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PARTICULAR DO REINO DE PORTUGAL f51<br />
como gente santa, e que na verda<strong>de</strong> o era. Mos correndo o tempo co-<br />
meçarão os Padres Menores, que por este tempo erão vindos a fundí^r<br />
em Santarém no sitio que hoje tem, a liaver por pesadaf a visinhança.<br />
Porque imaginando d'antes, que conx) aiquelle género <strong>de</strong> Religião fora<br />
principiado sem fundamento, assi caiiiria brevemente por si, vião agor»<br />
que levava caminho <strong>de</strong> se perpetuar: era a rezão, que as que faleciãa<br />
<strong>de</strong>ixavão as cellas a parentas ou amigas, que logo as pejavão : e não fal-<br />
tava quem <strong>de</strong> novo edificasse outras. E sintião os <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>s prantar-llies<br />
em suas portas hum mosteiro (que por tal o liavião já) <strong>de</strong> molheres. Fi^<br />
zerão primeiro requerimento aos <strong>Fr</strong>a<strong>de</strong>s do nosso Convento, pedindo-<br />
lhes, que pois aquellas molheres erâo já em tanto numero, que fazião<br />
hum bom mosteiro, e trazião o habito <strong>de</strong>? S. <strong>Domingos</strong>, e se davão por<br />
<strong>Fr</strong>eiras suas no vestido, na obediência, e no governe, quisessem tiral-as-<br />
(ia visinhança do Convento alheio, e passal-as pêra junta <strong>de</strong> si. Defen-<br />
<strong>de</strong>o-se o nosso Prior com a verda<strong>de</strong>, dizendo que as cliamadas <strong>Fr</strong>eiras<br />
sendo como erão emparedadas, Itie não pertencião a elle, nem á sua O<strong>de</strong>m<br />
em nada. Porque no temporal era cada huma senhora <strong>de</strong> si: e s<br />
no espiritual lhes acodia, como estava obrigado a todas as mais pessoas<br />
d'aq,uella villa quando o buscavão : e se o fazia com mais prontidão, não<br />
era respeito do habito, pois e^se tomado por eleição propna, e não dado<br />
por Prelado da Or<strong>de</strong>m, pooca obrigação lhe punhão : senão por ser gen^<br />
te que procedia com gran<strong>de</strong> exemplo <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>,, e muitas cí'ellas erão<br />
do melhor da viila : e buma cousa, e outra as fazia não só dignas <strong>de</strong> fa-<br />
vor, mas também <strong>de</strong> veneração. E pola mesma rezão fícavão elles Padres<br />
Menores obrigados a não as inquietar. Não se <strong>de</strong>rão etles por satisfeitos<br />
<strong>de</strong> resposta tão justificada, e pozerão iogo o negocio em praça, e em li-<br />
tigio, requerendo juntamente as emparedadas pêra <strong>de</strong>spejarem o sitio.<br />
He <strong>de</strong> advertir per» o diante,, que os escrivães dos autos, quena conten-<br />
da se processarão, como se fazião em Latim, quando falão nestas molhe-<br />
res lhe chamão D&minas: que he o primeiro fundamento, que achamos<br />
pêra n'esle nosso Mosteiro começar o nome <strong>de</strong> Dominas, que hoje dura..<br />
Advogou polas emparedadas virtu<strong>de</strong>, e nobreza, e » posse em que esta-<br />
vão. E como os Reis d'este Reino por sua muita Christanda<strong>de</strong> vigiarão<br />
sempre sobre a quietação, e bom governo das Religiões, que era gran<strong>de</strong><br />
meio pêra a observância amlar em sen ponto : eí-Rei dom Aífonso ter-<br />
ceiro, que então reinava, aíTeiçoado a huma, e outra Or<strong>de</strong>m, escreveo<br />
logi) aos Geraes <strong>de</strong> ambas <strong>de</strong>ssem traça como a q^uestão se <strong>de</strong>finisse ex-