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Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

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130 LIVRO V DA HISTORIA DE S. DOMINGOS<br />

tado, e unido com a carne <strong>de</strong> muitos annos, que lh'o nâo po<strong>de</strong>rão tirar,<br />

senão cortado. E as Religiosas do Mosteiro <strong>de</strong> Nossa Senhora do Pa-<br />

raíso da cida<strong>de</strong> o pedirão, e guardarão com <strong>de</strong>vação em memoria <strong>de</strong><br />

seu dono. Fez-se o oíTicio da sepultura a portas fechadas no claustro : o<br />

foi sepultado no cemitério commum do Capitulo, na cova em que <strong>de</strong> al-<br />

guns annos atrás jazia o Padre <strong>Fr</strong>ei Álvaro Murzelo : efoi a rezão alem<br />

da que atrás tocamos, que largo tempo fora seu Padre espiritual. Não<br />

bastou tanta prevenção pêra encobrir o que se fazia : e concorreo tanta<br />

gente ao terreiro da Igreja, e batião com tanta força nas portas, (jue<br />

não faltava mais que pôrem-lhe machados pêra as arrombar. No dia se-<br />

guinte amanheceo no meio da Igreja huma eça honestamente composta<br />

pêra celebrar o otlicio funeral com a pompa <strong>de</strong>vida a tão benemérito fi-<br />

lho. Acodio a cida<strong>de</strong> toda com tanto numero <strong>de</strong> gente, que não havia<br />

quem se po<strong>de</strong>sse valer com aperto : e cuidando que tiuhão ali o corpo<br />

presente <strong>de</strong>scobrirão, e revolverão o tabernáculo, e tumba da eça algu-<br />

mas vezes. Foi solenizado o ofiicio com muitas lagrimas dos Religiosos,<br />

pranto do povo, e clamores <strong>de</strong>sconsolados dos pobres. Vierão celebrar<br />

no mesmo dia polo <strong>de</strong>funto <strong>de</strong>z Clérigos pobres, a que costumava dar<br />

<strong>de</strong> comer todos os dias com carida<strong>de</strong>, e respeito entre as duas porta-<br />

rias: e erão tantas as lagrimas, e soluços década hum, quando chegavão<br />

a dizer seu responso, que nem peito nem voz tinhão pêra o pronunciar.<br />

Ajudava-os a Igreja toda obrigada da dor própria, e da que via nelles :<br />

que po<strong>de</strong> muito no sentimento, como em tudo a companhia, e exemplo.<br />

Mas exce<strong>de</strong> quanto se po<strong>de</strong> escrever o que passou na sepultura, quan-<br />

do acabado o oíTicio se houve <strong>de</strong> cantar sobre ella o ultimo responso.<br />

Entrou o povo traz a Communida<strong>de</strong> sem ficar homem nem molher na<br />

Igreja : ali foi a força, e a confusão <strong>de</strong> novo, por chegarem a tocar a<br />

terra que cobria o corpo santo, e amado <strong>de</strong> todos, o pranto renovado,<br />

e trocado em gritos, e alarida, o canto dos Religiosos <strong>de</strong> maneira per-<br />

turbado, e interrompido, que nem pêra rezar se ouvião, nem pêra can-<br />

tíir íse eménuiao. Acabado tudo, não acabava a gente <strong>de</strong> se apartar do<br />

lugar, mostrando tal alTeição com elle, que parecia quererem <strong>de</strong>senter-<br />

rar o <strong>de</strong>funto. E não faltando receios disso nos Religiosos, fizerão ficar<br />

homens <strong>de</strong> guarda no Capitulo, que tar<strong>de</strong>, e com trabalho pu<strong>de</strong>rão ver<br />

<strong>de</strong>spejado. Então cahirão na conta, <strong>de</strong> quão acertado fora o conselho do<br />

enterro seci-eto. Porque segundo <strong>Fr</strong>ei Pedro era amado, e sua virtu<strong>de</strong><br />

cm alto gráo estimada., não houvera forças que po<strong>de</strong>rão tolher aos homens

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