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Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

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21^ LIVUO V DA mSTOUIA DE S. DO.MINGOS<br />

nação da filha, imaginava que os exercícios sanios continuados a diverti-<br />

rião do pensamentos, e vida secular, e se engolfaria tanto nos <strong>de</strong> Reli-<br />

giosa, que já lhe via am.ar, e seguir, que não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>spois dobral-a<br />

a seu intento: <strong>de</strong>terminou dar-se pressa em a casar. Entretanto (como<br />

o enemigo das almas tem muitas vezes leitores, que o servem <strong>de</strong> graça,<br />

enganados <strong>de</strong> boa tenção) não faltava em casa quem pers^eguia a santa<br />

donzella, ora acompanhando-a importunamente pêra a divertir do que<br />

chama vão malenconia, sendo gosto <strong>de</strong> estar só com o seu Uosarío, que<br />

era estar com celestial companhia: ora escon<strong>de</strong>ndo, e furtando-lhe os<br />

livros santos, em que só achava sabor. Mas não bastando nada pêra lhe<br />

torcer os olhos, e o animo do que já conhecia por melhor, acodio seu<br />

pai <strong>de</strong> súbito, e sem usar <strong>de</strong> preâmbulos, nem outro meio <strong>de</strong> querer<br />

<strong>de</strong>scobrir mais <strong>de</strong> seus pensamentos, fez-lhe saber que a tinlia casada.<br />

Era íilha, e obediente : e mais obediente pola mesma razão», que buscava<br />

a Deos: falou-se-lhe em cousa feita, que ao parecer não po<strong>de</strong>ria tornar<br />

atrás, beijoQ-lhe a mão em sinal <strong>de</strong> consentimento, não <strong>de</strong> alvoroço, nem<br />

gosto.<br />

Do pouco gosto, com que aceitou o estado, alem <strong>de</strong> outros sinaes,<br />

({ue se. lhe virão no rosto, foi hum <strong>de</strong> obra, que muito admirou a lodos<br />

os seus. Era o casamento com dom <strong>Fr</strong>ancisco Coutinho muito illustre<br />

em sangue, abastado <strong>de</strong> fazenda, e rico <strong>de</strong> pretenções por ser her<strong>de</strong>iro,<br />

e successor da gran<strong>de</strong> casa, e Condado <strong>de</strong> Marialva : e sobre tudo <strong>de</strong><br />

gentil presença,' e eni ida<strong>de</strong> ílorida, que não chegava a <strong>de</strong>zoito annos.<br />

Tanto que o casamento- esteve assentado, C!)ntinuava a rua da <strong>de</strong>sposada<br />

como bom galante, com passeios, e mostras <strong>de</strong> contente e aíTeiçoado. He<br />

cousa certa que, sendo persuadida dona Jeronyma por gente sua, não<br />

que lhe <strong>de</strong>sse vista <strong>de</strong> si, se não que o quizesse ver por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> huma<br />

janella sem ser vista, não houve quem- tal po<strong>de</strong>sse acabar com ella. Quem<br />

assi procedia no fervor da mocida<strong>de</strong> bem se <strong>de</strong>ixa enten<strong>de</strong>r como vivi-<br />

ria polo tempo adiante, quando o governo da casa, a criação dos filhos,<br />

os perigos, as doenças, e os mais cuidadas ordinários <strong>de</strong> casas gran<strong>de</strong>s,<br />

e casados, lhe forão mostrando que só vive com <strong>de</strong>scanço quem sabe fo^<br />

gir ao mundo. Po<strong>de</strong>mos dizer que todo o tempo <strong>de</strong> casada foi pêra elia<br />

i\um martyrio continuado. Porque a administração da casa, em que en-<br />

l(Mu]ia com diligencia <strong>de</strong> pru<strong>de</strong>nte mãi <strong>de</strong> famílias, levava-lhe muito tem-<br />

pe: a obrigação <strong>de</strong> sí^ compor, vestir, e toucar ao uso das casjulas mo-<br />

ças, e <strong>de</strong> sua calida<strong>de</strong> dava-lhe pena, e tristeza: porque alen> dé haver

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