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Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

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PARTICULAR DO REINO DE PORTUGAL i 3<br />

tratarem-no com pouco respeito, á conta <strong>de</strong> se enriípiecerem <strong>de</strong> siiris<br />

reliiiuins. Bem soube dizer hum gentio (I), (pie se a virtu<strong>de</strong> po<strong>de</strong>rá dar vis-<br />

ta <strong>de</strong> si, e <strong>de</strong> sua belieza, nâo liouvera olhos que po<strong>de</strong>ssem com a clari-<br />

da<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus raios, nem corações que do fogo <strong>de</strong> seu amor se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ssem.<br />

Não andava <strong>Fr</strong>ei Pedro pola terra, não visitava as casas, nem<br />

sabia as ruas: só era visto quando entre os pobres esfarrapados repar-<br />

tia pedaços <strong>de</strong> pão, e pouca comida, tão remendado, e tão pobre como<br />

olles. Mas estando escondido no canto <strong>de</strong> seu Mosteiro era conhecido <strong>de</strong><br />

toda liuma gran<strong>de</strong> cida<strong>de</strong> ; e d"entre aquelles remendos dava taes luzes<br />

a virtu<strong>de</strong>, que cegava olhos, e abrasava almas, quando vivo com sua<br />

presença, c <strong>de</strong>spois <strong>de</strong> morto com sauda<strong>de</strong>s d'ella.<br />

Os Religiosos, que mais sabião d'elie, e mais perdião em tal com-<br />

panheiro, liavendo que por ser como em causa própria esta vão obriga-<br />

dos a encobrir o Símtimenlo, e usar menos <strong>de</strong>monstrações, ílzerão to-<br />

davia este dia liuma assaz piadosa. Era tar<strong>de</strong> quando se <strong>de</strong>u lim à so-<br />

lenida<strong>de</strong>; fez-se sinal pêra o jantar, acodirão todos os Padres ao sitio<br />

em que se juntâo pêra entrar no refeitório (chamamos-lhe poio) mas não<br />

havia nenhum tão amigo <strong>de</strong> si, que em tal dia cuidasse em comer. Foi<br />

a junta pêra pedirem <strong>de</strong> acordo ao Prelado, que â honra do <strong>de</strong>funto comessem<br />

os pobres o jantar inteiro da Communida<strong>de</strong>. Deu o Prelado a<br />

licença: sahirão quatro Padres a repartil-o. Mas ainda aqui teve mais for-<br />

ça o amor <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>ei Pedro, que a fome, e necessida<strong>de</strong>: creceo a sauda-<br />

<strong>de</strong> nos pobres com a vista <strong>de</strong> novos repartidores, renovou-se o pranto<br />

com a falta do antigo. Não he género <strong>de</strong> encarecimento. Sobião os gri-<br />

tos ao Geo, as lagrimas, e suspiros não davão quietação, nem logar <strong>de</strong> co-<br />

mer: pedindo-ihes os Padres que comessem pola alma <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>ei Pedro, o<br />

elles pola mesma rezão per<strong>de</strong>ndo o gosto, e apetite da comida.<br />

Não se poz pedra nem letreiro na sepultura <strong>de</strong> tal Santo, que <strong>de</strong>cla-<br />

rasse o dia em que faleceo, e sinalasse o lugar em que foi lançado. Assi<br />

ficou seu corpo como o <strong>de</strong> Moysés, sabido o monte, mas ignorado o si-<br />

tio (2), Seguirão nisto os Padres d'aquelle tempo o brio, por não dizer <strong>de</strong>s-<br />

cuido, dos antepassados : e confessarão-no os successores, per<strong>de</strong>ndo a<br />

memoria do lugar certo em que jaz, não havendo duvida que he <strong>de</strong>ntro<br />

do Capitulo, Não quero culpar ninguém, por não renovar a cada passo<br />

magoas sem remédio: e dou-me por satisfeito com que <strong>de</strong>ntro se vê hoje<br />

(I] Marc, TuII. (2) Dcutcr. Si.

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