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Da Vida de São Domingos – Fr. Luís de

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PARTICULAR DO REINO DE PORTUGAL 6íl<br />

do-lhe possibilida<strong>de</strong> pêra pagar a quem liras tirasse, oíTereceo-a com<br />

huma Missa á Santa, e com conílança que ella faria o oíTicio do catarateiro.<br />

E não se enganou ; que <strong>de</strong> seu altar levou a cega pêra casa com<br />

vista perfeita.<br />

Estranho, e espantoso caso foi, que andando hnm minino <strong>de</strong> mama'<br />

com humas moedas <strong>de</strong> cobre na mão, como esta ida<strong>de</strong> tudo leva á boca,<br />

engolio huma das maiores que nos tempos passados valia <strong>de</strong>z réis, e<br />

agora vai três. Ainda que por então não slntia dano, tinha a mãi por<br />

certo que não po<strong>de</strong>ria viver longo tempo. Fazia continua oração á Santa<br />

pedindo-lhe remédio. x\lcaiK;ou-lh"o ella <strong>de</strong> quem tudo po<strong>de</strong> tal, que a<br />

cabo <strong>de</strong> hum anno lançou o filiio a moeda sem nenhum dano.<br />

No anno <strong>de</strong> 1597 andava na villa huma molher natural d'ella, que<br />

vivia <strong>de</strong> esmolas, e <strong>de</strong> muitos tempos atrás era tão aleijada, que a rasto<br />

liia buscando polas ruas o remédio <strong>de</strong> sua sustentação. Chegando-se a<br />

festa da Santa, que este anno cahio aos quatro <strong>de</strong> Maio, <strong>de</strong>terminou-se<br />

em lhe fazer dizer huma Missa, e encomendar-lhe a miséria <strong>de</strong> sua vida:<br />

arrastou-se por todas as ruas, como sohia, pedindo esmola pêra ella: c<br />

tirando da boca pêra acodir á sua <strong>de</strong>vação, foi cousa vista por todo este<br />

povo que a conhecia, e celebrada com geral espanto : acabada a Missa,<br />

se lhe acabou a aleijão, e se levantou em pé direita, e sã, e assi foi<br />

pêra sua casa.<br />

Duas molheres ambas enfermas dos peitos <strong>de</strong> maneira que huma<br />

não podia viver <strong>de</strong> dores (esta era molher <strong>de</strong> Gaspar Alvares <strong>de</strong> Almim),<br />

a outra esperava acabar <strong>de</strong>pressa, porque sabidamente tinha já cancro.<br />

Soccorrerão-se á Santa, e sem outra medicina alcançarão perfeita saú<strong>de</strong>.<br />

Não espantou menos, nem lie menos <strong>de</strong> notar o que agora diremos.<br />

Cahio do alto <strong>de</strong> huma torre do muro da villa (cliama-se a torre <strong>de</strong> S.<br />

<strong>Domingos</strong>) hum pobre homem, e quebrou huma perna <strong>de</strong> sorte, que os<br />

ossos <strong>de</strong>ntro se lhe fizerão todos não só em pedaços, mas quasi em pó,<br />

e como arêa : <strong>de</strong>spois <strong>de</strong> gastada a sustancia da fazenda com cirurgiaens,<br />

e varias curas, ficou pendurado sobre humas muletas, e así5Í passava com<br />

muito trabalho. He morte pêra os pobres vida sem saú<strong>de</strong>, faltando pés,<br />

e mãos pêra ganhar a mantença. Encomendou-se á Santa com muita efi-<br />

cácia : resucitou d'esta morte por seus merecimento : e ficando <strong>de</strong> todo<br />

são, e valente, offereceo em memoria do beneficio as muletas ao altar, e<br />

n"elle estiverão muito tempo <strong>de</strong>penduradas, fazendo-se pregoeiras do<br />

trabalho, e remédio do quem as <strong>de</strong>ixou, e do valor da Santa.

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