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Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

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126 LlVnO V DA HISTORIA DE S. DOMÍNGOS<br />

tório pêra fazer sinal, e vio juntamente os jarros vazios, o emborcados^,<br />

e chamou <strong>Fr</strong>ei Pedro, e repren<strong>de</strong>o-o. E não <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> fazer sinal, fo-<br />

râo entrando os Padres : e <strong>Fr</strong>ei Pedro foi correndo fazer sua diligencia<br />

ao poço. Mas antes que os Padres se assentassem, e eilo tornasse, foi<br />

cousa certa, que os jarros se adiarão todos direi tosf» e cheios <strong>de</strong> agoa<br />

fresca, e boa. Este caso teve por testemunhas o Prior com toda a Com-<br />

munida<strong>de</strong>. O que agora diremos contava <strong>Fr</strong>ei AíTonso das Vinhas, Irmão<br />

leigo seu contemporâneo, e pessoa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> quem ao dian-<br />

te faremos maior menção. E aílh^mão o Mestre <strong>Fr</strong>ei António <strong>de</strong> Sena na<br />

vida <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>ei Pedro, que compoz em Latim, e <strong>Fr</strong>ei André <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong> na<br />

que escreveo em vulgar, que o ouvirão <strong>de</strong> sua lioca.<br />

Era costume antigo, por dia da Santíssima Trinda<strong>de</strong>, dar-se no Con-<br />

vento meza franca a todos os que a querião (chamava-lhe vodo a lin-<br />

guagem do povo): ajuntava-se a ella o commum da cida<strong>de</strong>, e do termo<br />

com tão gran<strong>de</strong> concurso, que toda a casa. Igreja, claustros, e dormitó-<br />

rios estavão o dia inteiro abertos, e era a inquietação mui gran<strong>de</strong> do<br />

musicas, jogos, bailes, e folias, que tudo aco<strong>de</strong> on<strong>de</strong> ha comida. Quando<br />

amanhecia o Domingo da festa. <strong>Fr</strong>ei Pedro ouvia a primeira Missa que<br />

se diz <strong>de</strong> madrugada, e entregando as chaves a quem o Prior lhe nomea-<br />

va (os pobres não havião mister procurador em tal conjuncção, porque<br />

n'ella lhes sobejava tudo) encerrava-se em huma cella com humas pou-<br />

cas <strong>de</strong> ervas, que da tar<strong>de</strong> antes tinha colhido, e não sabia d ella senã *<br />

<strong>de</strong> noite. Dizia <strong>Fr</strong>ei Affonso, que notara alguns annos, estar a (^lía o<br />

dia todo ferrolhada por fora, e sendo noite abrir-se, sem haver pessoa<br />

que visse, nem soubesse quem tinha cuidado <strong>de</strong> ser porteiro. E que <strong>de</strong>-<br />

sejando alcançar o segredo d'isto, vigiara <strong>de</strong> propósito a porta ao tem-<br />

po, e conjuncção que costumava a sahir da clausura : e vira que se abria,<br />

e corria o ferrolho, estando pegada com ella huma sombra clara, e mui-<br />

to bem <strong>de</strong>visada, a qual virão <strong>de</strong>spois algumas vezes outros Religiosos,<br />

que com curiosida<strong>de</strong> se quizerão certificar. A causa <strong>de</strong> <strong>Fr</strong>ei Pedro se<br />

recolher assi julgamos que <strong>de</strong>via ser, além da perturbação que causão<br />

em hum bom espirito as <strong>de</strong>scomposiçôes populares <strong>de</strong> homens, e molheres<br />

em tempos semelhantes, querer fugir a vangloria dé ser visto, e tratado<br />

<strong>de</strong> tanta gente, quando todos o tinhão já por Santo, e como a tal o Iwii-<br />

ravão.

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