sua ida, os quaes quando<br />

ge adiarão sem elle vierão em bandos á portaria a fazer lamentações, e<br />

a queixar-se que em <strong>Fr</strong>ei Pedro lho tinhão tirado remédio, e remedia-<br />

do r.

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