17.04.2013 Views

Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

PARTICL'LAI\ DO REINO DE PORTUGAL 139<br />

brica como autor principal cVella. Acabados os quatro annos <strong>de</strong> seu car-<br />

go, e alguns mezes mais, por Junho do anno <strong>de</strong> 1502, ficou-se no Con-<br />

vento <strong>de</strong> Lisboa, e n'elle residio <strong>de</strong>spois em quanto viveo.<br />

As occupações <strong>de</strong> sua vida sempre íorão as mesmas que dissemos<br />

<strong>de</strong> Évora até o ultimo suspiro. <strong>Da</strong> or<strong>de</strong>m que tinlia n'ella, e n'ellas di-<br />

remos agora alguma cousa. Levantava-se <strong>de</strong> ordinário ás quatro da ma-<br />

nha: gastava até ás seis, parte em oração mental <strong>de</strong> que foi sempre<br />

tâo gran<strong>de</strong> seguidor, como bom escritor; parte em se aparelhar pêra o<br />

santo sacrifício da Missa. Celebrava ás seis com tanta <strong>de</strong>vação, e reve-<br />

rencia, que movia muito a quem o via, e ouvia : e não lhe ficava dia sem<br />

este divino pasto, porque era lingoagem sua, que o melhor aparelho pêra<br />

elle era a continuação quotidiana, reprovando muito os que por medo,<br />

ou <strong>de</strong>masiada reverencia se privão <strong>de</strong> tamanho bem, que se nos dá <strong>de</strong><br />

graça; e o mesmo Senhor, que o dá, tem por honra sua aceitarmol-o.<br />

Seguia ao sacrifício oração, e graças : e hindo-se pêra a cclla chamava <strong>de</strong><br />

caminho quem lhe escrevia.<br />

O modo <strong>de</strong> escrever era mandando primeiro ler algum livro que ou-<br />

via por espaço <strong>de</strong> humahora: logo começava a dictar, passeando quasi<br />

sempre; e dictava até as <strong>de</strong>z. Então <strong>de</strong>spedia o escrevente, e tomava<br />

elle a pena, e escrevia até ás onze em matérias differentes das que linha<br />

(lidado. A horas <strong>de</strong> jantar <strong>de</strong>cia a comer sempre na Communida<strong>de</strong> o<br />

que n'ella se dava, não lhe esquecendo nunca <strong>de</strong>ixar boa parte pêra os<br />

pobres. Se algumas vezes jantava fora da mesa conventual por indispo-<br />

sição, ou por lhe ter tomado o tempo algum negocio forçado, fazia ler<br />

em quanto comia do que pola manham tinha dictado, e mandava riscar<br />

ou acrecentar o que lhe parecia. Isto fazia ou por não per<strong>de</strong>r o tempo,<br />

ou por não ficar comendo sem a lição que houvera <strong>de</strong> ter na Communi-<br />

da<strong>de</strong>. Levantado da mesa hia visitar os enfermos : e a visita não era só<br />

perguntar pola saú<strong>de</strong>, mas também se tinhão falta <strong>de</strong> alguma cousa,<br />

principalmente se erão hospe<strong>de</strong>s em que estava mais certa a necessida-<br />

<strong>de</strong>: e porque a modéstia não aceita oíTereci mentos, e a presumpção ordi-<br />

nária he contra elles, que por isso lhe chama o mundo comprimentos<br />

como cousa superficial, e que não tem raiz na vonta<strong>de</strong>, avisava os en-<br />

fermeiros que <strong>de</strong> segredo se informassem da verda<strong>de</strong>, e dando-lhe conta<br />

do que acliavão provia-os do que tinha com largueza. <strong>Da</strong> enfermaria bus-<br />

cava a conversação dos Padres on<strong>de</strong> estavão juntos, quando havia licença<br />

<strong>de</strong> pairar, e alegremente se <strong>de</strong>tinha com elles até meia hora : e tornan-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!